Às vésperas de debandada, DEM tenta renovação, mas corre risco de encolher ainda mais

José Agripino tem a missão de costurar lideranças e dar novo rumo ao DEM, apesar da saída de líderes com potencial competitivo de eleições (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado) São Paulo […]

José Agripino tem a missão de costurar lideranças e dar novo rumo ao DEM, apesar da saída de líderes com potencial competitivo de eleições (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)

São Paulo – O Democratas oficializa, na tarde desta terça-feira (15), em Brasília, a nova executiva nacional, com o senador José Agripino Maia (RN) assumindo a presidência. Cabeça da única chapa formada em uma articulação em busca de unidade, ele tem a missão de substituir o deputado federal Rodrigo Maia (RJ) e costurar lideranças internamente. A iminente saída de figuras como o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, porém, torna a perspectiva para o DEM pouco animadora, na visão de cientistas políticos ouvidos pela Rede Brasil Atual.

Após oito anos de oposição ferrenha ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a legenda mais à direita entre os partidos de oposição ficou com 43 deputados federais eleitos em 2010, 40% do que chegou a alcançar em 1998, por exemplo. Apesar de ter galgado dois governos de estado – Rio Grande do Norte e Santa Catarina –, abriu mão da maioria das disputas, para se aliar a outras legendas, principalmente o PSDB.

Para Carlos Ranulfo, professor de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o DEM perdeu força ao ter diminuídos os vínculos com a Presidência da República a partir de 2003 e com governos estaduais. “É um partido sem base social nem ancoragem em nenhum setor, por isso sempre dependeu de captar recursos junto ao Estado”, avalia.

A decisão de radicalizar a postura de oposição a partir de 2006, com a mudança de nome de PFL para DEM, resultou em perda ainda maior de votos. “O DEM hoje é um partido médio, apesar de o PFL ter sido grande um dia e está sem perspectivas de retomada. Daí as saídas de figuras como Kassab”, avalia Ranulfo.

Rumos

Além de dirimir conflitos internos, Agripino Maia tem como missão tentar mudar os rumos do partido. “A tentativa é de parecer menos radical em relação ao governo, mas não me parece que haveria muito sucesso”, desconfia. “O DEM dependeria de uma vitória do (candidato do PSDB à Presidência, José) Serra. No Nordeste, antes a principal base, o DEM vem sendo varrido. O partido está sem pé”, resume.

A seu favor, o senador potiguar tem o fato de ter mais experiência do que Rodrigo Maia. O filho do ex-prefeito do Rio Cesar Maia assumiu o cargo com 36 anos, em meio a um esforço de renovação após um longo período sob o comando de Jorge Bornhausen, mas isso pode ter produzido aversão dos caciques mais antigos. Ele ainda sofria o estigma de ser demasiadamente influenciado pelo pai. Uma figura com maior trajetória pode até ter mais capacidade de articulação.

Segundo Antônio Augusto de Queiroz, diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), a imagem que a sociedade tem de Agripino Maia não é de alguém menos radical em relação ao governo do que foi seu antecessor. Mas internamente, o senador deve ser capaz de buscar mais consensos. “É uma mudança que pode ser melhor para o partido, mas ocorre em um contexto em que se tenta impedir maiores perdas”, posiciona.

Debandada

A saída de lideranças como Kassab pode ter consequências sérias para o DEM. Guilherme Afif Domingos, vice-governador de São Paulo, Raimundo Colombo, governador de Santa Catarina, e Rosalba Ciarlini, do Rio Grande do Norte, poderiam acompanhá-lo no chamado Partido da Democracia Brasileira (PDB).

“Em uma hipótese dessas, o DEM teria de buscar algum tipo de fusão para sobreviver politicamente, porque seriam perdidos os nomes que têm poder no partido e que têm potencial de poder”, explica Queiroz. O cenário mostra que as pessoas sentem-se desconfortáveis no interior da legenda e não acreditam na possibilidade de um futuro promissor.

“O esvaziamento do ponto de vista programático e as disputas internas podem fazer a sangria não parar. Nesse caso, é até preferível encolher significativamente, para haver unidade maior, e então se reerguer”, prevê.

Para Ranulfo, a possibilidade de fusão poderia ser mais funcional para a representação política da direita no Brasil, não fossem algumas “idiossincrasias” de lideranças. “A alternativa que a direita teria seria uma união do DEM, PP e até o PTB, que fica em uma certa centro-direita”, sugere.

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