Escândalo no RS: novas gravações complicam ainda mais governo Yeda
Áudios divulgados na CPI da Corrupção deixam mais claro que governadora e assessores sabiam de fraudes
Publicado 21/09/2009 - 20h00
A população gaúcha assiste nos últimos meses a uma estarrecedora história que mistura política, noticiário policial e o submundo de uma rede de agentes públicos que, até bem pouco tempo, eram frequentadores assíduos das colunas sociais e da galeria dos assim chamados “homens de bem”. Nos últimos dias, essa novela ganhou contornos muito mais picantes com a divulgação de áudios e vídeos na CPI da Corrupção, na Assembléia Legislativa, que investiga denúncias de corrupção no governo Yeda Crusius (PSDB). A própria governadora, recorde-se, já é ré em uma ação de improbidade administrativa movida pelo Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul. A acusação é pesada: Yeda faria parte de uma quadrilha instalada no aparelho de Estado para desviar recursos públicos.
Nesta segunda-feira (21), novas gravações e um vídeo foram apresentados na CPI. Ameaças, palavrões, xingamentos e reuniões misteriosas fazem parte do conteúdo desse material. Em um dos áudios divulgados, datado de 21 de maio de 2008, o ex-presidente do Detran, Flávio Vaz Netto, relata que mandou avisar ao deputado Adilson Troca (PSDB), na época o relator da CPI do Detran, que ele iria voltar à comissão por conta própria para delatar Delson Martini (secretário geral do governo Yeda, na época) e a própria governadora. Indignado com o abandono que estaria sofrendo por parte da base aliada, Vaz Netto dispara impropérios:
“Filhos da p…, sem vergonhas, safados, eu vou botar no (..) desses filhos da p……esses corruptos, filhos da p… de m…Eu só vou revelar o teor da minha conversa com o Delson. Apenas isso. Filhos da p…, cretinos (…) Já que não posso contar com os meus, vou negociar com o PT”.
Outras gravações divulgadas nesta segunda-feira pela presidente da CPI, deputada Stela Farias (PT), tratam de uma misteriosa reunião que teria ocorrido com a governadora Yeda Crusius na manhã do dia 29 de outubro de 2007 (poucos dias antes da Operação Rodin sair às ruas e denunciar a fraude no Detran). Três envolvidos no esquema, Delson Martini, Antônio Dorneu Maciel (ex-diretor da Companhia Estadual de Energia Elétrica), José Otávio Germano (deputado federal do PP e ex-secretário estadual de Segurança no governo Germano Rigotto) e outra pessoa (que seria o deputado estadual Marco Peixoto, do PP) aparecem nas conversas combinando a reunião e, depois, fazendo uma avaliação sobre a mesma. “Foi nota onze”, diz a voz que seria do deputado Marco Peixoto a Dorneu Maciel.
>> Em áudio:
A íntegra da gravação divulgada nesta 2ª
Em vídeo:
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Na reunião desta segunda-feira também foi divulgado um trecho do vídeo do depoimento do ex-presidente do Detran, Sérgio Buchmann, ao Ministério Público Federal, relatando pressões que vinha sofrendo por parte de integrantes do governo. O depoimento de Buchmann, segundo o MP Federal, foi de extrema relevância para atestar o envolvimento da governadora Yeda Crusius no esquema da fraude no Detran. Nele, Buchmann relata pressões que vinha sofrendo de integrantes do governo para “calar a boca” e parar de falar nos “problemas do Detran”. Além disso, revela que o secretário adjunto de Administração do governo estadual, Genilton Macedo Ribeiro, teria relatado a ele detalhes sobre a distribuição de propinas no esquema Detran, envolvendo, entre outros, a própria governadora e o ex-marido desta, Carlos Crusius.
Genilton Ribeiro teria dito ainda que a governadora Yeda Crusius estava sendo chantageada por Carlos Crusius, por Flávio Vaz Netto e pelo ex-coordenador da campanha tucana ao governo do Estado Lair Ferst. No depoimento ao MP Federal, Buchmann contou também que Ribeiro teria afirmado que sabia da compra da mansão pela governadora. “E a casa a gente sabia…desde a campanha, antes de assumir a gente já sabia que era assim mesmo”, teria dito o secretário adjunto.
Mais uma vez, os deputados da base do governo – entre eles o relator da CPI, Coffy Rodrigues (PSDB), e o vice-presidente da comissão, Geraldo Capoani (PMDB) – não participaram da sessão. O teor das conversas que vêm sendo divulgadas na CPI explica o comportamento da base parlamentar de Yeda. As evidências de envolvimento do núcleo do governo na fraude do Detran são cada vez mais fortes.