PMDB já articula projeto para sucessão de Cabral

Luiz Fernando Pezão (dir), com o governador reeleito do Rio, Sérgio Cabral (Foto: Rafael Andrade/Folhapress) Rio de Janeiro – “O segundo mandato começou no dia seguinte à eleição”. A afirmação, […]

Luiz Fernando Pezão (dir), com o governador reeleito do Rio, Sérgio Cabral (Foto: Rafael Andrade/Folhapress)

Rio de Janeiro – “O segundo mandato começou no dia seguinte à eleição”. A afirmação, feita pelo governador Sérgio Cabral (PMDB) após o anúncio da troca de comando na secretaria estadual de Educação, é um sinal da reacomodação de forças políticas no Rio de Janeiro iniciada após o veredicto das urnas em 3 de outubro.

Reeleito com folgada maioria na Assembléia Legislativa (Alerj), apesar do aumento da bancada de oposição, Cabral já trabalha politicamente de olho nas eleições municipais de 2012 e na sua própria sucessão daqui a quatro anos.

O projeto de poder do PMDB no Rio de Janeiro passa por comandar o governo estadual e a prefeitura da capital durante todo o processo de preparação e realização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016.

Para tanto, Cabral precisará fazer seu sucessor. Ciente disso, o governador já prepara o nome de seu vice, Luiz Fernando Pezão, que tem excelente trânsito entre os prefeitos fluminenses e conta com a simpatia dos principais aliados do PMDB no estado, como PT, PSB e PCdoB, entre outros.

Para pavimentar o caminho de Pezão ao Palácio Guanabara, Cabral deverá fazer com que seu vice assuma no segundo mandato uma supercoordenadoria de infraestrutura que controlará as áreas de obras e saneamento. Nesse posto, Pezão será o principal interlocutor com o governo federal, além de coordenador das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e também das obras voltadas aos grandes eventos esportivos.

Além da troca de Tereza Porto por Wilson Risolia na Secretaria de Educação, Cabral já confirmou a permanência dos secretários José Mariano Beltrame (Segurança Pública), Sérgio Côrtes (Saúde), Júlio Lopes (Transportes), Alexandre Cardoso (Ciência e Tecnologia), Renato Vilela (Fazenda) e Leonardo Picciani (Habitação). Em relação às outras secretarias, o governador afirma que ainda vai pensar na melhor forma de acomodar os 15 partidos que o apoiaram.

Principal aliado do PMDB em nível nacional, o PT elegeu cinco deputados federais e seis estaduais. O partido comandou duas secretarias (Assistência Social e Meio Ambiente) durante o primeiro mandato de Cabral. Titular da pasta de Assistência Social, a ex-governadora Benedita da Silva se elegeu deputada federal e ainda vai decidir se continua na secretaria. Se optar por Brasília, Benedita deverá indicar o novo secretário.

A área de Meio Ambiente deverá continuar sob a influência do ex-ministro Carlos Minc, reeleito deputado estadual. Também cotado para voltar ao Ministério do Meio Ambiente em um eventual governo da petista Dilma Rousseff, Minc tem como opções retornar ao secretariado de Cabral ou lutar pela permanência da atual secretária, Marilene Ramos.

Aliados

O PSB, que elegeu três deputados federais e quatro estaduais, manterá o deputado federal reeleito Alexandre Cardoso na Secretaria de Ciência e Tecnologia e, após a eleição do ex-jogador de futebol Romário como um dos mais votados do estado (146,8 mil votos), pode ganhar papel de maior destaque na organização da Copa e das Olimpíadas.

O PCdoB elegeu apenas um deputado federal e um estadual e deve continuar atuando na área de turismo e ocupando cargos de segundo escalão. A presença do ministro dos Esportes, Orlando Silva, também pode aumentar a participação dos comunistas na coordenação dos eventos esportivos.

Um personagem político com novo peso no leque de apoios a Cabral é o PDT que, graças à fantástica votação de Wagner Montes (528,6 mil votos), elegeu onze deputados estaduais, entre eles a atriz Myrian Rios e o ex-jogador de futebol Bebeto.

Apesar de a direção do PDT afirmar que não almeja cargos na administração estadual, é provável que o governador ceda espaço em seu segundo mandato para o partido que terá, a partir do ano que vem, a segunda maior bancada na Alerj.

Fator Garotinho

A grande novidade na relação de Sérgio Cabral com a Alerj em seu segundo mandato será o ressurgimento em força do ex-governador Anthony Garotinho no cenário político estadual. Além de se eleger deputado federal com uma votação (694,8 mil votos) que permitiu ao PR eleger outros sete deputados federais, Garotinho apostou de forma certeira na eleição da filha Clarissa como deputada estadual.

Tendo Clarissa (118,8 mil votos) e o pastor evangélico Samuel Malafaia (134,5 mil votos) como puxadores da legenda, o PR conseguiu eleger uma bancada de nove deputados estaduais, configurando a terceira maior bancada – a maior da oposição -na Alerj.

Ao contrário da bancada fluminense do PR na Câmara em Brasília, que pode se dissolver em caso de condenação de Garotinho pela Justiça Eleitoral, o partido não corre riscos de perder deputados em âmbito estadual e será uma força política que Cabral terá obrigatoriamente que levar em conta nos próximos anos.

Picciani, Dilma e Temer

Um dos maiores aliados de Sérgio Cabral durante seu primeiro mandato, o atual presidente da Alerj, Jorge Picciani, não voltará à casa, uma vez que foi candidato derrotado ao Senado pelo PMDB. Apesar de ter revelado alguma mágoa na reta final da campanha por conta do não apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Picciani permanece alinhado com Cabral.

Além de ter garantido o filho Leonardo mais uma vez na Secretaria de Habitação, ele deve cumprir papel de destaque nos próximos dois anos como presidente do PMDB no Rio: “Vou me aplicar imensamente na reeleição do prefeito Eduardo Paes daqui a dois anos”, diz o deputado.

Enquanto planeja seu segundo mandato como um espaço de fortalecimento para aliados como Pezão, Paes e Picciani, o governador afirma que não pretende concorrer novamente a um cargo eletivo: “Já fui deputado estadual e senador e a Câmara Federal não me atrai. Não quero voltar a ser parlamentar, acho que já cumpri meu ciclo no parlamento”, afirmou em entrevista publicada no domingo (10) pelo jornal O Globo.

Indagado pelos jornalistas se não pretendia concorrer a um cargo mais alto que o Governo do Estado, Cabral respondeu: “Ora, se eu estou francamente dedicado à Dilma Rousseff presidente, não posso torcer para que ela e meu companheiro de partido Michel Temer façam um mau governo. Tenho certeza de que a Dilma vai ganhar”.