Barbiere diz que não fala quem vende emendas nem com “revólver na cabeça”

Deputado que denunciou esquema na Assembleia Legislativa paulista pediu fim das emendas parlamentares

São Paulo – O deputado estadual Roque Barbiere (PTB-SP), que denunciou as polêmicas vendas de emendas na Assembleia Legislativa de São Paulo, concedeu entrevista coletiva na terça-feira (5) para falar sobre o caso que resultou na abertura de um inquérito na Promotoria de Justiça do Estado e na movimentação para instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Casa.

Foi do parlamentar a afirmação, durante uma entrevista na internet, que 25% a 30% dos deputados “vendem” a cota de emendas a que têm direito todos os anos em troca de parte dos recursos liberados. O atual secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo e deputado estadual licenciado, Bruno Covas, em entrevista a um jornal, endossou o colega e sugeriu ter ouvido rumores a respeito.

Referindo-se às atividades ilegais como prática semelhante à dos camelôs, “onde cada um vende de um jeito”, Barbiere entrou para o time dos que defendem o fim das emendas parlamentares. “Passamos o governo Fleury inteiro sem emenda, o governo Covas sem emenda, um dos governos do Geraldo (Alckmin) sem emenda, daí surgiram as emendas, que parecem algo bom, mas não são. Isso é ruim”, disse.

O parlamentar negou-se a citar qualquer nome e disse que conversará em breve com o promotor que acompanha o caso. “Nenhum nome (será falado), nem com revólver na cabeça. Meu objetivo não é dedurar ninguém, é acabar com a prática, dar mais transparência (…). Assim que eu quiser falar com ele (promotor), eu vou onde ele estiver”, declarou.

Mesmo após as denúncias, Barbiere afirmou que não sabe como funciona o esquema. “Cada um tem uma maneira. Eu não sei, eu nunca vendi emenda. Eu não sei te explicar como isso funciona. Cada um tem uma maneira, cada um tem um preço”, explicou.

Sobre o convite feito pela Comissão de Ética para o deputado responder aos questionamentos de outros parlamentares, Barbiere afirmou que ainda não decidiu se comparecerá. “Estou pensando em fazer por escrito, para não ter dúvida sobre o que foi dito”, afirmou Barbiere.

Com a insistência dos jornalistas a respeito da origem da corrupção, o deputado deixou claro que esse aspecto não é o pior. “Tanto faz  (a origem da venda). De repente, é um prefeito desesperado por verba, de repente é a empreiteira, para fazer um bom negócio. Mas o pior, vocês não estão enxergando, é ter emenda. Ninguém vai garantir que 100% dos que utilizam as emendas o façam corretamente”, criticou Barbiere.

Barbiere afirmou que em momento nenhum sofreu pressão de colegas parlamentares após as denúncias. Ele criticou a comunicação do PSDB por não publicar as emendas anteriores. “Acho que não publicaram por desorganização. Não é por maldade ou desonestidade. O PSDB é ruim para se comunicar, eles não se comunicam nem entre eles”, disparou.