Padilha evita criticar Kassab por excessos na ‘cracolândia’, em São Paulo

Ministro da Saúde ensaia alinhamento com atuação da PM no centro da cidade e garante que ações do governo previstas para o tratamento de usuários do crack serão iniciadas até março

Padilha foi o primeiro representante do governo federal que visitou a Cracolândia após o início da Operação Sufoco (Foto: ©Apu Gomes/ Folhapress)

São Paulo – Na primeira visita oficial de representante do primeiro escalão do governo federal à capital paulista após o início da Operação Sufoco na região da Luz, no centro da cidade, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou nesta quarta-feira (18) que foi mantida a previsão de aplicar, a partir de março, o plano de enfrentamento ao crack. O conjunto de ações da União foi anunciado no final do ano passado e prevê condução dos trabalhos em conjunto com a administração da cidade e do estado.

Ao lado do prefeito Gilberto Kassab (PSD), Padilha disse nesta quarta-feira (18) que “ninguém tem condições de resolver o problema (da epidemia do crack) sozinho”. Evitou críticas e atritos relacionados ao fato de a Polícia Militar e a Guarda Civil Metropolitana terem se antecipado à chegada dos reforços federais.

O ministro esquivou-se de questionamentos sobre a adequação da medida na região, taxada como “cracolândia” por concentrar, em algumas ruas, usuários e traficantes da droga durante o dia todo. A repressão policial é considerada excessiva e abusiva por defensores de direitos humanos e por pessoas que trabalham com a recuperação de dependentes químicos.

“Eu comento aquilo que compete ao Ministério da Saúde. O governo não foi informado do início da operação por aqui, e nem precisava ter sido”, resumiu Padilha. Órgãos federais repassaram um montante de R$ 3,2 milhões na primeira etapa do plano a ser iniciado em março, e enviarão 16 equipes de saúde para o centro de São Paulo até abril. Ao todo, serão investidos R$ 6,4 milhões.

“Desde que desenhamos o plano, pensamos muito no problema do estado e da cidade de São Paulo”, disse Padilha. Uma das críticas a respeito da “Operação Sufoco”, que conta com grande contingente da Polícia Militar, foi de não ter aguardado a chegada das ações do governo federal, mais complexas e elaboradas, além de priorizar tratamento dos usuários.

Kassab declarou estar traçando “planos conjuntos” e garantiu que as ações estão sendo compostas com diálogo entre a prefeitura, o Ministério da Saúde e as secretarias municipal e estadual de Saúde. Ele deu o aval para o início das medidas ostensivas da PM em 3 de janeiro, junto com o governador Geraldo Alckmin (PSDB). “Esta integração plena hoje é muito importante, e que isso reflita na população de São Paulo”, afirmou o prefeito.

A vinda de Padilha à cidade, segundo ele, já estava prevista no cronograma de acompanhamento do plano inicial.

Tratamento humanizado

Padilha e Kassab visitaram um galpão no Bom Retiro, no centro, que servirá de abrigo. O local tem capacidade para 1,2 mil pessoas e contará com um Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas (Caps-AD) 24 horas, chamado de “Complexo Prates”. Outra unidade do mesmo tipo será construído no Jardim Ângela, na zona Sul da capital. Mais cedo, eles acompanharam o trabalho dos profissionais em unidade da Sé.

Baseado na falta de unidades em uma cidade de tal proporção (atualmente com 22 Caps), o ministro defendeu a ampliação das unidades de acolhimento e tratamento especializado. “Só os profissionais de saúde estão aptos a responder o que será feito com cada um deles.” Muitos dos dependentes da região da Luz não conseguem internação nem tratamento, apesar de serem frequentemente expulsos das ruas, onde voltam a se instalar depois do fechamento das unidades de saúde. A expectativa é que novas cinco Caps 24 horas sejam instaladas.

O plano federal possui três eixos: prevenção, tratamento e repressão ao tráfico de drogas. Com a chegada das ações, estão previstas dez novas unidades de acolhimento para internação e ampliação das existentes até o final de março, além das unidades móveis de atendimento. Para os casos em que existe necessidade de internação mais longa, parcerias com comunidades terapêuticas serão promovidas. Deverá ser avaliado, conforme a necessidade de cada região, a mudança nos horários das unidades de saúde.

Sobre a internação involuntária (ou compulsória), Padilha reafirmou ser a favor do “recolhimento de uma pessoa que sofre risco de vida”. Controverso, o tema enfrenta resistência dos profissionais de saúde, que defendem o tratamento desde que seja da vontade do usuário.

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