O direito à mobilidade urbana é indissociável do direito à mobilidade social, diz Lula

Lula não poupou críticas aos governos que o antecederam, anunciou novos investimentos e se queixou dos setores da mídia e da oposição que apontam as obras realizadas pelo governo federal […]

Lula não poupou críticas aos governos que o antecederam, anunciou novos investimentos e se queixou dos setores da mídia e da oposição que apontam as obras realizadas pelo governo federal como eleitoreiras (Foto: Ricardo Stuckert/Pr)

Ao participar nesta quarta-feira (25), no Rio de Janeiro, de uma convenção que reuniu gestores públicos e empresários de diversos países para discutir temas ligados à mobilidade urbana sustentável e à renovação urbanística e habitacional das grandes cidades, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não poupou críticas aos governos que o antecederam, anunciou novos investimentos e se queixou dos setores da mídia e da oposição que apontam as obras realizadas pelo governo federal como eleitoreiras.

Durante o evento, onde estavam também o governador do Rio, Sérgio Cabral, o prefeito da capital fluminense, Eduardo Paes e o ministro das Cidades, Márcio Fortes, entre outras presenças, Lula afirmou que seu governo inaugurou uma nova forma de tratar a questão urbanística e habitacional nas maiores cidades brasileiras: “A grande verdade é que o planejamento da vida nas cidades em muitos países, inclusive no Brasil, foi um assunto deixado de lado por muito tempo. A questão urbana só veio a se transformar em um assunto de Estado nesse país com criação do Ministério das Cidades e, simultaneamente, da Secretaria Nacional de Transportes e Mobilidade Urbana. Até então, uma sociedade com mais de 180 milhões de habitantes – oitenta por cento deles morando em área urbana – não contava com uma referência no governo”.

O presidente confirmou a realização da 4ª Conferência Nacional das Cidades, marcada para maio de 2010, e ressaltou a importância da participação de todos os setores da sociedade nesse processo: “Estamos fazendo um esforço que envolve milhares de pessoas para discutir, diagnosticar os problemas e sinalizar as linhas de passagem entre a herança do caos urbano e a cidade organizada que nós queremos”, disse.

A solução dos problemas metropolitanos, segundo Lula, está inserida em um projeto mais amplo de transformação do país: “O direito à mobilidade urbana é indissociável do direito à mobilidade social. Não podemos separá-lo do direito a um emprego digno, a um salário justo, à moradia, ao transporte, à segurança, à educação e à cultura. Essa não é uma agenda restrita à questão espacial”.

Lula demonstrou irritação com setores da mídia e da sociedade que criticam obras como as do PAC, por exemplo: “Para atingirmos nossos objetivos em termos de mobilidade urbana, temos um outro grande desafio a vencer, que é a imobilidade de algumas ideias. Algumas pessoas encaram (as obras) com uma carga de preconceito que é incompatível com a urgência de nossas cidades”, disse.

Ricos e pobres

“As intervenções costumam ser saudadas com entusiasmo quando são em bairros de classe alta ou de classe média. Quando os beneficiados são as comunidades pobres, não falta quem acuse a obra pública que vai ampliar a mobilidade urbana de milhares e milhares de famílias de marqueteira. Temos que superar essa visão estreita”, acrescentou o presidente.

Sem citar o nome de seus antecessores, Lula condenou o neoliberalismo que orientava as políticas públicas no Brasil: “Nos anos noventa, a ideologia e a prática do Estado mínimo enfraqueceram a política habitacional e reduziram drasticamente os investimentos em saneamento básico. Isso criou cidades sem cidadania.”

As críticas de Lula não pararam por aí: “O desprezo pela qualidade de vida das pessoas e pela questão ambiental se deu tal maneira, que os governos que vierem a partir de nós vão ter que gastar muito mais para fazer um processo de reparação em cidades inteiras. Habitualmente, os administradores públicos desse país não gostavam de gastar dinheiro em saneamento básico, porque é uma obra que não aparece. O importante era fazer pontes e viadutos, mesmo os desnecessários. As pessoas não se deram conta de que não existe propaganda melhor para um governante do que uma criança poder andar descalça na sua rua sem medo de pisar no esgoto a céu aberto”.

Garanhuns

Após afirmar que o governo anterior “não gastou quase nada” em habitação e saneamento, o presidente anunciou números de sua gestão: “Nosso governo está investindo R$ 106,3 bilhões em habitação e urbanização. Mais da metade desses recursos – R$ 55,9 bilhões – é destinada a moradias populares. Além disso, estamos aportando outros R$ 40 bilhões em saneamento básico e R$ 37 bilhões no programa Minha Casa Minha Vida.”

Novos investimentos, segundo o presidente, serão anunciados em breve pelo governo federal para as obras necessárias à realização da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016. Lembrado por Sérgio Cabral de que o Brasil também receberá os Jogos Militares em 2011, Lula brincou: “Do jeito que estamos, vou acabar conseguindo levar os Jogos Olímpicos de Inverno para Garanhuns”.

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