PT nega movimentação para ter Erundina de vice de Haddad em São Paulo, mas vê indicação com bons olhos

Ex-prefeita aguarda decisão de seu partido. Em maio, Haddad já havia dito à Rede Brasil Atual: 'Muito me honraria'. Para cientista político, chapa com ambos teria feição ideológica mais clara

Erundina não comenta. Espera decisão do partido (Foto: Valter Campanato/ ABr)

São Paulo – O líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto, afirmou que “não há impeditivos” para a candidatura da deputada federal Luiza Erundina (PSB) como vice-prefeita de São Paulo, na chapa de Fernando Haddad (PT). A decisão deve ser anunciada amanhã (15) pelo presidente do diretório municipal do PSB, vereador Eliseu Gabriel.

“Pela sua representatividade, o PT considera que o PSB tem condição de indicar o vice para a prefeitura de São Paulo e da nossa parte não há impeditivo para a candidatura de Luiza Erundina”, afirmou Tatto. “Acreditamos que ela pode agregar muito, inclusive em número de eleitores, principalmente nas periferias e entre os movimentos católicos. Com ela podemos unificar os setores progressistas de São Paulo”.

Procurada pela reportagem, a deputada não quis se pronunciar sobre a possível candidatura: “Estou aguardando o posicionamento do partido sobre o tema.”

Há mais de um mês, em 7 de maio, Haddad fora provocado pela reportagem da Rede Brasil Atual sobre um suposta chapa ao lado da ex-prefeita. O petista foi diplomático, e respeitou o papel dos partidos que compuserem a aliança na definição. Mas admitiu gostar da ideia. “Muito me honraria”, afirmou.

O coordenador da campanha de Haddad, vereador Antonio Donato (PT), negou que haja movimentação interna no partido para apoiar a candidatura de Erundina como vice-prefeita. “A decisão cabe apenas ao PSB. Porém, nós vemos com bons olhos a candidatura da deputada, pela sua história política na cidade”, afirmou. “Ela pode agregar muito para a chapa em imagem e perfil”. 

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Entrevista

Dupla Haddad-Erundina tem perfil progressista mais nítido, diz cientista

Para o cientista político Francisco Fonseca, professor da Fundação Getúlio Vargas, a presença de Luiza Erundina deixaria a chapa com uma conotação político-ideológica clara. “O fato de um político como Fernando Haddad, uma liderança jovem, e uma experiente e muito importante deputada e ex-prefeita de São Paulo estarem juntos sinaliza um programa, uma candidatura e um compromisso progressista”, declarou em entrevista a Marilu Cabañas, na Rádio Brasil Atual. Confira trechos da entrevista:

Como o senhor vê a possibilidade da Luiza Erundina, deputada federal, do PSB, ser a vice do pré-candidato Fernando Haddad?
Me parece bastante positivo do ponto de vista de a cidade de São Paulo ganhar uma candidatura com uma conotação político-ideológica mais clara. Não podemos esquecer a declaração, muito sintomática dos tempos atuais que vivemos no Brasil, do prefeito Kassab, dizendo que seu partido não é nem de direita, nem de centro, nem de esquerda. É claro que por mais que seja um partido conservador – o Kassab é um político conservador e seu partido reúne basicamente figuras conservadoras –, a declaração de que o partido não estaria vinculado nem ao centro, nem à direita, nem à esquerda, é simbólica. Até porque o PSD, o partido do Kassab, está alinhado com os mais diversos governos do Brasil inteiro. O fato de um político como Fernando Haddad, uma liderança jovem, e uma experiente e muito importante deputada e ex-prefeita de São Paulo estarem juntos sinaliza um programa, uma candidatura e um compromisso progressista, de realmente transformação. A cidade de São Paulo não é uma cidade dos trabalhadores, das pessoas que mais precisam do poder público. Cada vez mais, ela está marcada como a cidade do capital, das classes médias e superiores e não propriamente como a cidade de quem precisa sobretudo do poder público. Então me parece que a eventual união entre Fernando Haddad e Luiza Erundina sinaliza um compromisso com mudanças.

Dentro do próprio PSB, parece haver uma certa surpresa da própria Erundina.
O PSB, capitaneado pelo governador Eduardo Campos, de Pernambuco, é um partido ascendente. Vem ganhando governos estaduais e prefeituras importantes e sua bancada no Congresso Nacional vem crescendo. E o próprio Eduardo Campos é um pré-candidato à Presidência da República. E, nesse sentido, torna-se um partido muito pragmático, com alianças muito pragmáticas. Então, é claro que lideranças mais ideológicas, como a Luiza Erundina, – e isso tem acontecido com todos os partidos que têm um sentido mais programático – acabam ficando com menor espaço. Nesse sentido, realmente, parece uma surpresa, no entanto, muito positiva, pelo histórico da gestão da prefeita Luiza Erundina, da sua participação na vida pública brasileira.

Quando Marta Suplicy tentou se reeleger, em 2008, cogitou o nome de Luiza Erundina como vice, porém a sugestão não foi aceita. O resultado das eleições poderia ter sido diferente?
É muito difícil pensar a história no condicional, fazer conjecturas: se fosse… É quase uma aposta. Mas, de qualquer maneira, sabemos que a Luiza Erundina tem uma imagem muito positiva. E mais ainda: ela é realmente vista, mesmo por seus adversários, como alguém muito coerente. Me parece que isto é um elemento muito importante no momento em que vivemos, e não me parece que tenhamos segurança pra dizer que isto mudaria o rumo de uma eleição, mas certamente daria uma credibilidade e uma coerência que está faltando na vida política brasileira.

No PT também?
Sem dúvida. O PT é um partido cada vez mais pragmático e menos programático, ou seja, muito mais um partido do poder, do que propriamente um partido com um programa claro e coerente. Isso é um problema para o sistema político brasileiro como um todo. Se isto de fato ocorrer, me parece um momento importante.