Para Chico Buarque, Dilma herda ‘senso de justiça social’ de Lula

Encontro de artistas no Rio de Janeiro reúne centenas de pessoas. Ato foi raro momento de emoção na campanha

Dilma ao lado de Chico Buarque em ato com centenas de pessoas (Foto: Ivone Perez)

Rio de Janeiro – O ato organizado por artistas e intelectuais em apoio à candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, realizado na noite de segunda-feira (18) no Rio de Janeiro, foi um dos mais vibrantes momentos da campanha eleitoral até aqui. Centenas de artistas e intelectuais, além de parlamentares, jornalistas, ambientalistas e militantes, lotaram o tradicional Teatro Casa Grande, no bairro do Leblon, e levaram seu apoio à petista. Do lado de fora, cerca de mil pessoas tentavam entrar no teatro.

Com um nível de emoção acima da média até aqui registrada nesta campanha, o ato lembrou antigas jornadas da esquerda carioca e teve direito a palavras de ordem, lágrimas e uma pequena manifestação de rua após o evento.

O clima de emoção se justificava. Uma hora antes do início previsto para o ato, o Casa Grande já recebia nomes de peso da nossa cultura e política, como Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Alcione, Chico César, Wagner Tiso, Paulo Betti, Fernando Morais, Sérgio Mamberti, Osmar Prado, Hugo Carvana, Marilena Chauí, João Pedro Stédile, Leci Brandão, Ziraldo, José Celso Martinez Corrêa, Márcio Thomaz Bastos, Saturnino Braga e Jaques Wagner, entre muitos outros. A confraternização política atingiu seu ápice quando adentraram o palco, pouco antes da chegada de Dilma, a cantora Beth Carvalho e o arquiteto Oscar Niemeyer, ambos em cadeiras de roda. Sob os gritos de “Olê, Olá, Dilma, Dilma!”, os aplausos de pé à dupla foram longos e emocionados.

Principais organizadores do manifesto e do ato, o sociólogo e professor Emir Sader e o teólogo e escritor Leonardo Boff também foram muito festejados pelo público presente ao Casa Grande. Nada comparado à recepção dedicada ao cantor, compositor e escritor Chico Buarque de Hollanda, único a entrar no palco depois de Dilma, que foi ovacionado pela plateia e, numa cena que já é tradicional, ficou rubro ao escutar gritos femininos de “lindo” e “gostoso”, alguns deles saídos das bocas de conhecidas atrizes globais.

Mestre de cerimônias, o ator Osmar Prado deu início ao ato: “Esta casa recebe, como em outros momentos da história, representantes da inteligência, da sensibilidade e da criatividade brasileiras para escrever mais um capítulo da construção da democracia plural, mestiça, multicultural e sustentável que sonhamos com todos os brasileiros e brasileiras para o Brasil do século 21. Reafirmamos o compromisso com a continuidade e o aprofundamento das conquistas alcançadas pelo povo brasileiro ao longo dos oito anos do governo Lula, com liberdade, com democracia, com inclusão social, com respeito ao meio ambiente e com soberania nacional”, disse.

Em seguida, foram distribuídas a todos cópias do manifesto: “Nós, que no primeiro turno votamos em distintos candidatos e em diferentes partidos, nos unimos para apoiar Dilma Rousseff. Fazemos isso por sentir que é nosso dever somar forças para garantir os avanços alcançados. Para prosseguirmos juntos na construção de um país capaz de um crescimento econômico que signifique desenvolvimento para todos, que preserve os bens e serviços da natureza, um país socialmente justo, que continue acelerando a inclusão social, que consolide, soberano, sua nova posição no cenário internacional”, diz um trecho do documento.

Panfletos obscenos

Após reafirmar o conteúdo do manifesto, Emir Sader recebeu vigorosos aplausos ao ressaltar que a alternativa à Dilma Rousseff “é o obscurantismo, a intolerância, a repressão, é o caminho do fascismo”. O sociólogo comemorou o sucesso do ato e disse que a idéia inicial era repetir o encontro de artistas e intelectuais com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizados na casa de shows Canecão em 2002 e 2006: “Peço desculpas aos que não conseguiram entrar, pois não sabíamos que a receptividade iria ser tão grande. De qualquer maneira, o Maracanã está em reformas”, brincou, para delírio da platéia.

A plateia do ato pró-Dilma também reagiu com entusiasmo à participação da filósofa Marilena Chauí, que levou com ela alguns exemplares do panfleto “católico” que traz inúmeras acusações à candidata do PT: “Isso é obsceno. Ele é religiosamente obsceno e politicamente obsceno. Religiosamente obsceno porque é uma violência contra o ecumenismo religioso, a liberdade de crença e a liberdade de religião. É uma violência inenarrável e inadmissível. É também uma obscenidade política porque recusa aquilo que caracteriza o que é o núcleo da democracia republicana moderna, que é o caráter laico do Estado”, disse Marilena, que resumiu a importância da vitória de Dilma: “Nossa batalha é pela consolidação da democracia no Brasil”, disse.

Aplaudidíssima em sua primeira aparição pública após uma internação, a cantora Beth Carvalho leu uma carta que fez para Dilma: “Estou me recuperando de uma cirurgia, mas fiz questão de vir aqui hoje pessoalmente para dizer a todo o Brasil e principalmente à essa guerreira chamada Dilma Rousseff o meu apoio. Ela já provou, principalmente nos últimos oito anos de governo, que tem sido a melhor administradora que esse Brasil poderia ter, que sabe governar e que por isso ajudou a conquistar a maior popularidade que um governo já teve na história do nosso país. É por isso que o Brasil vai te eleger”, disse Beth, que levou o Casa Grande novamente ao delírio ao puxar “Deixa a Dilma me levar, Dilma leva eu”, em versão do samba consagrado na voz de Zeca Pagodinho.

Chico e Boff

Estrela entre as estrelas, chamado de “anjo Gabriel” por Leonardo Boff, Chico Buarque também deu o seu recado: “Vim aqui reiterar meu apoio entusiasmado à Dilma, uma mulher de fibra que passou por tudo, que não tem medo de nada e que, sobretudo, vai herdar o senso de justiça social que é a marca do governo Lula. Governo que não corteja os poderosos de sempre e que não tem em sua índole desprezar os sem-terra, os professores, os garis. Temos hoje um país que é ouvido em toda parte porque fala de igual para igual com todo mundo. Não fala fino com Washington nem fala grosso com Bolívia e Paraguai. Por isso mesmo, o Brasil é ouvido e respeitado no mundo inteiro como nunca antes na história deste país”, disse o autor de “Apesar de Você”.

Último a falar antes do discurso de Dilma, Boff, que apoiara Marina Silva no primeiro turno, manifestou apoio taxativo à candidata do PT: “Se a esperança com Lula venceu o medo, agora com Dilma a verdade vai vencer a mentira. Acho que essa eleição é mais do que o confronto entre dois candidatos. É o confronto entre duas propostas para o Brasil. O destino brasileiro depende da vitória de Dilma porque se a oposição ganhar nós vamos ter imensos retrocessos”, disse.

Boff disse ainda que “a primeira coisa que temos de garantir é a revolução extraordinária que Lula fez no sentido definido por Caio Prado Júnior, ou seja, aquelas transformações que atendem às necessidades fundamentais de um povo e definem um rumo novo para um país. Essas necessidades fundamentais foram em grande parte realizadas no governo Lula”.

Constelação

Além dos artistas já citados, estiveram presentes ao ato de apoio à Dilma no Teatro Casa Grande figuras públicas como Margareth Menezes, Elba Ramalho, Rosemary, Antônio Grassi, Naná Vasconcelos, Jorge Salomão, Antônio Pitanga, Yamandú Costa, Renato Borghetti, Luiz Carlos Barreto, Otto, Hildegard Angel, Teresa Cristina, Perfeito Fortuna, Pedro Tierra, Marcelo Serrado e Cristina Pereira, entre outros. Vários artistas que não puderam comparecer mandaram mensagens de apoio à petista, como os aplaudidos Gilberto Gil, Zeca Pagodinho e Mano Brown.

Também assinam o manifesto de apoio à Dilma os artistas: Aderbal Freire-Filho, Alessandra Negrini, Aldir Blanc, Carlinhos Vergueiro, Chico Diaz, Débora Colker, Diogo Nogueira, Dira Paes, Domingos de Oliveira, Ednardo, Isaac Karabishevsky, Francis Hime, João Bosco, José Padilha, Jorge Furtado, Lucélia Santos, Martinho da Vila, Miúcha, Neguinho da Beija-Flor e Renato Teixeira, entre outros. O texto do manifesto, assim como a totalidade das assinaturas, pode ser visto na internet (www.dilmanarede.com.br).

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