Lula promete dois documentários e um livro sobre seu governo

Ex-presidente promete discutir políticas púbicas na África e da integração da América do Sul

O ex-presidente Lula, em encontro no Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região (Foto: Paulo Pepe/Seeb-SP)

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirma que vai trabalhar pela realização de dois documentários sobre seus oito anos de mandato. Ele pretende ainda articular um livro redigido por representantes de “50 ou 60 setores da sociedade” com relatos das mudanças e transformações ocorridas de 2003 a 2010. Também faz parte do planos do ex-presidente um “memorial da democracia”. “Queremos contar um pouco das lutas sociais neste país.”

Em conversa com dirigentes sindicais bancários de São Paulo na manhã desta terça-feira (28), Lula falou por uma hora, pouco antes de embarcar no comando da delegação brasileira à Assembleia Geral da União Africana, na Guiné Equatorial. Além de contar histórias, ele voltou a destacar a importância dos blogues (ou os “brogues” e “brogueiros”) durante a campanha de 2010, em que Dilma Rousseff foi eleita presidenta. O encontro aconteceu na sede do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.

“Depois de desencarnar por um tempo”, Lula promete dedicar-se à política em duas frentes: a colaboração com países africanos e com nações sul-americanas. “Vou me meter menos no Brasil porque aqui tem governo”, pontua. “Vou tentar cuidar da integração da América do Sul e da África sem a ideia colonizadora, mas de levar ideias de políticas públicas que funcionaram aqui e que podem dar certo lá.”

Em relação aos registros históricos de sua gestão, um dos documentários seria dedicado a contar fatos sobre “o tipo de gente que entrou no Palácio” durante seu mandato. “Continuaram entrando presidentes, reis e rainhas, mas entrou também um monte de gente que não era levada em conta neste país”, celebra Lula. Ele citou lideranças de movimentos sociais, catadores e pessoas atingidas pela hanseníase como exemplos. O ex-presidente sustenta que esse “outro tipo de gente” foi decisiva para definir os rumos de sua gestão.

O segundo documentário seria “sobre democracia”, mais precisamente a respeito das 73 conferências setoriais realizadas durante oito anos. Temas como meio ambiente, saúde, direitos humanos, diversidade sexual, mulheres e comunicação foram debatidos com representantes da sociedade. Outras conferências estão em processo de organização neste ano. “Se a gente não fala disso, as pessoas se esquecem”, pondera Lula. “Devo ter participado de umas 50 delas, e as pessoas faziam todo tipo de desaforo, e a gente tinha de ouvir”, relembra.

Além das produções audiovisuais, Lula disse que pretende organizar ainda um livro, mas rechaçou a ideia de redigir a obra. Ele ironizou ex-presidentes que publicaram relatos autobiográficos seis meses depois de deixar o cargo, e prometeu não repetir a sina. “Primeiro, porque não sou escritor”, alega. “Depois, porque tem coisas na Presidência que você não pode contar. Então, o livro já sai mentiroso daí.”

A obra pensada no Instituto de Cidadania, ONG presidida por Lula antes de ele ser eleito em 2003 e reassumida no início deste ano, envolveria relatar as transformações do país sob a ótica de representantes de diversos setores. “No último dos encontros (anuais) com catadores de material reciclável, uma menina perguntou se eu sabia o que o meu governo tinha feito por ela”, lembrou. “Comecei logo a chorar, e ela disse que, no meu governo, ela pôde andar de cabeça erguida.”

“Mas quando encontro um empresário, ele me pergunta: ‘sabe o que o seu governo fez pelo meu setor?’ E relata as contratações. Outro, fala dos investimentos. A Ambev fala do quanto cresceu o mercado de bebidas. O (Carlos Alberto) Grana (ex-presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos) conta o que significou para os metalúrgicos”, enumerou. “Então, a ideia é pegar 50 ou 60 setores da sociedade para cada um escrever um conjunto de páginas para contar a história do meu governo pela lógica deles”, descreveu.

Memorial

Lula disse que pretende trabalhar para construir um memorial da democracia, nos moldes do Museu do Futebol ou da Língua Portuguesa – com fotografias, documentários, gravações etc. – sobre a história dos movimentos e das lutas sociais, provavelmente a partir da proclamação da República. Deve ainda haver espaço para guardar o acervo adquirido durante seu mandato, como presentes, homenagens e diplomas recebidos.

Ele lembrou que o Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC) é o modelo “que funciona melhor”, porque mantém produção. A fundação que leva o nome de José Sarney, atualmente senador pelo PMDB-AP, “virou até motivo de disputa política”, segundo Lula.

O conteúdo da exposição de Lula deve ser publicado em vídeo pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.