PT e PMDB abrem temporada de crises entre aliados no Rio

Rio de Janeiro – O ano político começou no Rio de Janeiro com a possibilidade de desmantelamento de algumas alianças que pareciam consolidadas para as eleições municipais de outubro. O […]

Rio de Janeiro – O ano político começou no Rio de Janeiro com a possibilidade de desmantelamento de algumas alianças que pareciam consolidadas para as eleições municipais de outubro. O caso mais grave ocorre no bloco, formado por PMDB e PT, que governa o Estado e a capital nos últimos anos, e pode ameaçar a reeleição do prefeito Eduardo Paes. Na oposição, as alianças alinhavadas entre o PV e o PSOL e entre o DEM do ex-prefeito Cesar Maia e o PR do ex-governador Anthony Garotinho também passam por momentos de reavaliação após encontros partidários e entrevistas concedidas à imprensa nos últimos dias.

Do ponto de vista programático, PT e PMDB têm muito pouco em comum no Rio de Janeiro. Entretanto, a aliança firmada em torno do governo de Sérgio Cabral, e mais tarde ampliada no apoio a Paes, forjou uma unidade que se dá muito mais em função do compartilhamento da condução de grandes projetos – como a revitalização da Zona Portuária ou as obras para as Olimpíadas de 2016 – do que por afinidade política. Desde o fim do ano passado, no entanto, o acirramento da disputa interna entre petistas e peemedebistas pela sucessão de Cabral faz com que a vulnerabilidade da aliança entre os dois partidos venha se tornando cada vez mais visível.

A crise veio à tona quando o presidente do PMDB no Rio, Jorge Picciani, afirmou que o partido não iria apoiar os candidatos petistas em cidades como Niterói, Petrópolis, Maricá e Mesquita, entre outras consideradas estratégicas pelo PT e colocadas no acordo como contrapartida ao apoio a Paes na capital. Em entrevista ao jornal carioca O Dia, Picciani chegou a afirmar que os prefeitos do PT nas cidades do interior do Rio de Janeiro “não souberam preparar seus substitutos” e que alguns deles na Região Serrana “ficaram com fama de ladrão” após a tragédia das chuvas no ano passado.

A movimentação política do PMDB a partir de então foi encarada por parte da direção do PT como traição ao acordo firmado, o que motivou o partido a divulgar uma nota atacando Picciani. “Acreditamos que as opiniões desrespeitosas expressas pelo presidente do PMDB não sejam compartilhadas pelo governador Sérgio Cabral e pelo prefeito Eduardo Paes. Uma aliança política é sustentada por um projeto comum, respeito mútuo e diálogo democrático”, diz o documento divulgado pela direção regional do PT. A nota afirma ainda que Picciani “teve comportamento truculento e impróprio” com o partido aliado.

Cabral e Paes, no entanto, ainda não se manifestaram publicamente sobre a crise na aliança, o que só fez reforçar no PT o movimento por uma candidatura própria. Essa alternativa já é debatida por diversas tendências petistas no Rio: “A decisão de apoiar Eduardo Paes foi tomada pela cúpula do PT e não tem legitimidade por não ter ouvido as bases do partido. Não bastasse isso, se concretizar essa aliança, o PT do Rio cometerá um erro histórico. Será a primeira vez que o partido não terá candidato próprio à prefeitura e, o que é pior, sairá às ruas pedindo votos para um projeto político conservador e contestado pelas bases petistas”, diz o deputado federal Alessandro Molon, candidato derrotado do PT a prefeito do Rio nas eleições de 2008.

A disputa entre petistas e peemedebistas que explode antes das eleições municipais tem como pano de fundo a sucessão no Governo do Estado. O PT tem no senador Lindbergh Farias seu candidato natural, mas esbarra na vontade que tem o PMDB de fazer do vice-governador Luiz Fernando Pezão o sucessor de Cabral. As cartas estão sobre a mesa, mas ainda há muito jogo para ser jogado, como atesta Lindbergh, que não confirma nem desmente um possível rompimento do acordo em torno de Paes: “Estamos colocando o PMDB como aliado, mas eles estão nos tratando como inimigos”, diz. Picciani, por sua vez, provoca o “aliado” petista: “Se o Lindbergh quiser ser vice do Pezão em 2014, não há problema. Se quiser ser candidato, vamos respeitar e derrotá-lo”. 

Oposição

Outra aliança anunciada desde o ano passado que passou a ser questionada neste início de 2012 é a que une Anthony Garotinho e Cesar Maia em torno da chapa reunindo seus filhos – o deputado federal Rodrigo Maia (DEM) e a deputada estadual Clarissa Garotinho (PR) – para disputar a prefeitura do Rio. As dificuldades encontradas pelos dois grupos políticos em definir os detalhes do acordo levaram o ex-governador a fazer um apelo público para que Cesar concorresse no lugar do filho: “O candidato mais adequado é o Cesar. Ele é capaz de levar a eleição ao segundo turno”.

A proposta, feita por intermédio da imprensa, foi encarada como provocação pelo DEM e mereceu resposta imediata de Cesar: “Não há nenhuma chance de eu ser candidato a prefeito novamente. Há que se abrir espaço às novas gerações políticas. A política exige renovação”, disse o ex-prefeito. Para apagar o incêndio que se seguiu a esse episódio, Garotinho e Rodrigo Maia deram juntos na quarta-feira (1) uma entrevista coletiva para convocar para 27 de fevereiro um ato organizado conjuntamente pelos dois partidos: “DEM e PR vão divulgar uma carta de intenções com propostas de governo”, anunciou Rodrigo Maia. Os partidos não confirmaram se neste dia Garotinho e Cesar subirão pela primeira vez na vida em um mesmo palanque.

A possível aliança entre o PSOL e o PV em torno da candidatura do deputado estadual Marcelo Freixo à prefeitura do Rio de Janeiro também passa por um momento de instabilidade. Ganha corpo nas discussões internas do PV a alternativa por uma candidatura própria, apesar de o setor dos verdes, que é mais próximo ao grupo da ex-ministra Marina Silva, atualmente sem partido, preferir a aliança. A direção do PV fez uma primeira reunião no sábado (28) para começar a decidir que rumo tomar. Se optar pela candidatura própria, os nomes mais fortes são o da deputada estadual Aspásia Camargo e o do ex-superintendente do Ibama no Rio, Rogério Rocco.

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