Após duas semanas, campanha eleitoral ainda espera por Lula

Analistas avaliam dimensão da influência do presidente Lula. Início do período oficial de disputa pelo voto é marcado por promessas e participação de Indio da Costa (DEM) como 'porta-voz da agressividade' da oposição.

Equilíbrio e dúvidas sobre o “peso” de Lula sobre decisão do eleitorado permanecem até aqui (Fotos: Roberto Stuckert Filho/Divulgação e Ana Paula Oliveira/Divulgação TV Brasil)

São Paulo – As duas primeiras semanas de campanha oficial seguem o ritmo do período anterior, quando as candidaturas já estavam definidas, mas mantém um padrão atípico em relação a pleitos anteriores. A avaliação é de cientistas políticos entrevistados pela Rede Brasil Atual. O cenário indica um período intenso de campanha nos meses de agosto e setembro, apesar de a campanha ter sido antecipada em função da desincompatibilização dos postulantes, em abril.

Ricardo Caldas, professor da Universidade de Brasília (UnB), não vê movimentos decisivos até o momento, sendo que a disputa presidencial vem sendo marcada por um grande equilíbrio. “Nenhum candidato despontou como franco favorito”, pondera. Nem o favoritismo apontado até 2009 de José Serra (PSDB), nem o de Dilma Rousseff (PT), defendido neste ano, se confirmaram.

Para o cientista político Humberto Dantas, as duas primeiras semanas de campanha presidencial oficial mantiveram o ritmo igual ao período anterior. Apesar de continuar com muitas entrevistas à mídia e atividades. Para ele, os rumos da disputa ainda tendem a mudar quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcar definitivamente na campanha.

“Lula estrapolou todos os limites do razoável (na pré-campanha), mas ele não usou tudo o que ele pode usar em benefício da Dilma”, destaca. “Certamente ele vai protagonizar o horário eleitoral do PT. Alguém imaginou o que aconteceria quando o Lula aparecer chorando no programa do PT”, avalia.

Caldas, porém, pondera que 75% dos eleitores, segundo a pesquisa Datafolha, já associam Dilma como candidata governista. “Lula já entrou na campanha. Sua influência existe, mas não se sabe o quanto representa”, sustenta. “Ele pode ser decisivo para os 25% que ainda não sabem que Dilma é sua candidata, mas não é possível que parcela deles vai aderir à recomendação do presidente”, avalia.

“Se as eleições fossem hoje, eu diria com 99% de certeza que haveria segundo turno. Mas até o fim da disputa, o papel dos debates deve ser bastante decisivo, mais do que em anos anteriores”, acredita Caldas.

Na mídia

Para Dantas, a campanha começa apenas agora a alcançar a opinião pública em função do fim da Copa do Mundo de futebol e da redução da cobertura na mídia de outros eventos – como o caso do goleiro Bruno Fernandes e, mais recentemente, do filho da apresentadora Cissa Guimarães. “Agora o novo calendário da mídia tem de assumir a eleição como evento mais relevante”, avalia.

Ele avalia que apenas a disputa à Presidência está em evidência, e lembra que há 54 vagas em disputa no Senado, 513 na Câmara Federal, 1.059 distrital e estadual, 27 de governador.

“A campanha presidencial foi muito antecipada”, avalia Dantas. O motivo foi a necessidade de desincompatibilização de José Serra (PSDB) do governo de São Paulo e de Dilma Rousseff (PT) do cargo de ministra-chefe da Casa Civil. “A diferença agora é que o ‘promessômetro’ foi ligado em um limite muito forte”, pondera.

Os compromissos assumidos durante a campanha têm relação, na visão do cientista político, com o cenário de empate técnico ou proximidade de percentual de intenção de voto dos candidatos à frente nas pesquisas.

“O cenário leva os candidatos a fazer ‘médias’ em ritmo maior que o normal, como o Serra dizendo não ser oposição ao Lula, e a Dilma dizendo nunca ter sido favorável ao aborto”, comenta. “Os candidatos estão jogando para o público, para a galera e, em algum momento, isso será cobrado deles”, acredita.

Vice

Dantas ressalta a diferença entre os candidatos a vice. Enquanto Indio da Costa (DEM) tem assumido uma postura de porta-voz da agressividade, Michel Temer (PMDB) mantém uma postura discreta. “Temer é uma figura para ser estudada pela antropologia, mas mesmo que ele tenha de assumir a Presidência, ele continuará a ser desconhecido, ele faz uma opção por ser oculto, de bastidores”, constata.

Ele ressalta que os vices, em geral, não têm um papel importante na conquista de votos. “O que o Indio quer fazer é mostrar que existe utilidade em sua indicação, mas se sabe que um vice pouco ajuda, mas pode atrapalhar muito, porque o brasileiro não escolhe o candidato pelo vice”, pondera.