Nicolelis apoia Dilma pela continuidade dos avanços na ciência

Para o cientista, é indiscutível que o setor avançou muito no governo Lula

São Paulo – O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, hoje um dos mais importantes cientistas do mundo, reafirma seu apoio à candidatura Dilma. “Lula trouxe a ciência para o primeiro plano da política nacional de desenvolvimento estratégico do país. Precisamos garantir que esse projeto não seja interrompido”, sustenta à Rede Brasil Atual.

Entre as principais ações destacadas estão os 123 Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia espalhados por todo o país, financiados com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), fundos setoriais, Ministérios da Saúde e da Educação, Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Petrobras e fundações de apoio à pesquisa dos diferentes estados participantes.

Desde 1994, Nicolelis dirige o centro de neurociência na universidade americana de Duke, na Carolina do Norte, onde pesquisa as origens da doença de Parkinson e meios para controlar ou amenizar seus efeitos. Pioneiros, os estudos abrem novos caminhos também para o enfrentamento de outras doenças do sistema nervoso. No Brasil, ele coordena o Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS), na capital do Rio Grande do Norte, que ajudou a fundar, e é o primeiro a ganhar os dois mais importantes prêmios do governo americano no mesmo ano (2010).

Os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia acertam e inovam, na visão do pesquisador, porque concebem a ciência como agente de inclusão e transformação social. “Pela primeira vez no Brasil os editais exigiram uma plataforma para inclusão social na região em que esses institutos estariam sendo instalados. Exatamente como no IINN-ELS”, explica. O instituto, localizado em Natal, mantém uma escola que leva educação e ciência a mil crianças das regiões mais carentes da cidade.

No entanto, ele diz que Lula deixa para seu sucessor o desafio de desburocratizar o trabalho do cientista. “Nos Estados Unidos, em três meses são liberados recursos para cinco anos de trabalho. No Brasil, as normas para financiamento de pesquisa são as mesmas que regem licitação para a construção de uma usina hidrelétrica”, critica.

Outro problema apontado é o elitismo que perdura mais de quatro décadas. Entidades como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e Academia Brasileira de Ciências, segundo ele, mantêm um discurso corporativista, ultrapassado, e nada fizeram de efetivo pela popularização do setor no país. 

“O que queremos é uma ciência popular, que atinja o cidadão comum, para que ele saiba a relevância para a sua vida e para o desenvolvimento do país. A ciência tem que pertencer a todo cidadão brasileiro e não apenas às elites de São Paulo e do Rio de Janeiro, de onde saem 80% dos cientistas brasileiros”.

Ele defende também que os pesquisadores busquem projetos criativos e inovadores, que não se limitem a copiar ou adaptar o que se faz lá fora. “Sabemos fazer isso muito bem. O que temos de melhor em termos de tecnologia e inovação, como extração de petróleo em águas profundas e o biodiesel, por exemplo, são frutos da criatividade brasileira”.

A projeção internacional de Nicolelis veio quando conseguiu que um macaco movesse um braço robótico com a “força do pensamento” transmitida por uma prótese implantada no cérebro do animal. Posteriormente, em outro experimento pioneiro, seu grupo realizou transmissões de comandos neuronais entre símios localizados em diferentes continentes. Equipamentos registraram a atividade dos neurônios de uma fêmea enquanto andava em uma esteira em um laboratório nos Estados Unidos. Os dados foram enviados, via satélite, ao Japão, onde um macaco andou sob o comando cerebral do primata americana. Isso sugere, segundo Nicolelis, a possibilidade futura de pessoas com paralisia voltarem a andar. 

Presente ao lançamento do programa da candidata Dilma para a ciência e tecnologia, na última sexta-feira (15), ele declarou seu apoio e pediu atenção ao enfrentamento desses desafios por meio de mecanismos de inserção dos jovens na produção científica brasileira. Tamanho engajamento, no entanto, não sinaliza sua participação no governo caso a candidata do PT seja eleita. “Meu grande projeto é continuar trabalhando voluntariamente pelo Brasil, mas fora do governo”, afirma.

 

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