Candidatura ‘machista’ de esposa de Roriz provoca críticas severas

Brasília – Gerusa Amaral saiu para votar com camisa vermelha neste domingo. Não quis aderir ao azul, ao verde ou ao preto, como pediam algumas correntes de emails. Pelo contrário, […]

Brasília – Gerusa Amaral saiu para votar com camisa vermelha neste domingo. Não quis aderir ao azul, ao verde ou ao preto, como pediam algumas correntes de emails. Pelo contrário, ainda fez questão de colar adesivos em sua roupa: Dilma Rousseff, Agnelo Queiroz, Cristovam Buarque, Rodrigo Rollemberg.

Não quer sabe do pessoal da antiga política do Distrito Federal. Por isso, decidiu rejeitar a candidatura representada pela família Roriz. Se, antes, já não pretendia votar em Joaquim Roriz, ficou muito irritada com o lançamento da esposa, Weslian, lançada à disputa depois que a Justiça Eleitoral rejeitou a candidatura do ex-governador. “É muito triste achar que alguém tomou posse de um estado e que a herança política é como se fosse um reinado, que vai sendo transferido pelos membros da família”, argumenta Gerusa Amaral.

A enfermeira, moradora de Brasília há 33 anos, não está isolada em suas ideias. A simples transferência da candidatura de Roriz para a esposa não foi o que se pode chamar de uma jogada de mestre. Se confirmada a pesquisa de boca de urna, Agnelo Queiroz (PT) seria eleito governador do Distrito Federal com 52% dos votos. Weslian ficou em segundo lugar, com 30%, bem abaixo do percentual que poderia ser alcançado  pelo marido.

Números que expõem dois fatores. O primeiro, que já estava desenhado antes da impugnação da candidatura de Roriz, é de que os eleitores buscavam uma mudança na linha política do Distrito Federal. A década que se encerra foi dominada, primeiro, por Roriz, envolvido em inúmeras denúncias, e, depois, por José Roberto Arruda, que caiu em fevereiro deste ano após ser flagrado no esquema que ficou conhecido como Mensalão do DEM.

O segundo recado é dado pelas mulheres. Pelas ruas de Brasília, a reportagem ouviu muitas eleitoras que se revoltaram com o papel prestado pela esposa de Roriz. Weslian, além de demonstrações de completo despreparo, gerou irritação entre os segmentos femininos ao admitir que o marido seria o verdadeiro administrador de seu eventual governo.

“Sinceramente, é a nova Tiririca de Brasília. Foi o cúmulo do absurdo. Como ela se prestou a esse ridículo? É uma vergonha para nós, mulheres, que isso aconteça”, lamenta Maria do Carmo, empregada doméstica.

Roubando a cena

Weslian roubou a cena da última semana das eleições no Distrito Federal. Não exatamente de uma maneira elegante. O ponto alto foi o debate na Rede Globo, em que a candidata trocou os temas das perguntas, não conseguiu dar resposta a vários temas e chegou a falar que queria “defender toda aquela corrupção.” Ato falho ou não, a fala pegou mal e Weslian logo ganhou o apelido de Mulher Laranja, uma brincadeira em relação às outras mulheres que são candidatas por atributos que não são exatamente políticos, como a Mulher Pera.

“É imoral colocar uma mulher assim para governar. Ter uma governadora que não sabe nem o que é gestão”, lamenta Gerusa Amaral. “A Weslian não tem a menor noção. Nunca a vi envolvida em atos políticos, em comícios do Roriz. Não gosto do PT. Acho que são bagunceiros. Mas tenho de escolher pelo menos pior”, complementa a pensionista Maria do Desterro.

A candidatura de Weslian é lamentada também por seus opositores, qualquer que seja o lugar que ocupem no espectro político. Toninho do PSOL considera que há um forte caráter machista no lançamento da esposa de Roriz ao pleito. “Para mim, foi humilhante para sua condição de mulher e de uma pessoa que poderia, em outras circunstâncias ser candidata, mas não dessa forma, imposta e de última hora em um gesto machista do ex-governador em relação a sua esposa”, afirmou.

O último ato de interesse para a imprensa de Weslian, até o momento, foi o da votação. Frente à urna eletrônica, ela demorou um minuto e 20 segundos para votar e, quando já saía, foi avisada de que não havia confirmado seu voto. Fez meia-volta, apertou o botão e, por fim, ouviu aquele conhecido sininho – a essa altura, estava laranja. De vergonha