Crise entre Gabeira e Cesar Maia faz balançar o palanque de Serra no RJ

Rejeição ao democrata faz candidato do PV recuar da aliança e alinhamento para um eventual segundo turno na eleição presidencial fica sob risco

Gabeira aponta rejeição da classe média a Cesar Maia como fator decisivo para rachar chapa de oposição no RJ (Foto: Dióginis Santos/Agência Câmara)

Rio de Janeiro – O palanque do candidato tucano à Presidência, José Serra, no Rio de Janeiro está ameaçado. O que no início era apenas um burburinho de insatisfação na base da candidatura ao governo estadual de Fernando Gabeira (PV-PSDB-DEM-PPS) contra a presença do ex-prefeito Cesar Maia (DEM) na chapa para o Senado transformou-se nos últimos dias em uma crise política que ameaça implodir a coligação e já provoca reações nas direções nacionais dos partidos envolvidos.

Apesar de a candidatura de Cesar ao Senado já estar colocada desde o início das articulações feitas pelo DEM e pelo PSDB em torno do nome de Gabeira, a rejeição ao ex-prefeito foi ganhando corpo no PV. O principal foco de resistência vem do presidente estadual do partido, o vereador Alfredo Sirkis, ex-aliado e secretário de Cesar e atualmente um de seus maiores desafetos.

Do PV, a rejeição a Cesar alastrou-se para setores do PSDB e do PPS, capitaneada pelos vereadores Andréa Gouvêa Vieira (PSDB), Stepan Nercessian (PPS), Patrícia Amorim (PSDB) e Paulo Pinheiro (PPS), entre outros.

“Mais do que as objeções dentro dos partidos, é significativo o posicionamento contra a presença de Cesar na chapa do Gabeira assumido por nossos eleitores na internet ou em cartas aos jornais”, afirma Sirkis.

O líder verde enumera as razões de sua rejeição: “Primeiro, uma objeção de consciência em função de fatos ocorridos, sobretudo em sua terceira gestão. Segundo, a clara noção de que sua presença é fortemente prejudicial à nossa já difícil campanha e que o reforço no tempo de tevê não compensa o desgaste. Terceiro, as dificuldades que sua presença na aliança criam para o imperativo que temos de lançar uma candidatura ao Senado vinculada à candidatura presidencial de Marina Silva.”

Tanta pressão fez com que Gabeira convocasse na quarta-feira (31) uma reunião com seus aliados para discutir a crise em torno de Cesar. Ao sair da conversa, que contou com militantes do PSDB e do PPS, além do PV, o candidato a governador comunicou à imprensa a decisão de não ter mais o ex-prefeito em sua chapa: “Minha candidatura depende do voto de opinião, que é muito volátil. O Cesar sofre uma rejeição assustadora na classe média”.

O anúncio caiu como uma bomba no colo do DEM e dos setores tucanos mais próximos a José Serra. O cavalo-de-pau de Gabeira foi considerado inesperado e surpreendente, pois no dia 15 de março ele havia participado de um encontro com Cesar e cerca de 400 militantes demistas no qual a aliança foi celebrada.

Dias antes, Gabeira havia garantido que tudo estava em paz entre o PV e o DEM. “A coligação está firme. O clima é bom e as divergências em relação ao Senado foram superadas”, afirmou à ocasião.

DEM contra-ataca

A mudança brusca causou perplexidade e muita irritação, e algumas lideranças do DEM passaram a fazer ataques públicos a Gabeira nos últimos dias. O primeiro a reagir foi o próprio Cesar Maia, numa crítica enviesada a algumas posições consideradas polêmicas do candidato verde: “Sei que meus valores são distintos do PV em relação a temas como as drogas e o aborto. Tenho posições conservadoras, de defesa da família”.

Ainda mais irritada foi a reação do presidente nacional do DEM, deputado federal Rodrigo Maia, que é filho de Cesar. “O Gabeira recebe meia dúzia de mensagens contra o Cesar Maia na caixa postal do computador e entra em TPM”, disse, segundo o jornal O Globo.

Rodrigo foi além: “O DEM tem mais a agregar à candidatura do PV que o contrário. A rejeição da classe média a Cesar só ocorre na Praia de Ipanema, onde o Gabeira toma sol. A rejeição a Gabeira, por sua vez, começa em São Cristóvão, na Zona Norte, e termina em Santa Cruz, na Zona Oeste. Sem falar no interior.

Após o feriado de Páscoa, a expectativa era que Rodrigo Maia se encontraria com Serra e com os presidentes do PSDB, Sérgio Guerra, e do PPS, Roberto Freire, na tentativa de desativar a bomba da crise no Rio de Janeiro.

A cúpula tucana teme que o racha entre Gabeira e Cesar acabe deixando Serra sem palanque num eventual segundo turno. No primeiro turno, Gabeira apoiará oficialmente a candidatura de Marina Silva, e o palanque de Serra está umbilicalmente ligado à candidatura de Cesar, de quem o candidato tucano à Presidência é aliado.

No Rio, os deputados tucanos Otávio Leite e Luiz Paulo Corrêa da Rocha, ao lado de Márcio Fortes (indicado vice na chapa de Gabeira) trabalham para enquadrar o PV. Enquanto isso, Cesar Maia não esconde sua exasperação: “Fizemos com o PV uma aliança entre diferentes, com o claro objetivo político de criar uma alternativa viável ao Governo do Estado. Se essa aliança for rompida, o Sérgio Cabral estará reeleito no primeiro turno.”

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