Analista descarta rebelião da base de apoio a Dilma apesar de denúncias

Apesar das queixas de partidos aliados, denúncias sucedidas de mudanças nos ministérios são parte do estilo da presidenta. E há pouco risco de rompimentos

Dilma tem como característica promover mudanças após casos de denúncia (Foto: Roberto Stuckert Filho/Presidência)

São Paulo – Em meio a trocas ministeriais e pelos mais diversos motivos, o estilo de governar da presidenta Dilma Rousseff  é o que mais vai deixar marcas nos oito primeiros meses de governo. E é deste perfil que se pode esperar novas decisões. Segundo Marcos Verlaine, analista político do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), os episódios terão consequências na relação entre o Executivo e o Congresso Nacional, mas não a ponto de criar fissuras na base governista.

As denúncias de corrupção e suspeitas relacionadas à conduta de ministros empossados por Dilma em janeiro deste ano alcançaram pelo menos quatro titulares do primeiro escalão, um do PT, um do PR e dois do PMDB – estes dois últimos, aliás, são os que permanecem no cargo. Outras três pastas sofreram trocas, por outros motivos.

O episódio mais recente ocorreu na terça-feira (9). O Ministério do Turismo viu-se envolvido em investigações de esquema de corrupção. Diferentemente dos outros três casos, as acusações não partiram da imprensa, mas da Polícia Federal, em operação que prendeu 35 pessoas por envolvimento em fraude em licitações no Amapá, incluindo o secretário-executivo da pasta, Frederico Silva da Costa.

Dois ministros deixaram seus cargos envolvidos em suspeitas ou denúncias de corrupção. O ex-ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, acusado de conflito de interesses por ter aumentado seu patrimônio como consultor antes de assumir o cargo, foi o primeiro. Depois, o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, caiu em meio a acusações de desvios que favoreceriam ao PR.

Na semana passada, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), vinculada ao Ministério da Agricultura, foi alvo de denúncias de irregularidades. O peemedebista Wagner Rossi foi colocado na berlinda, em meio a críticas de “inchar” o pasta com indicações de apadrinhados políticos. No sábado (6), o secretário-executivo da pasta, Milton Ortolan, pediu demissão depois que a revista Veja publicou matéria apontando que ele teria “liberado” a ação de um lobista na Agricultura.

Sem sustentação

Dilma não se pronunciou sobre os últimos episódios, mas Marcos Verlaine destaca que o perfil da presidenta é diferente do de Luiz Inácio Lula da Silva. Em vez de administrar as denúncias apenas com o diálogo, Dilma deu sinais de que não oferece garantia de sustentação a suspeitos de corrupção. O episódio no Ministério dos Transportes serve de recado para que os ministros fiquem “mais espertos” com irregularidades.

O analista político evita usar o termo “faxina” para se referir às demissões pois, segundo ele, os esquemas fraudulentos nunca são encabeçados por apenas uma pessoa. “Então, quando são descobertos não adianta tirar um e achar que tudo está resolvido. A saída é, inevitavelmente, cortar quantos forem necessários”, destaca Verlaine.

Desde a polêmica envolvendo o Ministério da Agricultura, divulgada na semana passada, parlamentares do PR pedem que a presidenta use critérios semelhantes, com exigência de cortes e demissões, aos empregados na pasta dos Transportes. A legenda critica a possibilidade de haver diferenciação dependendo de quem esteja à frente do órgão.

Verlaine pondera que as denúncias – especialmente as noticiadas primeiro pela mídia – podem ter partido de “fogo amigo”, ou seja, de parlamentares ou pessoas filiadas a partidos da própria base aliada interessadas em desgastar ministros. Ele descarta, porém, perseguição por parte do governo federal. “É um estilo novo, porque Dilma não é Lula. Para ela, onde há fumaça, há fogo; se houver suspeitas, a presidenta deixou claro que vai querer investigar.”

Em relação ao escândalo mais recente, referente a fraudes no Ministério do Turismo, chefiado também por um peemedebista, Pedro Novais, o analista político afirma que não há nada que o partido da base aliada possa fazer contra as investigações. “Se isso for comprovado, o que o PMDB pode dizer? Que a Dilma está errada? que a Polícia Federal está errada?”, contextualiza o Verlaine.

Ponderação à parte, o clima ruim pode se instalar na relação entre PMDB e governo. Tanto assim que a ministra das Relações Institucionais, Idelli Salvati, apressou-se em afirmar, ainda na tarde de terça, que a presidenta Dilma desconhecia a operação que investigou irregularidades no Turismo.

“Nós fomos surpreendidas hoje pela manhã na reunião que teríamos com ela (a presidenta Dilma Ropusseff) para preparar o ato e o acordo do Supersimples, que seria apresentado”, disse Ideli. A ministra isentou o ministro do Turismo, Pedro Novaes, de possíveis acusações de que teria conhecimento do esquema desmontado pela PF.