Zarattini mantém pré-candidatura e propõe plataforma por ‘São Paulo mais barata’

Um dos cinco nomes colocados pelo PT para a sucessão municipal em 2012, o deputado distribui alfinetadas aos adversários e quer ir além do apoio das zonas sul e leste

Para a sucessão municipal como candidato do PT, Carlos Zaratini concorre com Marta Suplicy, Fernando Haddad, Jilmar Tatto e o senador Eduardo Suplicy (Foto: Diogenis Santos/ Agência Câmara)

São Paulo – O deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP) mantém a pré-candidatura à prefeito da cidade de São Paulo e inícia coleta de assinaturas para concorrer às prévias do partido, agendadas para 27 de novembro. Ele promete buscar uma plataforma eleitoral com propostas para uma cidade “mais barata”, isto é, com redução do custo de vida para os moradores.

Também são pré-candidatos do PT à sucessão de Gilberto Kassab (ex-DEM, a caminho do PSD) a senadora e ex-prefeita Marta Suplicy, o ministro da Educação, Fernando Haddad, e o deputado federal Jilmar Tatto. O também senador Eduardo Suplicy colocou-se ainda como nome para concorrer à disputa. Enquanto Marta conta com apoio de parte do partido e bom desempenho em pesquisas de intenção de voto, Haddad é o nome defendido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Com cinco postulantes à indicação do PT para a eleição municipal em 2012 na maior cidade do país, ganha cada vez mais força a ideia de que será necessário realizar prévias para a escolha. Para participar como pré-candidato, o estatuto prevê a necessidade de se recolher assinaturas de 10% dos filiados aptos a participar do Processo de Eleições Diretas (PED) do PT, ou um terço dos votos do diretório municipal ou ainda, de 5% dos filiados da cidade.

 

Muitos nomes, poucas certezas

A disputa de 2012 em São Paulo ainda se mostra indefinida também por parte de outros partidos. A sigla articulada por Kassab, o PSD, ainda não tem um indicado. E pode ceder a vez se a Eduardo Jorge (PV), secretário do Verde e do Meio Ambiente na capital, ou aos tucanos, se indicarem o ex-prefeito, ex-governador e candidato derrotado à Presidência em 2002 e 2010, José Serra, ou o senador Aloísio Nunes Ferreira.

O PSDB ainda tem outros nomes, como o secretário estadual de Cultura, Andrea Mattarazzo, e o deputado federal Ricardo Trípoli.

O também deputado Gabriel Chalita (PMDB) é pré-candidato, assim como o vereador Netinho de Paula (PCdoB). O presidente da seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP), Luiz Flávio Borges D’Urso (PTB) e a ex-vereadora, ex-subprefeita da Lapa e atual superintendente do Trabalho Artesanal nas Comunidades (Sutaco), Soninha Francine (PPS) também se afirmam postulantes.

Zarattini conversou com a Rede Brasil Atual em seu escritório no Butantã. Ele acredita que o nome escolhido pelo PT deve alcançar pelo menos 20% dos votos, “marca histórica” da legenda na capital. Com críticas aos concorrentes, ele avisa que o PT precisa ir além das boas votações nas zonas leste e sul e avançar no restante da cidade. “Avalio que só ganha quem conseguir reverter isso e o caminho é pararmos um pouco de discutir relações de classes para passar a defender os direitos do consumidor, o preço dos serviços, enfim, aquilo que pega no bolso dos cidadãos.”

Confira a íntegra da conversa:

RBA – Como o sr. avalia a pesquisa do DataFolha, que colocou a Marta Suplicy com cerca de 30% de intenção de votos para as eleições de 2012?

Antes de ser publicada a pesquisa, a projeção que fazíamos era parecida com o que foi aferido. Achava que a Marta teria entre 29% e 31%, que o Mercadante (senador) teria 20%. Avalio que se trata de uma marca histórica dos que votam no PT na Capital.

RBA – Ao manter a pré-candidatura junto aos demais nomes, ganha mais força a realização de prévias para escolher o nome indicado pelo partido. Como o sr. vê essa possibilidade? Há quem avalie que o debate cria tensões e conflitos.

Não tem jeito, são cinco candidatos, só as prévias podem resolver quem será o candidato do partido. Quem defende a não realização de prévias quer a candidatura do ministro Fernando (Haddad, da Educação). O outro caminho seria a desistência de quatro (dele próprio, Zarattini, além de Tatto, Suplicy e Marta), o que é impensável.

RBA – O sr. vai disputar as prévias?

Sim. Já estou coletando as assinaturas previstas no estatutos, que é 10% dos participantes do PED do PT, o Processo de Eleições Diretas.

RBA – Por que se candidatar? Quais são suas propostas para a cidade e como elas se diferenciam do que trazem os demais nomes petistas?

Das outras candidaturas eu vejo da seguinte forma: a Marta e talvez o Haddad vão fazer uma campanha midiática, com muita televisão, rádio. O senador Suplicy só fala do renda mínima. Já o Jilmar fala a cada dia uma coisa diferente. Eu tenho centrado minha campanha em tornar a cidade mais barata para dialogarmos com todos os setores da população, nas comunidades e na tal nova classe média. O alvo principal é pensar em como a prefeitura poderia lançar programas públicos para tornar a cidade mais barata, para o preço e o custo dos serviços serem menores.

RBA – De que forma a prefeitura poderia ajudar a reduzir o custo de vida?

Por exemplo, no transporte escolar. Hoje, na periferia, custa R$ 100 por mês.

RBA – No Butantã, R$ 170.

Ora, um programa de transporte poderia ajudar os pais a não ter essa despesa. Outro exemplo é a tarifa de ônibus, de R$ 3, o que consome 30% do salário mínimo ao final do mês. É um absurdo! Nós podemos pensar em um projeto para que o ônibus consuma apenas 15% ou 10% de um salário mínimo por mês. Na área da saúde, a desorganização do sistema público obrigou as pessoas a recorrer a um plano privado, o que aumenta o custo de vida. Reorganizar o sistema de saúde permite que todos economizem.

Quero discutir com arquitetos e entidades de defesa do consumidor reformas do plano diretor da cidade para construções em áreas mais centrais, porque a distância dos novos empreendimentos acarretam mais custos pessoais de carro ou com outros transportes. Queremos estimular construções mais para o Centro e desestimular novos empreendimentos na periferia, mas isso precisa ser construído com habilidade, para que todos tenham sentimentos de conquistas, e não de perda de espaço.

Outra barbaridade é o IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano), por exemplo. Com a chegada do Metrô, os imóveis da região do Butantã dobraram o valor venal (usado pela prefeitura para calcular o valor do tributo). Porém, minha vida e minha renda continuam a mesma. Como eu só me beneficiarei desse aumento quando vender o imóvel, o tributo correto a ser cobrado seria um que incidisse apenas naquele momento. Seria o ITBI (Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis) e não no IPTU.

RBA – O aumento foi justificado para reorganizar a cobrança na cidade por essa valorização.

O que o Kassab fez estoura o orçamento das famílias. A Câmara aprovou um projeto do então vereador Devanir Ribeiro (PT) que isentava o IPTU do aposentado. Mas o texto foi modificado (pelos aliados da prefeitura) e essa isenção agora recai apenas no imóvel em que ele mora, mas são cobrados de outros imóveis de sua propriedade. O PT não pode mais pensar em impostos, nem na cidade, nem mesmo no governo federal. Ainda bem que o ministro (da Saúde, Alexandre) Padilha e a presidenta Dilma (Rousseff) desistiram da nova CPMF (para custear a regulamentação da Emenda 29). Na classe média, o PT ainda está muito associado às taxas do lixo e da luz (criadas durante a gestão de Marta Suplicy, de 2001 a 2004).

RBA – Há uma tentativa de se construir, na mídia, a ideia de que a corrupção estaria no DNA do PT. O que o sr. acha disso?

Precisamos acabar com isso. O presidente Lula enviou um projeto que criminaliza as empresas corruptoras, que foi engavetado na Câmara. Recentemente, pedi ao atual presidente Marco Maia (PT-RS) que despache o projeto para as comissões avaliarem. Se a gente não mexer nisso, ficaremos sempre com uma votação regionalizada na capital, nas zonas leste e sul da cidade. Quero fazer uma grande articulação de candidatos a vereador, militantes e partido para reverter a lógica nas regiões norte e oeste. Avalio que só ganha quem conseguir reverter isso e o caminho é pararmos um pouco de discutir relações de classes para passar a defender os direitos do consumidor, o preço dos serviços enfim, aquilo que pega no bolso dos cidadãos.

Leia também

Últimas notícias