Deputado ameaçado por milícias é pré-candidato à Prefeitura do Rio

O deputado estadual do Psol, Marcelo Freixo, em sessão da CPI das Armas, na Alerj (Foto: Mauro Pimentel/Alerj) Rio de Janeiro – Ameaçado de morte pelas milícias que atuam no […]

O deputado estadual do Psol, Marcelo Freixo, em sessão da CPI das Armas, na Alerj (Foto: Mauro Pimentel/Alerj)

Rio de Janeiro – Ameaçado de morte pelas milícias que atuam no Rio de Janeiro, o deputado estadual Marcelo Freixo teve seu nome aclamado como futuro candidato do PSOL à Prefeitura carioca, durante o congresso do partido realizado na semana passada. Além de confirmar a pré-candidatura de Freixo, o PSOL elegeu sua nova direção estadual e autorizou o diálogo com o PV de Fernando Gabeira para a formação de uma aliança eleitoral na capital. Se o fato político vier a ser concretizado, promete sacudir o aparentemente tranqüilo cenário de reeleição do prefeito Eduardo Paes (PMDB).

Demarcar o terreno da oposição a Paes e ao governador Sérgio Cabral, também do PMDB, foi um objetivo fundamental do PSOL neste primeiro momento, explica o deputado federal Chico Alencar, figura de maior expressão do partido no Rio: “Foram aprovados alguns princípios gerais de posição política, especialmente em relação à força dominante no Rio, que é o PMDB do Cabral e do Paes. Manteremos uma postura de oposição contra essa visão privatizada, autoritária e vertical da gestão. E, nesse sentido, vamos dialogar com forças sociais e com partidos políticos críticos a isso. Mas, dialogar não significa que já fechamos aliança”, ressalva.

O congresso do PSOL autorizou o diálogo também com os tradicionais aliados PSTU e PCB, mas a inclusão do PV nesse arco de discussões causou grande polêmica, uma vez que Gabeira se tornou próximo do PSDB nos últimos anos. Alguns militantes do PSOL chegaram a lembrar que na última campanha para o Governo do Rio, o candidato do partido, Jefferson Moura, chegou a se referir ao verde como “um ex-Gabeira” durante um debate na televisão.

Na visão de Chico Alencar, que se absteve nessa votação, a discussão sobre quais partidos dialogar poderia ter sido travada com mais calma internamente: “Essa decisão foi uma precipitação porque não permitiu um debate maior sobre os nossos eixos programáticos e o arco de alianças. Foi uma antecipação, na medida em que o PSOL sempre faz em todas as eleições que disputa uma conferência eleitoral, no próprio ano das eleições e antes daquelas convenções que definem chapa, nominata e tudo mais. Decidi me abster porque ficou um clima meio Fla x Flu. Tem PV ou não tem PV? Com Gabeira ou sem Gabeira?”, relata o deputado.

 Experiente, Chico encara a situação com cautela: “O PV está incluído nesse leque de diálogo político na medida em que sua direção procurou o Marcelo Freixo, como nosso pré-candidato e figura pública, dizendo que queria discutir a possibilidade de marcharmos juntos na eleição. Nós afirmamos que teremos candidatura própria e esse tipo de diálogo foi referendado então”.

 O próprio Freixo, antes do congresso, deixava transparecer sua simpatia pelo diálogo com os verdes: “O PSOL e o PV caminham juntos na discussão sobre o Código Florestal. São dois partidos que estão no mesmo campo ético, é esta será a questão central da sociedade nas próximas eleições. Se acontecer, a aliança será construída em cima de um programa de governo para a cidade”, disse o deputado. Gabeira, por sua vez, afirmou que “a aliança seria feita com a perspectiva concreta de se chegar ao segundo turno”.

Morte por R$ 400 mil

Se já seria naturalmente uma alternativa eleitoral a se levar em consideração no Rio de Janeiro, a candidatura de Marcelo Freixo adquire contornos ainda mais específicos na medida em que o deputado se encontra ameaçado de morte. Presidente da CPI das Milícias que levou diversos policiais e até mesmo parlamentares para a cadeia, Freixo sofre ameaças há anos, mas estas se tornaram especialmente preocupantes, segundo a própria Secretaria Estadual de Segurança Pública, após o assassinato da juíza Patrícia Acioli por policiais militares em agosto.

Há cerca de dez dias, Freixo e a direção do PSOL foram oficialmente informados pela Coordenadoria de Inteligência da SSP que o ex-cabo da Polícia Militar Carlos Ary Ribeiro, mais conhecido como Carlão e considerado um dos matadores da milícia que atua na Zona Oeste do Rio, receberia R$ 400 mil para matar o deputado. De acordo com as informações passadas pela polícia, Carlão, que fugiu do Batalhão Especial Prisional da PM em setembro, já teria feito o levantamento da rotina de Freixo e possuiria até mesmo a escala de horários dos seguranças do deputado na Assembléia Legislativa do Rio (Alerj).

“Nossa maior tarefa agora é defender a vida dele. Depois do assassinato da juíza Patrícia, o Marcelo já recebeu três informações da inteligência da polícia, que detectou articulações. A última foi essa história do Carlão, que é chefe de milícia”, diz Chico Alencar. O deputado esteve na quinta-feira (13) com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para falar sobre a situação de Freixo: “O ministro está evidentemente solidário, mas só poderá agir a pedido do governo estadual que, reconheçamos, tem dado todo o apoio do ponto de vista da proteção direta do Marcelo. Por outro lado, o combate às milícias é insuficiente e elas estão crescendo em todo o Rio”, lamenta.

Na próxima segunda-feira (17), será realizado na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Rio de Janeiro, às 16h, um ato em defesa da vida do deputado estadual Marcelo Freixo: “O Freixo se destacou por investigar essas verdadeiras máfias que representam a maior ameaça na área de segurança pública no Rio de Janeiro. Defender sua vida e a possibilidade que exerça o mandato livre de quaisquer constrangimentos é dever de todos os democratas”, afirma o presidente da OAB-RJ, Wadih Damous.