PT faz grupo de trabalho para apresentar propostas a Marina

Código Florestal e política ambiental devem estar no centro das argumentações para conquistar apoio no 2º turno

Minc é um dos encarregados de fazer discussão programática com o PV (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)

Rio de Janeiro – Um grupo de trabalho coordenado pelo presidente do PT, José Eduardo Dutra, pelo ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e pelo ex-ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, começa nesta quinta-feira (7) a definir as propostas que o partido pretende apresentar na semana que vem à senadora Marina Silva (PV-AC), que chegou em terceiro lugar nas eleições presidenciais de 3 de outubro. A intenção é consolidar o apoio da senadora e do PV à candidatura Dilma Roussef para as votações do segundo turno da corrida presidencial.

Um ponto do possível acordo com a candidata verde é dado como certo: se Dilma Rousseff chegar à Presidência, o governo irá vetar as propostas em discussão no Congresso Nacional que desfiguram o Código Florestal e tanto incomodam o movimento socioambientalista brasileiro.

Além do Código Florestal e de outros itens de política ambiental como, por exemplo, a realização de uma reforma tributária verde e a adoção de um mecanismo de proteção dos direitos econômicos dos povos da floresta, o conjunto de propostas que o PT levará à Marina incluirá também itens ligados à educação, saúde e segurança pública.

O trabalho deverá ser concluído até o fim desta semana, mas a direção petista ainda espera um sinal positivo de Marina para agendar o encontro onde serão apresentadas as propostas: “Ela aceitou sentar para conversar, mas só depois de consultar sua base e as instâncias do partido. Vamos respeitar o tempo de decisão da Marina”, afirma Dutra.

Apesar da paciência pregada por seu presidente, a intenção do PT é conquistar o quanto antes apoio de Marina à Dilma, apesar de parte do grupo mais próximo à senadora indicar que prefere a neutralidade no segundo turno das eleições presidenciais.

O trabalho de aproximação já está sendo realizado pelos irmãos petistas Tião e Jorge Viana, eleitos respectivamente governador e senador pelo Acre com o apoio de Marina: “Estou rezando para a Marina fazer a opção pela campanha da Dilma. Espero que ela venha para o nosso lado. Afinal, somos da mesma rua, da mesma família”, afirma Tião Viana.

Nos últimos dias, alguns líderes petistas fizeram afagos públicos à Marina, como, por exemplo, o governador eleito do Rio Grande do Sul, Tarso Genro: “Eu conheço a Marina há mais de 30 anos. Militamos juntos e somos amigos. Aliás, ela tem muitos amigos no PT”, disse.

Em seu primeiro discurso após a divulgação dos resultados do primeiro turno, a própria Dilma já havia sinalizado o caminho da conciliação: “Dou muito valor ao apoio da Marina. Respeito a Marina como militante política e acredito que temos mais proximidades do que diferenças”, disse a candidata petista.

Outras figuras públicas muito ligadas a Marina podem engrossar o coro dos que desejam que a candidata verde declare apoio a Dilma. O teólogo Leonardo Boff, logo após sair na quarta-feira (6) de uma reunião em que estavam a senadora, o vice em sua chapa (o empresário Guilherme Leal) e outras 60 pessoas, afirmou que no segundo turno votará na candidata do PT.

Outro trunfo pró-Dilma dentro do PV está no grupo político integrado pelo ex-ministro da Cultura no governo Lula, Gilberto Gil, e pelo atual ministro, Juca Ferreira, que tendem a apoiar o PT no segundo turno.

Neutralidade

Apesar do processo de discussões internas já em curso e da convenção do PV marcada para 17 de outubro, as posições no partido já estão definidas. De um lado, a direção nacional do PV e sua seção paulista defendem o apoio ao candidato do PSDB, José Serra. De outro, o grupo que veio com Marina do PT, aliado a outros setores minoritários, não pretende apoiar o tucano.

O apoio à Dilma, no entanto, tampouco está assegurado, já que existe uma pressão natural sobre Marina para que ela se mantenha na posição de “terceira via” como forma de capitalizar os quase 20 milhões de votos que obteve e dar cacife ao PV para as próximas eleições.

Diante desse quadro, o ideal para o grupo de Marina seria liberar o voto da militância do PV no segundo turno. O afã de parte da direção verde em cair nos braços de Serra, no entanto, pode acabar ajudando o PT em sua tentativa de reconstruir as pontes com a ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula.

A própria senadora já admite que o PV não deve fechar uma posição única: “Em um partido que tem a diversidade do PV não dá para imaginar um processo unânime. Temos posições diversificadas”, disse.

Uma primeira queda-de-braço interna já foi vencida por Marina. O presidente nacional do PV, José Luiz Penna, defendia inicialmente que a posição do partido no segundo turno fosse definida pela Executiva Nacional, composta por 60 pessoas e com posição majoritariamente pró-Serra.

Marina queria uma discussão mais ampla, com a participação de todos os setores da sociedade que a apoiaram. Finalmente, foi definido que na convenção do dia 17 também terão direito a voto os 15 deputados federais eleitos pelo PV, todos os candidatos a governador e a senador do partido nas últimas eleições e um grupo de 15 pessoas indicadas por Marina.

PV tucano

Além de Penna, outra liderança do PV que deve defender o apoio a Serra na convenção é o deputado Fernando Gabeira, candidato derrotado ao governo do Rio de Janeiro com o apoio do PSDB: “Eu assumi um compromisso de aliança e pretendo cumpri-lo. Meu apoio é ao Serra, a menos que o partido me proíba disso, o que acredito que não vai acontecer”, disse Gabeira.

O PV de São Paulo, que compõe a base de apoio da gestão do PSDB no governo estadual e ocupa duas secretarias na gestão de Gilberto Kassab (DEM) na prefeitura da capital paulista, também defende o apoio a Serra. O candidato ao governo pelo PV, Fábio Feldmann (que começou sua carreira política no PSDB paulista), já teria iniciado contatos com a direção de campanha do tucano, assim como os secretários municipais Eduardo Jorge e Marcos Belizário.

Líder da bancada do PV na Assembléia Legislativa, o deputado Edson Giriboni, defende o apoio à candidatura de Serra no segundo turno: “Aqui em São Paulo a parceria entre o PV e Serra foi boa tanto para o partido quanto para o governo. Há uma tendência natural de continuar dessa maneira”, disse.