Recuo da prefeitura de SP mostra que restrição a fretados foi precipitada, diz consultor

Em entrevista à Rede Brasil Atual, Horácio Figueira aponta que administração municipal está na contramão de qualquer engenharia de transportes

O recuo da prefeitura de São Paulo na restrição aos fretados evidencia como a adoção da medida foi precipitada por parte da administração de Gilberto Kassab. Horário Figueira, consultor em engenharia de tráfego e transporte, pensa que a Secretaria de Transportes começou a cair na realidade ao liberar novamente a circulação de fretados na avenida Luís Carlos Berrini, inclusive com pontos de parada.

Para ele, os problemas registrados nos primeiros dias da nova medida, como imensas filas de ônibus, eram esperados. “Quando se pega um tráfego diluído ao longo de várias avenidas e tenta concentrar em um ponto, essa concentração vai se dar de duas formas: em termos de espaço e em termos de horário. Não tem espaço sobrando nesses locais para colocar dez, 20, 30 fretados para esperar a chegada dos passageiros”, afirma.

Figueira aponta que o próprio secretário de Transportes, Alexandre de Moraes, admitia a inviabilidade da medida ao apontar que pelo menos quatro usuários de cada fretado migrariam para o transporte privado. “Se eu trocar um fretado por quatro automóveis, o espaço que vai ocupar no viário é de pelo menos 25 a 30 metros, ou seja, é mais espaço que o ônibus utiliza”, destaca.

O consultor concluiu recentemente um estudo, apresentado na semana passada, mostrando que automóveis, táxis e motos representam 88% dos veículos em circulação (calculando-se a partir de Unidade de Carro de Passeio, uma conversão comum em engenharia de transportes). Ou seja, para avenidas de quatro faixas, como Paulista, Faria Lima e Berrini, alvos preferenciais da restrição da prefeitura, o transporte particular privado ocupa 3,5 delas.

Ao mesmo tempo, o levantamento mostra que os coletivos, tanto privados quanto públicos, ocupam 12% dessas vias para transportar 51% das pessoas que se deslocam nos horários de maior movimento. Dentro disso estão os fretados que, representando 2,6% da ocupação das faixas, transportam 17% das pessoas.

”Sou favorável a regulamentar o transporte fretado e organizar pontos de parada, tirar os clandestinos de circulação. O que não pode é achar que o ônibus está atrapalhando o automóvel, quando é o contrário. Se você tiver dez carros na frente do ônibus transportando 15 pessoas, eles estão atrapalhando 40 que estão a bordo de um ônibus? A prefeitura acha que porque o ônibus é grande, ele atrapalha”, afirma.

Mapa da restrição dos ônibus fretados em SPFigueira lamenta que a medida não tenha sido implantada com calma, fazendo análises, consultando os usuários e, eventualmente, até mesmo adotando a restrição em uma área como teste. Ele alerta que, em agosto, a volta às aulas mostrará níveis de congestionamento ainda mais altos que os registrados ao longo do primeiro semestre, uma vez que o número de automóveis não para de crescer.

A restrição é “uma mostra de que a prefeitura não está a fim de incentivar o transporte coletivo na cidade. Se tivesse interesse em estimular o transporte público, quando criou a restrição dos fretados, deveria ter imediatamente criado uma faixa exclusiva para os ônibus dela. Não precisa de corredor, de obra. Põe cone e a CET para fiscalizar”, pondera.

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