Reação à crise e Lula elevam chance de Rio-2016, diz Paes

Prefeito do Rio de Janeiro é todo elogios ao presidente. Eduardo Paes aposta na recessão de Espanha, Estados Unidos e Japão para vencer disputa mais apertada dos últimos anos

A previsão de gastos do Rio, do prefeito Eduardo Paes, é uma das mais altas entre os quatro concorrentes, mas em linha com os gastos previstos por Londres para sediar os Jogos de 2012 (Foto: Sergio Moraes/Reuters)

Rio de Janeiro – A resposta positiva do Brasil à crise econômica e o papel de liderança exercido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no cenário global aumentaram as chances do Rio de Janeiro de vencer a disputa pelos Jogos Olímpicos de 2016, segundo o prefeito Eduardo Paes (PMDB-RJ).

Em tom confiante, o prefeito afirmou em entrevista à Reuters nesta terça-feira (1º) que boa parte das obras previstas para os Jogos – com um custo total estimado em R$ 28,8 bilhões – será realizada mesmo que a cidade não saia vencedora da eleição do Comitê Olímpico Internacional (COI), em Copenhague, no dia 2 de outubro.

O Rio, pela primeira vez entre os quatro finalistas após duas tentativas sem sucesso, aposta no legado da Copa do Mundo de 2014 e no apelo de trazer pela primeira vez uma Olimpíada para a América do Sul para desbancar as concorrentes Chicago, Madri e Tóquio.

A votação dos cerca de 100 eleitores do COI promete ser uma das mais apertadas dos últimos anos.

“Acho que (a crise) impactou positivamente. Acho que a reação do Brasil à crise, o controle dos mercados, a força da economia brasileira, impactaram positivamente”, disse Paes, de 39 anos.

“A presença do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, como guardião da moeda, mostrando as perspectivas econômicas do Brasil, de fato foram muito importantes para que a gente pudesse alcançar uma posição de estar na disputa nesse momento”, acrescentou.

Enquanto os Estados Unidos foram o epicentro da crise econômica e as economias de Japão e Espanha também entraram em recessão, o Brasil sofreu consequências menores e esboçou antes os primeiros sinais de saída da turbulência pela força do mercado interno e situação saudável dos bancos, segundo analistas.

Também pesa a favor do Rio a presença do presidente Lula como cabo eleitoral da cidade, segundo Paes. Lula incluiu na agenda de suas viagens ao exterior reuniões com dirigentes esportivos e continuará a pedir votos durante a sessão do COI que escolherá a cidade vencedora, quando deve travar uma batalha nos bastidores com outros chefes de Estado, incluindo o norte-americano Barack Obama, defensor da proposta de Chicago.

“Ele (Lula) é a cara de um Brasil mais forte, que enfrentou a crise econômica muito bem. É a cara de uma economia que cada vez se consolida mais, é a cara de uma nova organização mundial, que pressupõe que os países ricos não são mais um grupo restrito que pode tomar todas as decisões. É a comprovação de que o Brasil tem muito a ensinar ao mundo”, disse Paes, ex-adversário político de Lula mas que se aliou ao presidente antes de se tornar prefeito este ano.

“O presidente Lula representa esse país com seus problemas sociais, suas dificuldades, suas fraquezas, seus defeitos, mas uma nação muito mais desenvolvida.”

Segurança e orçamento

Em resposta à preocupação com a segurança na cidade — especialmente no exterior, onde as notícias sobre os altos índices de criminalidade podem prejudicar a proposta olímpica — o prefeito reconheceu que ainda há muito a ser feito para tornar o Rio um local seguro, mas acredita que para os Jogos Olímpicos isso não será um problema.

Citando os riscos referentes à segurança nas concorrentes, principalmente o “terrorismo”, Paes lembrou a tradição de realização no Rio de grandes eventos sem incidentes de violência, como Carnaval, Réveillon, Pan-2007 e a Rio-92.

“Para fazer os Jogos Olímpicos, não tenho dúvidas que essas dificuldades que o Rio enfrenta, e que nós não escondemos, são facilmente superáveis, porque estamos falando de um determinado momento, de um evento”, afirmou.

A proposta do Rio estipulou um orçamento de 28,8 bilhões de reais, dos quais quase 25 bilhões provenientes dos cofres públicos. Segundo o prefeito, boa parte das obras está prevista para ser executada independentemente da realização dos Jogos na cidade.

A grande maioria dos projetos, no entanto, ainda está no papel, como a despoluição da Baía de Guanabara e das lagoas da cidade, a revitalização da zona portuária e um novo sistema de transporte rápido.

A respeito das instalações esportivas, apenas 29 por cento estão prontas, enquanto 24 por cento precisa de reformas e o restante ainda será construído, de forma definitiva ou temporária.

A previsão de gastos do Rio é uma das mais altas entre os quatro concorrentes, mas em linha com os gastos previstos por Londres para sediar os Jogos de 2012, estimados em cerca de 28 milhões reais. Tóquio, com a maior parte da infra-estrutura pronta, é a candidato com menor orçamento (menos de 10 bilhões de reais).

Para o prefeito, a atual candidatura é totalmente viável dentro das possibilidades financeiras do país, corrigindo erros de propostas anteriores que na verdade se mostraram impossíveis. Mas ele reconheceu que grandes eventos sempre sofrem problemas de orçamento, como no próprio Pan-2007, quando o custo foi quase quatro vezes maior que o previsto.

“O valor é esse porque fizemos questão de incluir absolutamente tudo que impacta os Jogos Olímpicos, independentemente da vinda dos Jogos. Sob esse aspecto, a proposta do Rio é a mais realista de todas”, disse.

“O movimento olímpico também tem a ver com a melhoria da cidade, a melhoria da qualidade de vida, e a gente considera isso um ativo. Chicago já tem uma bela infraestrutura, Madri e Tóquio também. Sem dúvida a capacidade de transformar dos Jogos Olímpicos no Rio é muito maior.”

Fonte: Reuters