Para analistas, bom momento do país e PSDB sem base social explicam Dilma na frente

Analistas reunidos em São Paulo avaliam que falta de ligação da oposição com diferentes estratos sociais

Dilma em campanha presidencial (Foto: Fernando Donasci/Folhapress/Arquivo)

São Paulo – A pequena rede de contato social do PSDB, a dúvida entre ser alternativa ou continuidade e a felicidade da população com o momento do país são os fatores que explicam o atual desenho das eleições presidenciais. Analistas reunidos na capital paulista destacaram que  são esses os fundamentos principais para explicar a provável vitória da candidata da situação, Dilma Rousseff, e a derrota do tucano José Serra.

Três professores da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) reunidos em entrevista coletiva realizada na tarde de quinta-feira (9) mostraram consenso em relação a esses fatores, mas discordam em relação a sua origem.

Para eles, a primeira questão a se levar em conta é a soma de fatores positivos gerada por políticas de redistribuição de renda (como o Bolsa Família), valorização do salário mínimo e o aumento do crédito, que por sua vez impulsiona o consumo. Tudo isso dentro de um ciclo virtuoso do crescimento da economia mais elevado e robusto das últimas décadas, que por sua vez conduziu o desemprego a um dos níveis mais baixos da história brasileira recente.

Para Brasílio Sallum, professor titular da USP e coordenador do Consórcio de Informações Sociais (CIS), entende que são conquistas geradas por esforços iniciados a partir da segunda metade da década de 1990, durante o governo Fernando Henrique Cardoso. “Claro que as ênfases são diferentes. Mas vemos semelhanças como um Estado moderadamente liberal e uma democracia, ainda que com limitações”, defende.

André Singer, do Departamento de Ciências Sociais, tem posição oposta. Ele entende que há muitas diferenças entre os governos FHC e Lula, e uma das questões fundamentais diz respeito ao papel do Estado. Para o professor, não há como enxergar continuidade entre a década de 1990 e o período atual, marcado por incentivo à distribuição de renda, valorização do salário e expansão do consumo. “Isso explica a redução da desigualdade e da pobreza. Sem essas mudanças não teríamos a ativação de um mercado interno de massa que marca a diferença entre este governo e os anteriores”, pontua Singer.

Continuidade ou alternativa?

Um quadro interno tão favorável para a população explica, na visão dos analistas, a dificuldade da oposição em definir uma linha de campanha. Serra começou as eleições intitulando-se o “pós-Lula”, alguém com capacidade de manter as atuais conquistas e de promover as mudanças necessárias. No entanto, o ganho de força de Dilma levou o tucano a adotar uma postura mais crítica em relação ao atual governo.

Sallum pensa que Serra tentou se colocar dentro de uma linha de visão de Estado parecida com a atual, sem anunciar mudanças fundamentais na relação com a sociedade. O professor avalia que isso mostra a dificuldade que a oposição enfrenta para fazer política, independentemente de ser ou não um período eleitoral, por conta de sua falta de contato com diferentes estratos sociais da população.

Em sua visão, trata-se de uma diferença fundamental em relação ao PT, que conta com uma enorme base em movimentos e associações, comunicando-se mais facilmente com a população. “Não há de fato um contraponto, uma polarização. É uma campanha que se assenta numa não-oposição. O PSDB não construiu sua base política. Uma coisa é haver afinidade, outra é haver articulação”, constata.

Para Singer, o PT tem uma identificação muito clara com as massas, ao passo que o PSDB se comunica com a classe média. Isso estabelece programas políticos distintos. “A questão central nas eleições brasileiras, e que vai seguir sendo a questão central por algum tempo, é a da desigualdade”, explica. Em que pese o fato de os tucanos passarem agora por uma situação difícil, o ex-porta-voz da Presidência acredita que PT e PSDB vão continuar polarizando as eleições nacionais, como ocorre nas disputas desde 1994.

Segundo Sallum, o PSDB só conseguiu alcançar esse patamar de polarizar disputas à Presidência com o PT em função da responsabilidade do Ministério da Fazenda no governo Itamar Franco na implantação do Plano Real. “Como FHC executou o Real, conseguiu, esteira do sucesso do plano, eleger uma candidatura que, em outra situação, teria dificuldades”, cogita.

O PT, por outro lado, já vinha inserido no tecido social e tinha força nas disputas eleitorais desde a redemocratização, uma situação que se manteve. Por isso, o professor acredita que o sistema político brasileiro aponta para uma formação na qual o PT poderia se mostrar como o único partido com ligação direta com as massas, ao passo que os outros conseguem formar quadros parlamentares, mas com dificuldades de ir além.

Uma mostra disso tem estado nas atuais pesquisas eleitorais, que perguntam aos brasileiros sobre o partido de preferência. Em média, o PT conta com 30% de eleitores no país inteiro, com um pouco mais de presença no Nordeste. PSDB e PMDB dividem segunda e terceira posições, na média com 6 ou 7% da preferência do eleitorado.

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