Para Lula, países ricos punem vítimas da crise e premiam culpados

O ex-presidente considera equivocado o corte de investimentos e de direitos trabalhistas como remédio para a crise (Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula) São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da […]

O ex-presidente considera equivocado o corte de investimentos e de direitos trabalhistas como remédio para a crise (Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula)

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva culpou hoje (3) os governos dos países ricos pelas tentativas de saída da crise que afeta boa parte do mundo. Durante discurso realizado em seminário organizado pelo BNDES, no Rio de Janeiro, ele lamentou que as nações desenvolvidas apostem em cortes de investimentos públicos e de benefícios dos trabalhadores como formas de combater os problemas. 

“Pedem austeridade aos povos, aos trabalhadores e aos governos dos países mais frágeis economicamente. Mas, ao mesmo tempo, aprovam pacotes e pacotes de injeção de recursos no sistema financeiro, justamente nos setores responsáveis pela ciranda especulativa que provocou a crise que estamos vivendo”, disse, no segundo discurso após ser anunciada a cura de um câncer na laringe, detectado em outubro do ano passado.

No seminário, que tratava das relações entre Brasil e África, ele criticou os organismos multilaterais, como Fundo Monetário Internacional (FMI) e G20, por não conseguirem impor caminhos conjuntos de superação da crise, iniciada em 2008 e com desdobramentos nos últimos dois anos. “Olho para a evolução da crise e constato com tristeza que muitos governantes nos países ricos continuam movidos pela mesma lógica que produziu a crise de 2008, ainda não resolvida. Uma lógica que pode ser resumida assim: ao sistema financeiro, todo o apoio para que não sofra com a crise; aos trabalhadores, aos aposentados, aos mais frágeis, aos países mais pobres, nenhum socorro.”

A posição adotada pela União Europeia e pelos Estados Unidos frente à crise também é alvo de críticas da presidenta Dilma Rousseff. Ela entende que a solução é o estímulo ao crescimento econômico e à geração de empregos. Esta semana, os países da zona do euro anunciaram que a taxa média de desemprego na região foi a 10,9% em março, recorde. Espanha, com 24,1%, e Grécia, com 21,7%, são as campeãs de cidadãos excluídos do mercado de trabalho – são também duas das nações que sofreram os pacotes de restrição mais pesados, com a aposta de uma recessão que pode se arrastar por até uma década. 

Para o ex-presidente, o caminho adotado pelos países africanos, de integração voltada à produção, é o mais correto. “A União Africana está certa: o momento é de ousadia e não de passividade. A hora é de união e não de divisão. O tempo é de solidariedade entre nações, não de opressão dos mais fortes sobre os mais fracos”, disse Lula, destacando a possibilidade de construção de uma relação respeitosa entre o continente e o Brasil. “Em lugar de ficarmos paralisados diante da crise internacional, que não foi criada nem por brasileiros, nem por africanos, precisamos estreitar ainda mais nossos negócios e nossas relações econômicas.”

Esta é a segunda viagem do ex-presidente desde que foi anunciada a cura da doença. Na semana passada, ele esteve em Brasília ao lado de Dilma para assistir ao documentário de Ricardo Stuckert, ex-fotógrafo oficial do Planalto, sobre os últimos dias de seu governo. Amanhã (4), Lula participa de uma cerimônia de concessão conjunta de cinco títulos de doutor honoris causa por universidades fluminenses. 

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