Leonardo Boff e Frei Betto defendem voto em Dilma

Religiosos ligados a movimentos progressistas da Igreja Católica criticam campanha baseada em preconceitos e boatos e manifestam apoio à candidatura governista

São Paulo – Em artigos, duas figuras originárias da Igreja Católica defendem a candidatura governista de Dilma Rousseff (PT). Ambos citam o combate à pobreza e à desigualdade social para pontuar os motivos do apoio. A posição contrasta com a de religiosos, inclusive de bispos da estrutura clerical, que recomendaram oposição a postulantes do PT em função da posição da legenda sobre a descriminalização do aborto.

Para Frei Betto, em artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo neste domingo (10), é “difamatória” e “terrorista” a campanha promovida contra Dilma, acusando-a de ser “‘abortista’ ou contrária aos princípios evangélicos”. “Se um ou outro bispo critica Dilma, há que se lembrar que, por ser bispo, ninguém é dono da verdade”, atesta (clique aqui para ler o original no jornal, ou aqui para a reprodução)

O frade dominicano foi assessor da Presidência da República nos primeiros anos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Ele sustenta que conhece a candidata governista desde a infância, já que ela era amiga de sua irmã. “Ex-aluna de colégio religioso, dirigido por freiras de Sion, Dilma, no cárcere (durante a ditadura militar), participava de orações e comentários do Evangelho. Nada tinha de ‘marxista ateia'”, escreveu.

Ele conclui o texto citando passagens do Evangelho em que se prega a ação efetiva a favor dos mais pobres, em vez de ficar “batendo no peito e proclamando o nome de Deus”. Frei Betto vê um Brasil menos desigual e com menos pobreza ao final de oito anos de governo Lula, resultados de práticas que ele considera condizentes com os preceitos cristãos.

“Isso o governo Lula tem feito, segundo a opinião de 77% da população brasileira, como demonstram as pesquisas. Com certeza, Dilma, se eleita presidente, prosseguirá na mesma direção”, completa.

Projetos diferentes

Leonardo Boff, escritor e teólogo, analisa questões relacionadas aos projetos de país representados pelas candidaturas. Sem mencionar questões religiosas nem relacionadas ao aborto, Boff defende o projeto político do PT por ser construído “de baixo para cima e de dentro para fora”. No primeiro turno, o escritor, uma referência na defesa do desenvolvimento sustentável ambiental e socialmente, apoiou Marina Silva (PV).

“(O projeto do PT) quer forjar uma nação autônoma, capaz de democratizar a cidadania, mobilizar a sociedade e o Estado para erradicar, a curto prazo, a fome e a pobreza, garantir um desenvolvimento social includente que diminua as desigualdades”, pontua o teólogo. “Esse projeto quer um Brasil aberto ao diálogo com todos, visa a integração continental e pratica uma política externa autônoma, fundada no ganha-ganha e não na truculência do mais forte”, completa.

O artigo, publicado na quarta-feira (6), sustenta que o projeto encampado pelo candidato da oposição, José Serra (PSDB) é pautado pelo agronegócio, chamado por ele de “agrobusiness, o latifúndio tecnicamente moderno e ideologicamente retrógrado”. Ele qualifica o ideário de “neoliberal”, apesar “da derrota de suas principais teses na crise econômico-financeira de 2008”.

Na visão de Boff, a candidatura do PSDB defende “o caráter altamente depredador do processo de acumulação, concentrador de renda que tem como contrapartida o aumento vertiginoso das injustiças, da exclusão e da fome” (clique aqui para ler).

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