Lula critica falta de comando dos países ricos para reagir à crise na Europa e EUA

Ex-presidente cobra atitude dos líderes, afirma que socorro a nações mais frágeis demorou a chegar e pondera que Brasil está bem posicionado para lidar com turbulência externa

São Paulo – O ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou nesta sexta-feira (12) que a dificuldade em encontrar uma solução para a crise econômica nos Estados Unidos e na Europa é fruto de falta de comando político. 

“Eles têm que saber que um político tem que ter atitude. Acho que está faltando decisão política na crise europeia e na crise americana. Não é mais uma decisão econômica”, afirmou Lula durante sua passagem numa feira literária em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, ao lado do ministro da Educação, Fernando Haddad, e do prefeito Luiz Marinho.

Nas últimas semanas, a falta de uma solução política nos Estados Unidos para enfrentar os efeitos da crise, que se arrasta desde 2008 e ganhou neste ano novos episódios, tem deixado o mundo apreensivo. A nova onda de incertezas teve início com a renegociação do teto da dívida norte-americana, o que enfrentou resistência dos republicanos no Congresso. Após a aprovação de um novo limite de endividamento, teve início a especulação sobre uma recessão no país, com efeitos sobre todo o mundo, o que tem levado a oscilações no mercado financeiro.  

Lula defendeu que o G-20, que reúne as principais economias globais, encontre uma solução para o caso. “Agora chegou nossa hora de ajudá-los a resolver os problemas. Porque quando o problema era na Bolívia, no Brasil, no Paraguai, descia todo mês um grupo de gringo aqui para dizer o que a gente fazia.”

Para o ex-presidente, as atitudes tomadas quando do estopim da crise, em 2008, foram equivocadas, e agora cobram um preço ao conduzir a um novo quadro recessivo. Lula concorda com a presidenta Dilma Rousseff na avaliação de que é equivocado dar recursos aos bancos, como fizeram Estados Unidos e União Europeia, deixando de lado o estímulo para que a população consuma. Ele acusou ainda as nações mais importantes do bloco europeu de demorar a socorrer as economias mais frágeis. Grécia, Portugal, Espanha, Irlanda e Itália têm enfrentado os problemas mais graves, sendo levadas a cortes orçamentários que afetam programas sociais e resultam em grandes manifestações populares. “Quando um paciente está sangrando e chega no hospital, ninguém vai perguntar o que foi que feriu. Vão estancar o sangramento para depois curar”, analisou Lula.

Questionado sobre outra de suas metáforas, a de que a crise de 2008, um tsunami, seria uma marolinha para o Brasil, ele reafirmou que o país está bem preparado para lidar com dificuldades externas. “Temos um mercado interno extraordinário, temos um povo ávido, com o desejo de comprar da forma mais responsável possível.”

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Polícia Federal

Em conversa com jornalistas, Lula voltou a criticar exageros em operações da Polícia Federal, mas fez a ressalva de que não se deve culpar a instituição pelos erros, e sim alguns de seus agentes. Foi a segunda afirmação negativa do ex-presidente contra a Operação Voucher, desencadeada na quarta-feira (10) contra irregularidades no Ministério do Turismo.

“Não é aceitável que uma pessoa que tem endereço fixo, RG, CIC, seja presa como se fosse um bandido qualquer. Pessoas foram algemadas quase como se tivesse participado de uma exposição pública”, afirmou Lula.

Líderes do PMDB, partido que controla a pasta, manifestaram desagrado em relação ao uso de algemas no momento de promover as prisões. Eles consideram ainda ue há inocentes entre os detidos, uma leitura que conta com o apoio do PT, em especial devido à prisão de Mário Moysés, ex-secretário executivo do ministério e ex-assessor da hoje senadora Marta Suplicy. “É preciso que as pessoas tenham responsabilidade porque à medida que você põe uma pessoa sendo presa no jornal e, no dia seguinte, ela é inocentada, é preciso que tenha alguém que tenha coragem de vir a público e inocentar essa pessoa porque estamos cansados de ver injustiça”, reiterou o ex-presidente.

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