Rotas alteradas: como a portaria de Kassab mexe com usuários de fretados; conte a sua história

Mais carros nas ruas, gestantes disputando espaço no transporte público em horário de pico e mudança para a capital paulista são alguns dos reflexos no cotidiano dessas pessoas

A partir de 2ª, placas como esta estarão nos pontos demarcados para a parada de fretados (Imagem: divulgação)

A partir desta segunda-feira (27), as rotinas de milhares de pessoas serão alteradas pela força de uma assinatura. A portaria editada pelo prefeito Gilberto Kassab que estabelece restrições à circulação de ônibus fretados em uma área de 70 quilômetros quadrados, inicialmente, causou irritação. A partir de agora, concretiza-se em estresse e gastos a mais, tempo de lazer e conforto a menos.

Grávida de sete meses, a analista contábil Rosângela de Oliveira Menezes mora no ABC Paulista e trabalha na Avenida dos Bandeirantes – no início da via, e não no ponto de exceção criado pela Secretaria Municipal de Transportes na Rua Alvorada. Agora, resta a ela – e ao futuro filho – esperar que os direitos de assento especial para gestantes no transporte público sejam respeitados.

Dificuldade semelhante enfrentará Cíntia Cristina Guerra Lorenzoni, analista de administração de vendas e também moradora do ABC. Na próxima semana, ela terá de fazer baldeação de fretado em fretado até chegar ao trabalho, na Avenida Luís Carlos Berrini, Zona Sul da capital paulista. Do ponto final, caminhará mais seis quadras para chegar ao serviço.

 

Mas ela mesma prevê que não durará muito tempo a peregrinação: “a Prefeitura não dá condições de coletivo. Hoje, a população que usa a condução já não suporta. Então, eu e muitas pessoas aqui do fretado vamos aderir ao carro”.

O transporte particular também foi a saída encontrada pelo advogado Leandro Bendinelli Mantovani, morador da Vila Carrão que diariamente se desloca ao Itaim Bibi. Com o fretado, leva menos de uma hora no trajeto entre as zonas Leste e Sul. Com o automóvel, levará mais tempo e terá mais gastos. O prejuízo só não é maior porque o irmão dele trabalha na mesma região e dividirá os custos. “O fretado não penaliza a cidade da forma como estão colocando. Muito pelo contrário. Eu venho pela qualidade de vida”, afirma.

Mapa da restrição dos ônibus fretados em SP

No caso de Fabíola Ranieri, administradora de empresas que trabalha na Berrini e vive na Zona Leste, o orçamento mensal dedicado ao transporte terá de dobrar. Atualmente, ela gasta R$ 200 com o fretado. Migrando para o carro, o mesmo valor será gasto apenas no estacionamento. Depois disso, entram combustível, manutenção e seguro. Fabíola Ranieri pensa que “as pessoas que utilizam o fretado não querem usar o transporte público. Na maioria, elas têm carro. Acho que o trânsito vai ficar muito pior. Fora a nossa comodidade”.

A mesma opinião tem Jair Leal, morador de Sorocaba que, a partir de segunda-feira, passa a desembarcar no metrô Barra Funda e, de lá, ir até o centro paulistano. Como os deslocamentos dos passageiros para chegar à estação serão diferentes e, portanto, com tempos distintos, a linha até a cidade do interior paulista passará a sair ao menos meia hora mais tarde.

Também de Sorocaba, Juliano César de Souza fez nesta semana as últimas viagens com conforto e rapidez. A partir de segunda-feira, o técnico em processamento de dados perderá ao menos uma hora a cada dia de trabalho. E terá também uma hora a menos de sono: para adequar-se aos novos horários dos fretados, passará a chegar na empresa mais cedo que todos os colegas. Por sorte, “a empresa está ciente de que há uma bagunça que o prefeito está fazendo, então foi bem compreensiva. Mas não são todas as empresas que são assim”, ressalta.

Juliano César de Souza foi até esta sexta-feira o coordenador de uma linha entre a cidade dele e alguns bairros da Zona Sul. A linha deixa de existir, em parte por desistências, em parte por inviabilidade de circulação graças às restrições. Do ônibus que ele coordenava, cinco pessoas resolveram alugar um quarto na capital paulista e fugir do estresse diário. Fazendo as contas, R$ 440 de fretado mais o gasto com transporte público não compensam o deslocamento.

A mesma mudança é estudada por Fábio Giusti, analista de sistemas que trabalha na Avenida Paulista. Há oito anos, ele mudou para Santos pensando em qualidade de vida. “Uma mudança que foi muito rápida. Agora, começou a ficar inviável. Pagar R$ 600, 700 de condução, é mais fácil ter minha casa em São Paulo, pegar meu carro e ir trabalhar”, afirma.

A partir de segunda-feira, dezenas e dezenas de ônibus vindos da Baixada Santista e do ABC pararão na estação Imigrantes do metrô que, apesar de estar ao lado da Ricardo Jafet, fica em uma avenida de apenas duas faixas. “Vai haver um volume muito grande por lá. É complicado. Eu trabalho com meu notebook, é ruim ficar andando com aquela mala”, lembra Fábio Giusti.