Pesquisa reforça tese de dois candidatos governistas, diz Roberto Amaral

Para vice-presidente nacional do PSB, empate técnico entre Dilma e Serra com presença de Ciro mostra necessidade de segundo nome da base de Lula

Para Roberto Amaral, caso chileno é descartado como referência para o Brasil (Foto: Gilberto Nascimento/Agência Câmara)

O empate técnico entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) em cenário com Ciro Gomes (PSB) na disputa reforça a tese de duas candidaturas governistas na eleição presidencial. A análise é de Roberto Amaral, vice-presidente nacional do PSB, legenda que defende a estratégia desde o início do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O resultado da pesquisa eleitoral do Instituto Sensus, encomendada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) foi divulgado nesta segunda-feira (1º). Com o deputado do PSB na lista, a diferença em favor de Serra é de apenas 5,4 pontos percentuais, menor do que a margem de erro. Quando o nome de Ciro é retirado, a vantagem de Serra aumenta para 12,2%.

“É a confirmação da tese da importância fundamental da candidatura de Ciro para preservarmos as condições de elegibilidade de um candidato situacionista”, afirma Amaral. Outro dado ressaltado por ele é a estabilização do governador de São Paulo. “Parece que encontrou o teto dele, está com 33%, sendo que já teve mais de 40%”, aponta.

Apesar disso, o ex-ministro da Ciência e Tecnologia não crê em uma desistência de José Serra, como apostam alguns analistas políticos. “Estou convencido de que é candidato, precisa ser, porque é a última oportunidade. Nas próximas eleições (2014) ele estará com 74 anos, podendo enfrentar Lula, sem ser mais governador de São Paulo. E ele sabe disso”, explica.

O presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra, procurado pela Rede Brasil Atual, não se manifestou. Ao Estadão Online, declarou que os tucanos estão “absolutamente tranquilos”. “É natural que a Dilma cresça pois ela já está em campanha. Só no meu estado (Pernambuco) ela foi três vezes este ano”, afirmou. As chuvas em São Paulo e as poucas viagens de Serra para fora de São Paulo também foram apresentadas como motivos para o estacionamento do pré-candidato.

A assessoria de imprensa do Palácio dos Bandeirantes informou que o governador não se manifestaria oficialmente, como tem feito com levantamentos divulgados até agora. Normalmente ele comenta os dados de forma genérica, em coletivas de imprensa por sua condição de pré-candidato.

O vice-presidente José Alencar afirmou que o crescimento da ministra Dilma Rousseff nas pesquisas é fruto do desejo da população pela continuidade do atual governo. Ele desclassificou a análise de que o crescimento seja decorrência das viagens feitas pela ministra. “Tem muito Brasil ainda para ela visitar… há uma vontade nacional de garantir continuidade e ela representa isso”, disse Alencar a jornalistas ao chegar para evento em Brasília.

Ricardo Berzoini, presidente nacional do PT, acredita que houve uma transferência de intenção de votos de Serra a Dilma. “Não foi uma transferência de indecisos, (nem) uma transferência do Ciro; tudo indica que foi uma transferência direta de Serra para Dilma, à medida que as pessoas sabem: ‘Ah, mas Dilma é a candidata de Lula, Dilma é a candidata que vai dar continuidade às políticas do atual governo'”, declarou em entrevista ao Terra Magazine.

Caso Chile

A opção por dois candidatos foi adotada com sucesso em Pernambuco em 2006, quando Eduardo Campos (PSB) e Humberto Costa (PT) disputaram a eleição ao governo do estado contra Mendonça Filho (então PFL, hoje DEM), vice de Jarbas Vasconcelos (PMDB). A estratégia foi garantir um segundo turno entre o candidato governista e um dos da oposição estadual.

Para a eleição deste ano à Presidência, o PT tenta evitar mais de uma candidatura da base de Lula alegando uma busca por polarização forte com o PSDB. Um segundo nome governista prejudicaria os planos petistas.

A eleição de Sebastián Piñera (Alianza) como presidente do Chile foi usada por defensores da candidatura única como exemplo de que a divisão de forças pode representar riscos de se perder a disputa.

“A eleição não é só número”, responde Amaral. Ele elenca quatro diferenças. O primeiro é o fato de a Concertação se manter por 20 anos no poder. Depois, Michele Bachelet é do partido socialista, enquanto Eduardo Frei é democrata cristão, mais à direita da presidente que detém 80% de aprovação. Um terceiro elemento é que Frei havia sido presidente antes (de 1994 e 2000), não representando novidade.

“Um quarto (ponto) é que a Concertação se dividiu, com três candidaturas saídas do centro dela, mas nenhuma representando a Bachelet”, pontua. “É diferente da imagem da Dilma, muito próxima da imagem do Lula, e do Ciro, ex-ministro dele. E ambos são mais jovens do que Lula, ao contrário do Frei, que não saiu bem avaliado de seu governo”, prossegue.

Da Concertação, que se mantinha no poder desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet, em 1990, foram candidatos Marco Enríquez-Ominami e Jorge Arrate, além de Frei. No segundo turno, o governista não conseguiu garantir a unidade da coalizão governista nem mobilizar eleitores jovens.

Com informações da Agência Reuters