Abertas as urnas, aliados veem reforma política no centro do debate

Brasília – Nem bem haviam sido abertas as urnas, a prioridade do próximo governo já estava desenhada: a reforma política. Ela estava na boca de dez em cada dez políticos […]

Brasília – Nem bem haviam sido abertas as urnas, a prioridade do próximo governo já estava desenhada: a reforma política. Ela estava na boca de dez em cada dez políticos que na noite do domingo (31) chegavam ao Hotel Naoum, no sul de Brasília, para celebrar a vitória de Dilma Rousseff (PT), presidente eleita do Brasil.

Há alguns consensos no mundo político sobre reformas em geral: ou é aprovada no começo de mandato, ou não passa nunca mais. Dilma recebe um Congresso que Lula nunca teve, com base aliada mais forte e oposição enfraquecida numericamente. Calcula-se que sua gestão terá suporte de mais de 300 dos 503 deputados e de 52 a 60 das 81 cadeiras do Senado.

O deputado federal Henrique Fontana (PT-RS) fala com a propriedade de quem já foi líder do governo na Câmara: o Legislativo é sensível ao recado das urnas e entende que Dilma foi eleita com grande força. “Não acredito que o nível mais radical de oposição se mantenha, agora que passou o processo eleitoral”, afirmou à reportagem da Rede Brasil Atual.

O senador Renato Casagrande (PSB), governador eleito do Espírito Santo, avalia que é hora de convocar à unidade. “Essa eleição tencionou muito. É hora de distensionar. Acho que não é só a base aliada que favorece a aprovação das reformas, mas a oposição terá de voltar a dialogar”, avaliou. Dilma fez sua parte durante o pronunciamento da vitória, segundo a liderança capixaba, ao estender a mão à oposição.

No entanto, Sérgio Guerra, senador por Pernambuco e presidente do PSDB, avaliou, no domingo (31) que, após a tensão provocada pelas eleições, não há como promover a união de partidos. O senador se coloca a favor da reforma política, mas aí entra uma questão básica: de que reforma se está falando? Guerra defende mudanças diferentes das planejadas por aliados de Dilma. “Do jeito que está não dá para disputar eleição, que fica prejudicada na sua legitimidade. As regras que estão aí não servem para ninguém mais, nem para o adversário nem para a democracia”, avalia o líder tucano.

A necessidade de resolver a questão logo no início da gestão explica-se, na visão governador reeleito de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), pelos interesses dos parlamentares. Em entrevista ao portal Terra em outubro, Campos pontuava: “Sabe por que não faz (reformas)? Porque (se) quer fazer para a próxima eleição. Quem vai votar, olha para norma e diz: essa é melhor ou pior pra mim? Agora, quando a gente pensar em fazer uma reforma política para próxima década, e uma reforma tributária para próxima década, a gente vai fazer. E não vai chegar na próxima década com essa mesma conversa – que já tem duas décadas”. 

Campos é um dos governadores que saem bastante fortalecidos das urnas. Os chefes de Executivo estadual têm poder de diálogo com deputados e senadores. Os congressistas, por sua vez, dependem dessa boa relação para seus respectivos mandatos tenham mais realizações. Por isso, apesar de a maioria das unidades da federação ser governada por aliados de Dilma a partir de janeiro de 2011, a oposição também terá peso. PSDB, DEM e PMN vão, juntos, controlar estados-chave na hora de discutir reformas, em especial a tributária. Os tucanos levaram São Paulo e Minas Gerais, os dois maiores estados em termos de população.

Na visão de parte dos aliados de Dilma, o cenário torna difícil a concretização de uma macrorreforma. Seria mais efetivo escolher três ou quatro questões prioritárias e trabalhar em cima delas. Mas Dilma tem uma condição inédita: além do Congresso favorável, fará uma transição de continuidade após oito anos, e não de ruptura, em um governo que conhece profundamente.

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