Congresso da UNE vira palco para torcida de Dilma e Ciro

Lula, primeiro presidente a participar de um encontro da União Nacional dos Estudantes, tentou frear a manifestação política

O presidente Lula e a ministra Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil, no 51º Congresso da UNE (Conune) (Foto: Valter Campanato/ABr)

Participantes do 51º Congresso Nacional da União Nacional dos Estudantes (UNE) deram um tom político à abertura do evento, que contou com a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ministra Dilma Rousseff.

Antes da chegada das autoridades ao local do evento, uma pequena parcela dos cerca de 2.800 estudantes gritou em defesa do deputado Ciro Gomes (PSB-CE): “Brasil para frente, Ciro presidente”. A maioria respondeu com vaias e palavras de ordem em defesa da ministra, como “Olê, olê, olê, olá; Dilma, Dilma”.

Dilma é a pré-candidata do PT para a eleição presidencial de 2010. Já o deputado cearense é citado como possível candidato a presidente, mas também para concorrer a governador de São Paulo.

“Vocês vieram aqui para trabalhar ou para gritar?”, disse Lula, o primeiro presidente a participar de um congresso nacional da UNE desde que a entidade foi fundada, em 1937, ao ser saudado pelos estudantes.

Lula defendeu a ampliação do acesso ao ensino universitário e as cotas raciais, a autonomia da instituição estudantil para fazer reivindicações junto ao governo e o esclarecimento do destino dos mortos e desaparecidos pela ditadura militar.

O presidente também respondeu ao pedido feito pelos estudantes por uma maior participação do Estado na Petrobras e pela nacionalização das reservas de petróleo localizadas na camada pré-sal. Segundo Lula, Dilma lhe entregará a proposta final do novo marco regulatório do setor em 10 dias, que depois será enviado ao Congresso.

A UNE, que recebeu recursos da Petrobras e outros órgãos públicos para realizar o congresso, fez manifestação nesta quinta-feira (16) em defesa da estatal e do petróleo. “A CPI da Petrobras (instalada no Senado) não é um balizador deste ato, mas vai ser comentada na passeata”, disse à Reuters a presidente da UNE, Lúcia Stumpf. “Vai haver falas contra e a favor da CPI”, completou.

Ela pediu a Lula que o Executivo reduza a meta de superávit primário e os juros a fim de haver mais capacidade para aplicar recursos no setor. “Precisamos alcançar a meta de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) investidos em educação.”

Flerte

O governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), voltou a flertar, nesta quinta-feira, com o deputado federal Ciro Gomes. Após encontro na residência oficial do governo mineiro, Ciro condicionou a possibilidade de sair candidato a presidente em 2010 à indicação tucana para o pleito, disputada por Aécio e José Serra, governador paulista.

“O governador Aécio sendo candidato a presidente da República descomprime gravemente a necessidade estratégica de eu apresentar uma candidatura”, afirmou Ciro a jornalistas. “Não quer dizer que, eventualmente, eu não tenha de ser (candidato), porque isso dirá o meu partido. Mas as necessidades, as minhas angústias com relação ao futuro do país eu fico feliz, porque acho que o país estará em seguras, tranqüilas e boas mãos”, emendou Ciro, que já disputou a Presidência em 1998 e 2002.

O parlamentar voltou a direcionar sua artilharia contra Serra. “Conheço os métodos do governador. Ele não enfrenta os adversários com a linguagem natural do antagonismo político. Ele trata os adversários como inimigos a serem destruídos”, disparou.

Em março, também após encontro com Aécio, o deputado chegou a dizer que o governador mineiro seria “esmagado” pelo colega paulista. “O Aécio está pronto, na minha opinião, para servir ao país em qualquer lugar, inclusive como presidente”, concluiu o deputado.

Ciro, que afirmou estar pensando apenas na candidatura à Presidência, vem admitindo que analisa disputar a eleição para o governo de São Paulo, o que incomodaria Serra e agradaria o presidente Lula, que vem apoiando Ciro nos bastidores para a disputa paulista. O PSB é a da base aliada de Lula, mas está junto com Aécio em Minas e com Serra em São Paulo.

Aécio preferiu se mostrar próximo de Ciro em qualquer cenário para o futuro. “Acho que o jogo de 2010 ainda não está todo jogado. Não estão claras ainda quais as construções que ocorrerão. Não vejo a possibilidade de, amanhã, um projeto onde eu possa ter um papel de maior destaque, o Ciro não esteja junto, ou um projeto que o Ciro esteja capitaneando eu não esteja junto”, disse Aécio.

ProUni

Durante o congresso da UNE, Lula recebeu uma carta, com propostas de bolsistas do Programa Universidade para Todos (ProUni), para aprimorar o programa. Os estudantes querem uma política de inserção no mercado de trabalho para os bolsistas e a implementação de uma política de assistência. A intenção é evitar a evasão dos estudantes por não conseguirem arcar com custos como transporte, alimentação e a compra de livros e materiais.

Também querem também o direito à transferência, critérios mais claros para a perda de bolsa, fim da comprovação anual de renda, incentivo ao ingresso na pós-graduação, igualdade de concorrência em todos os espaços da universidade e real implementação da comissão de acompanhamento e controle social do ProUni.

Os estudantes pediram a regulamentação e fiscalização das universidades particulares. Lúcia Stumpf, defendeu que é preciso barrar a “mercantilização do ensino”, evitando que grupos estrangeiros adquiram universidades particulares.

Lula disse que, este ano, com a formação da primeira turma que ingressou na universidade pelo ProUni, será possível avaliar a qualidade do ensino desses estudantes e lembrou que recursos do pré-sal serão investidos na educação.

“Vamos criar um fundo e ele tem três destinos fundamentais, um deles é a educação. Temos de recuperar o atraso educacional a que esse país foi submetido desde que foi descoberto. Outra função será combater a pobreza e também investir em ciência e tecnologia”, disse o presidente.

O ProUni concede bolsas de estudo integrais e parciais em cursos de graduação e sequenciais de formação específica, em instituições privadas de educação superior. O sistema de concessão de bolsas é dirigido aos estudantes do ensino médio da rede pública ou da rede particular na condição de bolsistas integrais, com renda per capita familiar máxima de três salários mínimos.

Os candidatos são selecionados pelas notas obtidas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O ProUni já atendeu, desde sua criação até o processo seletivo do segundo semestre de 2008, cerca de 430 mil estudantes, sendo 70% com bolsas integrais.

Com informações da Reuters e Agência Brasil

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