Escândalo de Arruda coloca oposição contra o muro, diz analista

Para professora da UFMG, PSDB e DEM não poderão empunhar bandeira da ética em 2010

Manifestantes fazem protestos na frente da residência oficial de José Roberto Arruda (Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)

O maior escândalo de corrupção dos últimos anos envolvendo um partido de oposição vai mudar a pauta das eleições de 2010. Se tucanos e democratas esperavam empunhar a bandeira da ética, a revelação do esquema de corrupção supostamente envolvendo o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, fará com que o tema fique de lado na campanha do próximo ano.

Helcimara de Souza Telles, professora da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), entende que os oposicionistas estão contra o muro. “Significa que a pauta da ética não poderá ser incorporada pelo PSDB, ainda que ele deseje. Hoje, é uma vidraça. O partido fica sem o nome de seu principal parceiro”, afirma.

O problema é que o Democrata tem apenas um governador, exatamente o do Distrito Federal, e por isso acaba de perder o nome mais provável para a vice-presidência de José Serra ou Aécio Neves. Por outro lado, o próprio PSDB carece de nomes fortes fora do eixo Sul-Sudeste. Dar a vice a um político do Centro-oeste ou do Nordeste é, na leitura de analistas, um passo fundamental para tentar ganhar votos nas regiões em que o governo Lula é mais forte. 

Mas, antes de qualquer decisão do gênero, o caminho de democratas e tucanos será o de afirmar que a operação da PF faz parte da antecipação do calendário eleitoral. “Provavelmente (a oposição) vai demonstrar indignação. É interessante que, nos discursos políticos, uma das maneiras de fazer sua defesa é mostrar-se indignado. É uma forma muito clássica do marketing político e será essa a retórica do DEM, de se fazer de injustiçado”, ressalta.

A julgar pelos primeiros dias pós-escândalo, a saída encontrada pelos dois partidos será um misto de atitudes. Por um lado, José Roberto Arruda afirmou-se vítima de um “ato de torpe vilania”. Por outro, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, determinou que seus deputados distritais deixem a base do governo do Distrito Federal, uma tentativa de não se contaminar em meio aos preparativos para as eleições.