Gravações detalham esquema de corrupção no RS

São 25 áudios que indicam encontros com a governadora para tratar de 'pontos nevrálgicos' da questão. Divulgação é resposta a tentativa da base do governo de esvaziar CPI

Yeda Crusius em solenidade de acendimento da Chama Crioula, nas comemorações da Semana Farroupilha 2009. Requerimentos de convocação na CPI não são aprovados por falta de quórum (Foto: Antonio Paz/Palácio Pirati – Divulgação)

Porto Alegre – A CPI da Corrupção na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, que investiga denúncias de desvio de dinheiro público envolvendo o governo Yeda Crusius (PSDB), divulgou nesta segunda-feira (14) 25 áudios com gravações de conversas entre acusados de integrar uma quadrilha que, segundo denúncia do Ministério Público Federal, desviou R$ 44 milhões dos cofres do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-RS). Mais uma vez, a sessão da CPI não contou com os deputados da base do governo que adotaram a tática de retirar o quórum das reuniões para impedir o avanço das investigações.

Sem poder votar requerimentos para a convocação de testemunhas, a presidente da CPI, deputada Stela Farias (PT), decidiu divulgar os documentos que recebeu da Justiça Federal e que não estão sob segredo de Justiça.

As gravações apresentadas nesta segunda-feira trazem conversas de importantes agentes políticos ligados ao governo Yeda e, segundo as investigações do Ministério Público Federal, detalham o esquema de distribuição da propina. Nas conversas, segundo as investigações do MPF e da Polícia Federal, a propina é chamada várias vezes de “parecer jurídico” que, em alguns casos, é distribuído em “parcelas”.

As conversas também trazem reclamações sobre o atraso na distribuição dos “pareceres” e combinações sobre datas e locais de entrega dos “documentos”. Uma das gravações trata de uma importante reunião entre o deputado federal José Otávio Germano (PP), ex-secretário estadual de Segurança Pública (no governo Germano Rigotto) e a governadora Yeda Crusius para tratar de “assuntos decisivos”.

Há uma figura dominante nas gravações: Antonio Dorneu Maciel, político do PP, que, na época, era diretor da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE). Nas conversas, Maciel trata da distribuição dos “pareceres”, marca horários de entrega e discute conflitos dentro do esquema. É Maciel que acerta com José Otávio Germano a “conversa decisiva” com a governadora, que teria ocorrido no dia 29 de outubro de 2007.

O ex-diretor da CEEE também aparece numa dura conversa com a assessora direta da governadora, Walna Vilarins Meneses, indiciada pela Polícia Federal por corrupção passiva e formação de quadrilha, acusada de envolvimento em um esquema de fraude de licitações no Estado. Maciel adverte Walna para que ela não corte o canal de comunicação entre ele e o governo (“tu não corta comigo”) e cobra dela a nomeação de um afilhado político.

Na conversa que teve com José Otávio Germano tratando de um encontro deste com a governadora, Antonio Dorneu Maciel relata as instruções que passou para o então secretário-geral de governo, Delson Martini, detalhando o que ele deveria dizer para Yeda Crusius. O teor do diálogo é o seguinte:

Maciel: O Delson falou comigo agora de manhã. Ele tá indo falar com ela neste momento. Ele me perguntou o que eu queria que ele dissesse. O que nós combinamos. Dizer pra ela que a conversa com o Zé Otávio é tudo. Eu disse pra ele dizer isso pra ela.

José Otávio: Ela me chamou de manhã, já.

Maciel: Ele tá indo lá neste momento.

José Otávio: Eu vou às 11 e meia, meio dia.

Maciel: O que é importante, eu disse, é ela ouvir o Zé Otávio. Ele vai falar sobre tudo com ela, inclusive pontos nevrálgicos que nós achamos que tu deve estar perto para ajudar a solucionar. Tá bem, eu entendi, ele (Delson) respondeu.

Clique aqui acessar a lista de áudios no blog da bancada do PT na Assembleia Legislativa do RS

Investigação

Segundo a presidente da CPI da Corrupção, os áudios expõem a lógica do esquema fraudulento e permitem recriar os caminhos percorrido pelo dinheiro desviado do Detran. Para Stela Farias, o teor das gravações reforça a necessidade de convocar os ex-presidentes do Detran para depor.

“Não há como ignorar o conteúdo das gravações, que é muito grave. Ao se negar a convocar os implicados nestes episódios, a base aliada não está blindando o governo, está blindando a verdade”, criticou. Enquanto as gravações eram apresentadas na sessão da CPI, o relator da comissão, deputado Cofy Rodrigues (PSDB), dava uma entrevista coletiva numa sala ao lado contestando a legitimidade da presidente da CPI e questionando a validade jurídica das gravações liberadas pela Justiça Federal.

Diante da tática de obstrução adotada pelos deputados governistas, Stela Farias anunciou que pretende começar a ouvir pessoas que se disponham a depor voluntariamente na CPI. Durante a reunião, o deputado Paulo Borges (DEM) anunciou que o vice-governador Paulo Feijó está disposto a falar na CPI nesta condição. Feijó é um dos autores das denúncias de corrupção envolvendo a governadora tucana. Os dois estão rompidos desde o primeiro ano de governo.

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