Lula atribui título ‘honoris causa’ na França a esforço do povo brasileiro

Ex-presidente comemora boa situação dos jovens brasileiros e afirma que país deixou histórico de frustrações para trás

Lula enumerou exemplos do desenvolvimento do país nos campos de educação e tecnologia, como a valorização da carreira docente e o ProUni (Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula – divulgação)

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou, nesta terça-feira (27), que o título de doutor honoris causa recebido do Instituto de Estudos Políticos de Paris é uma homenagem a todos os brasileiros. “Isso representa muito mais que uma homenagem pessoal, representa o esforço que o povo brasileiro fez para que se construísse a democracia que construímos e as conquistas sociais que o Brasil obteve”, afirmou, durante conversa com estudantes na capital francesa pouco antes de ser agraciado. 

Lula foi o 16º a receber o título da Sciences Po, como é conhecido o instituto, em 140 anos de história. Além disso, tornou-se o primeiro latino-americano homenageado pela entidade, que formou nomes como os ex-presidentes franceses Jacques Chirac e François Mitterrand, o ex-primeiro-ministro Lionel Jospin, o escritor Marcel Proust, o príncipe Rainier III, de Mônaco, o ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, e a ex-senadora colombiana Ingrid Betancourt.

“É uma instituição que representa de modo exemplar o compromisso da França com a liberdade intelectual, a dignidade da política e o aperfeiçoamento permanente da democracia”, enfatizou o ex-presidente no discurso feito durante a cerimônia. 

Uma honraria que não passou batida por parte da velha mídia brasileira, habituada a exaltar a França como morada intelectual do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que estudou e lecionou na Sorbonne (nome popular da Universidade de Paris, atualmente espalhada por quatro regiões da capital francesa).

Segundo registrou o jornal argentino Página12, os repórteres brasileiros presentes a uma entrevista coletiva com Richard Descoings, diretor do Instituto de Estudos Políticos, exibiram uma série de contrariedades. “Por que Lula, e não Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor, para receber uma homenagem da instituição?”, indagou a repórter Deborah Berlinck, de O Globo.

A maior parte da fala de Lula poderia servir como a resposta de Descoings que, aparentemente assustado, informou que a escolha se deu pelo “homem de ação que mudou o curso das coisas”. O ex-presidente fez várias citações aos avanços que o Brasil vem obtendo nos últimos anos. “Deixamos para trás um passado de frustrações e ceticismo. Os brasileiros e as brasileiras voltaram a acreditar em si mesmos e na sua capacidade de resolver problemas e superar obstáculos, por mais difíceis que sejam.”

Ele citou o Bolsa Família como um dos exemplos de conquistas sociais, aliado à saída de 28 milhões de pessoas da miséria e ao ingresso de outros 39 milhões na classe média. A criação de 16 milhões de empregos formais durante seus oito anos de mandato e o aumento real de 62% do salário mínimo também foram registrados por Lula.

O ex-presidente reafirmou sua leitura de que o desenvolvimento econômico deve servir à inclusão social. “Os pobres passaram a ser tratados como cidadãos. Governamos para todos os brasileiros e não apenas para um terço da população, como habitualmente acontecia.”

Como esperado, Lula enumerou exemplos do desenvolvimento do país nos campos de educação e tecnologia. Foram citados os projetos de valorização da carreira docente e o Programa Universidade para Todos (ProUni), que ampliou o acesso de jovens de camadas baixas ao ensino superior. “Bastou uma chance e a juventude brasileira deu firme resposta ao mito elitista segundo o qual a qualidade é incompatível com a ampliação das oportunidades.”

Ao citar os avanços na democracia, Lula lembrou as 72 conferências setoriais realizadas ao longo de seu mandato, que resultaram na formulação de diretrizes de políticas públicas em diversas áreas. O ex-presidente indicou seu passado de luta sindical como uma demonstração de que é por meio da política que se realizam as transformações. “Sempre acreditamos na força da política como promotora da emancipação individual e coletiva. A participação política é o melhor antídoto contra a alienação e as tentações autoritárias.”

Durante a conversa com estudantes, ele elogiou a decisão da presidenta Dilma Rousseff de colocar como meta de governo o envio de 100 mil jovens brasileiros para estudar no exterior até 2014, mas lembrou que houve uma mudança na perspectiva destes alunos. “Estou muito feliz porque houve um tempo em que os jovens vinham para estudar na França, para estudar em outros países sem a perspectiva de voltar porque o mercado de trabalho do Brasil não crescia.”

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