No Rio, candidatos sofrem com o repúdio de ‘aliados’

Gabeira, em campanha na comunidade da Mangueira, no Rio (Foto: Divulgação) Rio de Janeiro – A campanha eleitoral de 2010 vem proporcionando inúmeras oportunidades para que os candidatos aos cargos […]

Gabeira, em campanha na comunidade da Mangueira, no Rio (Foto: Divulgação)

Rio de Janeiro – A campanha eleitoral de 2010 vem proporcionando inúmeras oportunidades para que os candidatos aos cargos legislativos dos diversos partidos façam alianças brancas e dobradinhas entre não-coligados ou omitam propositalmente nos comícios e materiais de campanha os “aliados” considerados indigestos. Trata-se de um fenômeno nacional, mas a peculiaridade da disputa no Rio de Janeiro – onde se confundem biografias de esquerda e de direita em alianças que parecem caminhar constantemente sobre a corda-bamba – faz com que a campanha até aqui seja diferente de todas as outras no estado desde a retomada democrática, em 1982.

O caso mais emblemático parece ocorrer na aliança entre PV, PSDB e PPS que sustenta a coligação do deputado federal verde Fernando Gabeira ao governo do Estado. A maioria dos militantes do PV fluminense apresenta repulsa à candidatura ao Senado do ex-prefeito do Rio, Cesar Maia (DEM), companheiro de chapa de Gabeira e principal aliado do candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, no estado. Depois que o PV não conseguiu emplacar a candidatura da vereadora Aspásia Camargo ao Senado, amplos setores do partido passaram a agir como se a candidatura de Cesar não existisse. O nome do ex-prefeito sequer aparece nos panfletos.

É o caso da candidatura a deputado estadual do ex-superintendente do Ibama no Rio de Janeiro, Rogério Rocco, que deve ser um dos puxadores de voto do PV em outubro: “O Cesar Maia fez uma gestão que pode ser considerada em vários aspectos como antiecológica. No caso do Parque Nacional da Tijuca, por exemplo, ele se opôs frontalmente às ações que nós promovemos para moralizar o acesso ao Corcovado e eliminar as quadrilhas que atuavam no desvio de recursos da arrecadação. Portanto, não tem nenhuma condição de pedir voto para uma pessoa dessas, porque seria rasgar a minha biografia e também o próprio programa do Partido Verde”, afirma Rocco.

Além da dificuldade em engolir Cesar, também é evidente no PV do Rio o mal-estar com a candidatura Serra, sobretudo entre aqueles que vieram do PT com a senadora Marina Silva. A relação com os tucanos, aliás, parece ter azedado de vez depois que estes não compareceram com a ajuda financeira prometida à campanha de Gabeira. Esta semana, o verde declarou à Justiça Eleitoral ter arrecadado até aqui apenas R$ 100 mil, enquanto seu principal concorrente, o governador Sérgio Cabral (PMDB) declara ter arrecadado R$ 4,7 milhões. Resolver essa pendenga teria sido um dos motivos da ida de Gabeira a São Paulo, nesta semana, onde fez atividade de rua ao lado de Serra.

Outra dificuldade é o próprio DEM que, face ao distanciamento entre Serra e a candidata do PT, Dilma Rousseff, nas pesquisas, resolveu bater também em Marina, tarefa que o candidato a vice Indio da Costa, sempre ele, parece ter assumido com particular prazer: “Marina tem qualidades, mas a disputa para valer é entre Serra e Dilma”, disse Indio, durante a recente inauguração de um comitê de Serra no Rio. Também continua sem solução a situação do prefeito de Duque de Caxias, José Camilo Zito (PSDB), candidato a reeleição e principal liderança política da Baixada Fluminense. Zito simplesmente se recusa a fazer campanha para Gabeira, a quem já criticou por “defender veados e maconheiros”.

PT x PMDB

No outro lado da trincheira eleitoral, na aliança liderada por PMDB e PT, o cenário se repete. O caso mais notório também acontece no Senado, onde petistas repudiam a candidatura do presidente da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Jorge Picciani, enquanto peemedebistas, sobretudo os do interior do Estado, fazem de tudo para esconder o ex-prefeito de Nova Iguaçu e candidato do PT ao Senado, Lindberg Farias.

Alguns candidatos petistas, como o deputado estadual Alessandro Molon, que agora tenta vaga na Câmara em Brasília, preferem omitir também o próprio Sérgio Cabral a afrontar sua base eleitoral e sua trajetória política: “Ao longo do mandato, denunciei uma série de irregularidades do governo Cabral, assim como me opus à atuação do presidente da Alerj. Como vou, agora, pedir votos para essas pessoas?”, indaga Molon, que em seu material de campanha traz apenas os nomes de Dilma e de Lindberg.

O mesmo acontece com o dirigente sindical Professor Túlio, que é candidato a deputado estadual pelo PT: “Eu não tenho como apoiar, eu não posso apoiar Sérgio Cabral e Picciani, pois a minha categoria, os professores e funcionários de escola, realizou várias manifestações e greves contra esse governo que em nenhum momento se dispôs a valorizar os profissionais da educação e nunca defendeu uma educação de qualidade, como o sindicato defende”, afirma.

Para embaralhar ainda mais as cartas eleitorais no Rio de Janeiro, Fernando Gabeira afirmou no fim de julho que conta com o apoio de petistas: “Há pessoas no PT que jamais votariam no Cabral e estão fazendo a minha campanha”, garante, dizendo não citar nomes “para evitar retaliações”. A afirmação é contestada, ma non troppo, pelo candidato ao Senado Lindberg Farias: “O PT do Rio respeita Gabeira e não vai, nunca, hostilizar o Gabeira. Mas, o partido está fechado com o PMDB em torno das candidaturas de Dilma e Cabral, além da minha própria para o Senado”, disse Lindberg, esquecendo de mencionar o “colega” de chapa Jorge Picciani.

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