Para analistas, arrecadação e alianças explicam ‘tensão’ envolvendo pesquisas

Cientistas políticos veem manutenção de tendência de crescimento de Dilma e explicam por que partidos se preocupam com levantamentos eleitorais na pré-campanha

Coordenação de campanhas de Serra e de Dilma de olho na pesquisa para definir estratégia eleitoral (Fotos: Janine Morais e Roberto Stuckert Filho)

São Paulo – O crescimento da pré-candidata à Presidência da República, Dilma Rousseff (PT), é uma tendência que deve se manter pelo menos até o início do período de campanha eleitoral, segundo cientistas políticos ouvidos pela Rede Brasil Atual.

O que pode explicar a apreensão na expectativa das pesquisas está relacionado a questões como arrecadação de doações e formação de alianças – o que proporciona mais tempo de horário eleitoral gratuito.

Segundo Leonardo Barreto, cientista político da Universidade de Brasília (UnB), a tensão é tanta que, pela primeira vez na história brasileira, um partido político processou um instituto de pesquisa.

No primeiro aspecto, Dilma tem vantagem, já que a composição atual lhe daria mais de nove minutos contra cinco do pré-candidato José Serra (PSDB). Em termos de arrecadação, a inquietação diz respeito ao fato de o tucano não ganhar votos desde setembro de 2009, além de ter saído de um viés de estagnação para um de baixa.

Arrecadação

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a arrecadação de doações de campanha só pode ser feita após o dia 6 de julho, data do início da campanha. A partir desta data – ou dez dias após a convenção partidária –, constituem-se os comitês financeiros e as pessoas jurídicas responsáveis pela contabilidade da campanha podem ser criadas, bem como as contas bancárias que operam receitas e despesas. A negociação de doações, porém, se arrasta desde antes do período.

“As pesquisas são tão importantes nessa situação e geram tanta tensão porque tanto partidos, quanto financiadores, usam os dados para fazer suas apostas”, explica.

“Os últimos levantamentos têm desmotivado bastante o PSDB, o que pode atingir a política de captação de recursos do partido”, pondera. Mais adiante, em uma eventual segunda colocação, o cenário ficaria difícil caso a legenda fique sem saúde financeira para ‘correr atrás’ no período propriamente da campanha.

Segundo Antônio Augusto Queiroz, assessor parlamentar do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), chegar na frente das pesquisas no dia 6 de julho, quando começa o calendário de campanha oficial, tem efeitos antes de tudo psicológicos.

“Em todas as eleições presidenciais (desde a redemocratização), quem estava na frente no momento em que começa o horário eleitoral ganhou”, alerta. Há exceções nas disputas estaduais e municipais, mas tanto Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso – em 1994 e 1998 – quanto Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002 e 2006, tinham essa condição. Apesar de ser um bem precioso para a disputa, o pesquisador considera que, neste ano, o horário eleitoral “dificilmente altera a correlação de forças”, porque ambos os pré-candidatos devem ter recursos, um currículo de serviços prestados para se apresentar bem e palanque nos estados.

Riscos do ataque

O conhecimento de que Dilma é a indicada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o que explica avanço da pré-candidata petista. Os dois analistas consultados corroboram a hipótese de uma disputa polarizada entre duas forças, por considerar que a senadora Marina Silva (PV) dificilmente conseguiria garantir recursos, palanques regionais e exposição suficiente.

Se permanecerem as tendências de crescimento da pré-candidata petista e a de queda do tucano, Serra seria obrigado a deixar a postura amistosa para buscar uma posição mais crítica. “Ambos vão começar a campanha fazendo pose de bonzinho: Serra e Dilma paz e amor”, brinca Barreto. “Mas se os índices dela continuarem altos, ele vai precisar partir para uma estratégia mais agressiva”, pondera.

A “campanha negativa”, mais carregada nas críticas é complicada para reverter um cenário. Um único exemplo bem sucedido dessa estratégia, segundo Barreto, ocorreu em 2002, justamente de Serra contra Ciro Gomes (então no PPS, atualmente no PSB). “Uma campanha ‘batendo’ na ex-ministra seria complicado”, avalia.

Queiroz, do Diap, vai além. Ele alerta para a semelhança entre as plataformas, o que reduz a margem da candidatura atrás nas pesquisas. “Em qualquer lugar do mundo, quando a oposição estabelece como principal arma de campanha a denúncia política é porque há muita coincidência de agenda”, explica. “Como não pode ‘bater programa’ porque são muito parecidos, invocam a condição de honestos e de mais bem preparado para implantar aquele programa que não podem confrontar sem diferenças significativas”, comenta.

O problema é que esse tipo de argumento pode ter baixa adesão junto ao eleitorado. “É muito difícil de convencer o eleitorado de que nas circunstâncias do governo Lula, o PSDB faria melhor”, exemplifica.

Pesquisas

Nos últimos dez dias, três dos quatro principais institutos de pesquisa divulgaram levantamentos sobre a corrida presidencial. Pela primeira vez em quase dois meses, a tendência indicada foi coincidente, com a pré-candidata Dilma Rousseff apresentando crescimento ante retração das intenções de voto do pré-candidato José Serra.
Em todos a petista aparece na frente na espontânea, quando nenhum nome é apresentado ao entrevistado. Na estimulada, o Datafolha, divulgado no sábado (22), aponta empate com 37% dos entrevistados declarando apoio a cada um deles. Vox Populi e Sensus indicam vantagem, inferior à margem de erro, para Dilma.
O Ibope não registrou pesquisas eleitorais nacionais nas últimas semanas. Há apenas levantamentos regionais cadastrados no sistema de acompanhamento de pesquisas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

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