Crise não pode ameaçar direitos humanos, diz Lula

Presidente falou em Genebra, no Conselho de Direitos Humanos da ONU, que os flagelos sociais ainda são muitos e lembrou do compromisso da comunidade internacional de combater o racismo

Presidente disse que os sindicalistas podem ajudar a encontrar saídas para a crise (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

 Genebra (Suíça) – A crise econômica e financeira não servirá como “pretexto” para o descumprimento das obrigações de cada Estado com a promoção e a proteção dos direitos humanos. A afirmação foi feita nesta segunda-feira (15) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na sessão do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), em Genebra, na Suíça.

Lula elogiou o empenho da comunidade internacional no combate à discriminação, mas afirmou que os ‘flagelos’ ainda são muitos. Ele lembrou do compromisso de combater o racismo – assumido há dois meses na Conferência de Revisão de Durban – e cobrou o cumprimento das promessas.

“A reforma das instituições internacionais, com maior participação dos países em desenvolvimento, é essencial para assegurar uma governança mais justa e eficaz”, disse.

Ao participar da 98ª Conferência Internacional do Trabalho, Lula destacou que a crise econômica mundial traz efeitos “perversos” para imigrantes pobres, sobretudo africanos, latino-americanos e asiáticos.

“Eles transitam pelo mundo à procura de trabalho e começam a ser enxergados como responsáveis por ocupar o lugar de pessoas de pais ricos. Os responsáveis pela crise são os mesmos que, por muito tempo, sabiam ensinar como administrar os Estados”, disse Lula, acrescentando que “esses mesmos senhores que sabiam de tudo um tempo atrás hoje não sabem de mais nada”.

Lula afirmou que o momento atual de crise financeira é “delicado”, mas também “muito precioso”. Ao final do discurso, disse que o mundo precisa de novas alternativas para reduzir os reflexos da instabilidade econômica. “É preciso aprender em vez de chorar e refletir em vez de xingar.”

O presidente criticou a atuação de bancos internacionais que, segundo ele, eram “especialistas” em medir os riscos de países pobres no período que antecedeu a crise. “Eles não pararam para medir seu próprio risco e quebraram.” Cobrou de empresários, governos e trabalhadores “atitude mais dura” para conter os reflexos negativos da crise.

Em reunião com sindicalistas estrangeiros afirmou que os representantes dos trabalhadores podem contribuir na busca de saídas para a crise financeira internacional. “Temos que aproveitar o momento. Não é esquecer a crise, mas, a partir dela, descobrir o que podemos fazer de novo. A presença de vocês dá força para produzir temas”, disse.

Lula reafirmou que a crise pode ser uma oportunidade para que muitos países melhorem seu desempenho e acrescentou que é “mais seguro fazer as coisas quando mais gente está de acordo”.

“Quando um trabalhador está bem, ele acha que não precisa se sindicalizar, mas é exatamente neste momento que temos que pressionar os governos.”

No rádio

Em seu programa de rádio Café com o Presidente, Lula disse que medidas tomadas por setores como a indústria automobilística diante da crise contribuíram para a queda do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de bens e serviços produzidos no país.
“Alguns setores da economia se precipitaram em praticamente acabar com os seus estoques. Eu poderia pegar, como exemplo, a indústria automobilística, que no mês de dezembro, praticamente não produziu carros, deu férias coletivas, e isso tem um significado muito importante na queda do PIB brasileiro.”

Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística  (IBGE) divulgou uma queda de 0,8% no PIB do primeiro trimestre deste ano. Apesar de se dizer “um pouco triste” com o resultado, o presidente se mostrou otimista.

“O que é importante é que o pior já passou e a economia brasileira está dando sinais enormes de recuperação”, comentou. “Nós entramos por último nessa crise e vamos sair primeiro que todos os países”, completou Lula, acrescentando que os investimentos e o consumo da população “não permitiram que o Brasil tivesse um efeito mais danoso na queda do seu PIB”.

Lula também comemorou a queda da taxa Selic, que na semana passada teve redução de um ponto percentual, passando de 10,25% para 9,25% ao ano. “Desde que foi criada, é a primeira vez que ela está abaixo de dois dígitos. É a primeira vez desde 1986, o que é uma coisa extremamente significativa”, ressaltou.

O presidente  voltou a falar da necessidade da redução do spread bancário (a diferença entre os juros que o banco paga aos investidores e o que cobra nos empréstimos). “O spread ainda está muito alto, o spread ainda está seletivo, e nós vamos manter todo o esforço para controlar a inflação”.

Ainda pelo rádio, disse que o Brasil vai defender na  conferência de Genebra, na Suíça, que os trabalhadores do mundo não sejam vítimas da crise financeira internacional. “O que nós precisamos debater é não permitir que os trabalhadores sejam vítimas da crise ou que apenas eles paguem pela crise. Nós temos que estar mais preocupados, todos os líderes, em garantir emprego para o povo, que é isso que conta no crescimento da economia”, disse.

Depois da Suíça, Lula segue para a Rússia, onde participa de uma reunião do Bric – grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia e China. “Esses quatro países juntos representam praticamente metade da população mundial”, afirmou. “Cada um tem o seu problema, mas cada um também tem a sua virtude. E nós queremos nos colocar de acordo sobre temas importantes, sobretudo com o G20, para que a gente faça prevalecer a política adotada nos nossos países”, completou. Depois do encontro na Rússia, Lula segue para o Cazaquistão.

Cooperação

Lula defendeu cooperação entre países para garantir a segurança na internet. Na visita a Genebra, na Suíça, ele recebeu o prêmio World Telecommunications anda Information Society, da Organização  Internacional de Telecomunicações.

“Esse é o lugar certo para coordenar esse esforço”, disse. Lula pediu ainda que a organização defina padrões a serem adotados  por todos nos países no combate à pedofilia. Para ele, é preciso “um instrumento multilateral” que estimule uma cooperação internacional.

“Os desafios do crime cibernético demonstram a importância do debate sobre governança na internet”, destacou o presidente.

Fonte: Agência Brasil

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