Para ativista, crítica de FHC mostra machismo de ex-presidente

Tentativa de apontar pré-candidata como alguém incapaz de governar o país é fruto de sociedades machistas, afirma integrante da Marcha Mundial de Mulheres

As críticas do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso a Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil e pré-candidata ao cargo pelo PT, são permeadas por questões de gênero. A avaliação é de ativistas do movimento de mulheres ouvidas pela Rede Brasil Atual.

Para Sônia Coelho, da Marcha Mundial de Mulheres, uma das formas de desqualificar mulheres na política é pela suposta falta de poder de decisão. “Fernando Henrique Cardoso sabe que um eventual governo Dilma seria continuidade da gestão de Lula. Do jeito que é machista, vai ser muito ruim para ele ver que Dilma, uma mulher, se eleita, vai ter chance de fazer um governo muito melhor do que ele fez e do que (José) Serra faz em São Paulo”, dispara.

“A visão de Fernando Henrique é de que as mulheres são seres humanos incapazes de tomar decisões e que não deveriam estar no lugar de poder, mas em casa, lavando roupa”, acusa. “Para eles (oposição), as mulheres não deveriam estar na política”, prossegue.

Rachel Moreno, diretora do Observatório da Mulher, vai além. Questionada se o pré-candidato governista fosse um homem haveria alusões a fantoches e a ingerência de Lula sobre o sucessor, ela considera que não. Mas acredita que o objetivo da oposição é tentar transformar em negativas duas vantagens da ministra-chefe da Casa Civil.

“A primeira vantagem é o fato de ser mulher, visto pelos eleitores como algo positivo, como mais honestas, mais sérias”, lembra. “O segundo ponto é ter o apoio de um presidente extremamente popular como é Lula”, aponta.

Em relação ao primeiro atributo, a oposição tenta imputar a Dilma uma sisudez e falta de simpatia como formas de acusá-la de ser pouco feminina. A trajetória dentro do governo, em áreas como as Minas e Energia e a Casa Civil, áreas tradicionalmente dominadas por homens, também faz parte dessa tentativa. “Além disso, tentam transformar o apoio do presidente em uma fragilidade, dizendo que ela é uma marionete”, pondera.

Rachel pondera que qualquer pré-candidato governista sofreria tentativas de desqualificação, mas por ser mulher, este atributo ganha mais destaque. “Como não temos muitas mulheres disputando cargos eletivos, a cada uma que se candidata, constrói-se a imagem da relação entre mulher e poder”, esclarece. Atualmente, 8,6% de todos os integrantes da Câmara Federal e 9,8% do Senado são ocupados por mulheres.

Sônia Coelho acredita ainda que essa situação ocorre porque a sociedade brasileira ainda não se acostumou a ter mulheres em postos de decisão. “Tanto Dilma quanto Marina (Silva) sofrerão preconceito, todas as mulheres que se candidatam sofrem, umas mais, outras menos, porque quando se juntam questões de gênero e de classe, se aprofunda o preconceito”, lamenta.

Leia também

Últimas notícias