Aliados apostam que Dilma herdará votos de Marina

Em reunião realizada em Brasília, integrantes da campanha petista evitam apontar falhas que levaram ao 2º turno. Ainda assim, onda de boatos é vilã

Brasília – A coligação que sustenta a candidatura de Dilma Roussef (PT) demonstra confiança na confirmação de vitória no segundo turno. No geral, os participantes da reunião entre governadores, senadores e coordenadores adotaram o discurso de que há favoritismo por parte da ex-ministra. 

O encontro foi uma demonstração da força da base aliada, um dia depois dos 47% obtidos no primeiro turno. Foram reunidos governadores reeleitos com percentual altíssimo de votos, como Eduardo Campos e Sérgio Cabral, governadores eleitos, como Cid Gomes e Renato Casagrande, senadores eleitos e em mandato, como Eduardo Suplicy, Édison Lobão, Marta Suplicy e Marcelo Crivella, além de quadros partidários e coordenadores de campanha.

 

 

A análise é de que a maioria dos 19,6 milhões de votos de Marina Silva (PV) tendem naturalmente à candidata governista. “Algumas pessoas acharam que estava ganho e resolveram fazer um voto utópico em Marina”, prognostica Cid Gomes (PSB), governador eleito do Ceará.

A leitura, por parte dos presentes à reunião, é de que o alto percentual de votos mostra um recado nas urnas. O senador reeleito no Distrito Federal, Cristovam Buarque (PDT), afirma que Dilma deve, de fato, enfocar o legado de Marina Silva, especialmente em relação a questões ambientais. “Não podemos ignorar que o povo brasileiro deu o recado: também queremos a mudança que Marina propõe”, ponderou o senador.

Para Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência e coordenador da campanha petista, não haverá dificuldade em absorver os eleitores da candidata verde. “Marina obteve êxito quando jogou pelo caminho da terceira via. Mas agora só há duas, que o povo conhece muito bem”, acredita.

Com a análise, Garcia ensaia manter a estratégia de buscar a comparação entre os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e de Fernando Henrique Cardoso. Os governistas apostaram na estratégia de confrontar resultados das gestões como forma de valorizar os feitos dos últimos oito anos.

Boataria

As lideranças da base aliada evitam apontar os problemas que levaram as eleições ao segundo turno e ao fato da de Dilma ter perdido força nas últimas semanas. Os presentes à reunião, realizada em um hotel próximo ao Palácio da Alvorada, evitaram também afirmar que o PT vestiu salto alto na reta final da campanha.

O consenso dentro da coligação é de que a queda nas pesquisas foi aferida à onda de notícias, e-mails e boatos em geral que tentavam desqualificar Dilma Rousseff e o PT. O governador reeleito em Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), considera que houve uma campanha “fascista” de boataria.

Ele se refere principalmente aos boatos que circularam sobre a posição de Dilma a respeito do aborto. Campos lembra o rumo histórico do presidente Lula em segundo turno e a vantagem que Dilma tem como fatores para que a campanha não perca o otimismo. E completa: “Teremos de desfazer a onda de contra-informação que foi feita de maneira bastante severa”.

O senador eleito pelo Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), que tem força no eleitorado evangélico, prometeu trabalhar fortemente para desmentir as informações sobre Dilma Rousseff. “Um pastor tem dificuldade para pedir voto, mas para tirar (os votos) é de uma efetividade tremenda”, explica o parlamentar. Ele tem elos com a Igreja Universal do Reino de Deus e é um dos principais interlocutores da base aliada do governo com eleitores evangélicos.

Marta Suplicy (PT), eleita senadora por São Paulo, concorda com a análise corrente entre cientistas políticos de que o segundo turno foi fruto do crescimento de Marina Silva. “Esses votos não foram para o Serra. Foram para Marina. Uma pessoa ética, de bom senso, e do bem”, elogia, de olho em uma eventual retribuição por parte dos apoiadores da candidata do PV.

A questão central para chegar à vitória seria a possibilidade de obter apoio da terceira colocada na disputa presidencial. Os participantes evitaram falar em contatos oficiais com a campanha de Marina Silva. “Claro que é muito importante o apoio de Marina, mas não será feito por nós nesta reunião. Terá de ser feito com os coordenadores de ambas as campanhas”, esclareceu o senador Romero Jucá (PMDB- RR).

Críticas

Embora sem citações diretas, os integrantes da base aliada indicaram o papel de parte da imprensa, que tem se mostrado excessivamente crítica à candidata Dilma Rousseff. O governador eleito da Bahia, Jaques Wagner (PT), aponta que a ex-ministra é um emblema de um projeto político que tem no presidente Lula a figura central. “As pessoas precisam escolher qual é a crítica. Precisam escolher se acham que Dilma não tem personalidade ou se, ao contrário, tem uma personalidade difícil”, alertou Wagner.

Marco Aurélio Garcia, questionado sobre o episódio em que o presidente Lula foi acusado de fazer pouco caso da imprensa ao afirmar, durante evento no interior paulista, que “a República somos nós”, afirmou: “Ele se referiu a nós como o povo. Sei muito bem que o pensamento da opinião pública é diferente de opinião publicada”, provoca.

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