Dilma e Cristina querem integração como arma contra a crise

Presidentas mantêm encontro antes da fundação da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), que reúne todos os países das Américas, à exceção de Estados Unidos e Europa

São Paulo – As presidentas Dilma Rousseff e Cristina Kirchner defenderam nesta sexta-feira (2) a integração regional como arma contra o agravamento da crise econômica na Europa e nos Estados Unidos. 

“Diante da crise, é necessário o fortalecimento do Mercosul. E também temos interesse em ampliar a integração produtiva Brasil – Argentina. Queremos não só ampliar relações comerciais, queremos construir cadeias que sejam complementares, que podem estreitar ainda mais as relações econômicas na região”, afirmou Dilma em conversa com jornalistas em Caracas, onde participa da fundação da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac). “Vamos fortalecer o Brasil e a Argentina nessa próxima década, que tem indícios de ser uma década de baixo crescimento. Não vou dizer de estagnação, mas de baixo crescimento, sem dúvida.”

Durante a conversa, Dilma evitou comentar a situação do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, indicando que vai tratar dos temas relativos ao Brasil após segunda-feira (5). Questionada sobre o “Eu te amo” de Lupi, que, acusado de irregularidades, defendeu-se no Congresso fazendo uma declaração à presidenta, ela afirmou: “Eu tenho 63 anos de idade, uma filha com 34 anos, um neto de um ano e dois meses. Eu não sou propriamente uma adolescente e eu diria também que não sou uma romântica. Acho que a vida ensina a gente. Acho que a gente tem de respeitar as pessoas, mas eu faço análises muito objetivas.”

Na declaração após o encontro, a presidenta da Argentina também enfatizou questões econômicas. “Temos uma visão comum e conjunta do que está ocorrendo no mundo e das ações que temos de implementar para conseguir que a região, que teve um comportamento econômico e de inclusão social muito importante para milhões de sul-americanos que se incorporaram ao consumo e aos processos produtivos, não se veja afetada”, disse.

O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Antonio Patriota, indicou que Brasil e Argentina admitem que a relação bilateral é o grande vetor da agenda comercial externa. “Isso faz com que os dois países precisem pensar de forma estratégica no seu futuro.”

Além da reunião com Cristina, Dilma se encontrou com o presidente da Bolívia, Evo Morales, com quem discutiu o recente plano de integração para o combate ao narcotráfico e a colaboração brasileira para ajudar a sanar deficiências no abastecimento energético da nação vizinha. “Como eles cresceram muito, estão com um fornecimento de energia muito apertado”, disse a presidenta, que fez um breve comentário sobre a importância da fundação da Celac, que reúne 33 nações das Américas, excluindo Estados Unidos e Canadá. São 570 milhões de habitantes.

Dilma classificou o encontro de chefes de Estado como histórico. “Em todo o mundo não tem uma reunião tão grande de países, em uma região que hoje está crescendo. A América Latina está crescendo acima da taxa de crescimento global.” A estimativa de crescimento regional para este ano é de 4,7%, contra um máximo de 2,5% nos Estados Unidos e uma possível estagnação da Europa.

Em um longo discurso de inauguração, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, considerou que a Celac é o caminho para que a região seja livre e independente. “Estamos colocando a pedra fundamental da unidade, a independência sul-americana, devemos avançar, avançar, avançaremos sem vacilação. Este é o caminho da unidade, somente ela nos fará livres e independentes.”