Projeto do governo do Rio de Janeiro ataca discriminação a homossexuais nas escolas

O projeto prevê a capacitação dos diretores das escolas para lidar com a diversidade nas salas de aula

Rio de Janeiro – Embora não haja levantamentos oficiais que dimensionem a evasão escolar motivada pela discriminação contra alunos com base em sua sexualidade, profissionais de educação do Rio de Janeiro garantem que em sala de aula o preconceito se revela como um forte fator para que jovens abandonem os estudos e, muitas vezes, deixem de lado sonhos de formação profissional.

O governo estadual espera mudar essa realidade por meio de um projeto que pretende capacitar dirigentes de escolas para enfrentar o problema.

“Ainda não temos indicadores, mas sabemos que a discriminação na escola é muito séria e é causa de uma grande evasão. Percebemos que muitos alunos que procuravam a Educação para Jovens e Adultos (EJA) haviam abandonado seus estudos porque não se sentiam à vontade em sala de aula, sendo motivo de chacota e até de agressão física”, explicou a assistente de coordenação de Diversidade Educacional da Secretaria Estadual de Educação do Rio, Sílvia Cruz. “Por isso, começamos a elaborar um programa para mudar essa realidade, principalmente no ensino médio.”

Na tentativa de reverter esse quadro, o governo estadual está capacitando diretores das escolas de sua rede para lidar com a diversidade nas salas de aula. Por meio do projeto Jornada de Educação e Cidadania LGBT e Combate à Homofobia, que envolve exibição de vídeos e realização de mesas-redondas e debates, esses profissionais recebem orientação específica sobre como respeitar as diferentes orientações sexuais de professores e alunos e estimular a convivência saudável no ambiente escolar.

Até o fim do ano, o governo espera capacitar os diretores das 1.347 unidades estaduais que oferecem o ensino médio e a Educação para Jovens e Adultos (EJA).

O professor Fábio Castelano, diretor da secretaria de gênero e combate à homofobia do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), conta que o preconceito é comum não apenas em relação a alunos, mas também a docentes homossexuais. “É muito comum ver atos discriminatórios em sala de aula. Como professor, quando percebo algo nesse sentido, tento fazer um paralelo com outros tipos de preconceito, como o racial. Aí, é mais fácil os alunos entenderem que qualquer discriminação, seja por orientação sexual, pela cor ou pela religiosidade, é absurda.”

Castelano é um exemplo de quanto o preconceito na escola também faz com que as pessoas esconadam sua orientação sexual. Ele disse ter escondido sua homossexualidade durante anos por temer a reação da comunidade escolar. “Sempre fui um professor muito respeitado e tinha medo de perder essa condição que conquistei com muito trabalho e dedicação.”

Gilmar Santos, presidente do grupo Conexão G, organização não governamental que atua na defesa dos direitos dos homossexuais em favelas cariocas, afirmou que, além dos prejuízos emocionais provocados pela evasão escolar em função da discriminação, o abandono dos estudos aumenta as dificuldades dessa parcela da população na hora de conseguir um emprego. “Quando desistem de estudar, ficam sem qualificação e encontrar um emprego se torna- muito mais difícil. Dessa forma, muitos acabam caindo na prostituição por não encontrarem outra opção para garantir seu pão de cada dia.”

Segundo Santos, com base nos atendimentos realizados pela ONG, que incluem orientação jurídica, social e psicológica, ocorre pelo menos um caso de agressão física ou verbal contra homossexuais a cada dia.

 

Fonte: Agência Brasil

 

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