‘Não tenho rabo preso com ninguém’, diz o peemedebista Jackson Barreto

O deputado federal sergipano Jackson Barreto que tem proposta de emenda constitucional sugerindo um referendo sobre o 3º mandato disse em entrevista a Rede Brasil Atual não ter “rabo-preso com ninguém” e que sua proposta não tem influência do governo e nem do seu partido, o PMDB

A proposta de emenda a Constituição (PEC) do deputado federal peemedebista Jackson Barreto (SE), 65, está guardada na gaveta de seu gabinete.

Com as 171 assinaturas necessárias para protocolar a emenda que prevê um referendo popular sobre o 3º mandato o deputado, que iria protocolar o pedido até o fim de maio, decidiu esperar mais. Entre os motivos, revelou, está o fato da ministra Dilma Rousseff e pré-candidata do PT em 2010 estar com problemas de saúde.

“Essa questão veio logo após a coleta das assinaturas. Então, realmente, me senti constrangido naquele momento, porque pareceu uma coisa agressiva, uma falta de respeito e de solidariedade ao problema dela”, disse a Rede Brasil Atual.

Das assinaturas colhidas em fevereiro e março, 40 são de deputados do PMDB e 28 do PT. Os partidos oposicionistas também assinam, 10 do DEM, 5 do PSDB e 1 PPS. O restante das assinaturas (87) vem de deputados de partidos da base do governo.

Em linhas gerais a proposta de emenda diz que “O presidente da República, governadores de Estado e do Distrito Federal, os prefeitos e quem os houver sucedido ou substituído no curso dos mandatos poderão ser eleitos para até dois períodos imediatamente subsequentes” e que “a promulgação desta emenda fica sujeita a referendo popular, a ser realizado no segundo domingo de setembro de 2009”.

Se o deputado peemedebista mudar de ideia e decidir protocolar a proposta ela seguirá para a análise da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Após isso uma comissão especial analisará o mérito para então ir a plenário – são necessárias duas votações com dois terços dos votos. Se aprovada, vai ao Senado onde se repete o mesmo processo.

Entrevista do deputado peemedebista Jackson Barreto concedida na última terça-feira (19).

O que motivou o senhor a fazer essa proposta de emenda constitucional?
A minha proposta é manifestada com apoio das minhas bases. Nós não demos entrada ainda na emenda, só colhemos as assinaturas necessárias. Quero também deixar bem claro com relação a critica de uma jornalista sobre a iniciativa que não tenho rabo-preso com ninguém, não sou pecuarista, não tenho prédios oficiais, não tenho concessão de rádio e nem televisão, não sou industrial, não tenho pedido de empréstimo no BNDES e em nenhum banco oficial. Sou cidadão comum, funcionário público aposentado. Tenho uma história, vim do MDB, fui combatente na ditadura militar, preso político, fui enquadrado na Lei de Segurança Nacional. Não tenho uma vida de fisiologismo político e nem cargos no governo. Não estou atrás de manutenção de cargos, estou expressando um pensamento da minha base. Quando vejo que a pessoa adjetiva sem conhecer, só para agredir é ruim. Na democracia cada um tem o direito de manifestar o seu pensamento.

O senhor se refere a jornalista que o criticou usando termos como “parlamentares obscuros, inexpressivos” e que “isso cheira a manobra de quinta, por gente de quinta”?
Sim. Quero deixar bem claro que a proposta é baseada no pensamento e sentimento político da minha base que vê que, pela primeira vez, o governo federal dá atenção ao nordeste, no caso do meu estado, o Sergipe.

E esse pensamento e sentimento chega como para o senhor?
As pessoas comentam quando falam em Lula deixar o governo e vir outro, vem o questionamento: “ah, o Lula devia continuar” ou “o Lula podia ficar”. Coisas que vem de forma natural, já que no meu estado as ações do PAC e do Bolsa Família mudaram muita coisa por lá.

O senhor conseguiu as 171 assinaturas necessárias no boca a boca?
Não, pedi para serem coletadas porque eu não teria tempo.

E deu para ter ideia da recepção dessa sua proposta com os deputados?
Eu achava que seria mais difícil a coleta das assinaturas, porque a nossa proposta submete primeiro a um plebiscito, uma consulta popular, ela não é simplesmente uma emenda criando um terceiro mandato.

A proposta de emenda é especifica para dar condição de reeleição ao presidente Lula ou vale para todos?
Não, ela daria a possibilidade de outros candidatos também concorrem em eleições futuras.

Muita gente tem jogado areia na sua proposta.
Aqui nesta casa as coisas acontecem de acordo com o momento. Porque aqui se dá solução, quando se quer, em 24 horas. Vai depender de vontade política.

Mas o governo não se manifestou de forma contundente nem contra e nem a favor.
Não procurei o governo, não fui estimulado pelo governo e não procurei a direção do meu partido e nem fui estimulado pela direção do meu partido. Estou bem a vontade, porque não estou procurando salvaguardar nenhum interesse de ordem pessoal.

O senhor então me garante que sua ideia não tem participação do governo e nem do seu partido?
Garanto.

E pelos bate-papos nos corredores qual a posição de outros deputados?
Quando a gente conversa percebe que tem uma vontade, mas muitas vezes a pessoa não quer explicitar. Se sente um tanto patrulhado. Não faço parte desse patrulhamento.

E o mal-estar criado com sua proposta em relação a ministra Dilma?
Por isso que não dei entrada no pedido ainda. Porque a questão veio logo após a coleta das assinaturas. Então, realmente, me senti constrangido naquele momento, porque pareceu uma coisa agressiva, uma falta de respeito e de solidariedade ao problema dela. Não foi a intenção. Aliás, há cerca de três semanas li no plenário uma pesquisa realizada pelo Instituto Padrão no sertão de Sergipe, em oito municípios, com a pergunta: “Você votaria na candidata Dilma Rousseff apoiada pelo presidente Lula?” Ela contra o Serra venceu em seis municípios, perdeu em um e empatou em outro. Quando li no plenário, o José Aníbal, do PSDB, de forma bem antidemocrática, muito agressiva, tentou confundir para a imprensa não tomar conhecimento da pesquisa. E a imprensa não deu repercussão mesmo. Aí me perguntaram “porque você leu essa pesquisa no plenário?” Expliquei que achei interessante, afinal ler uma pesquisa com o Serra na frente não é nenhuma novidade, porque ele já vem na frente o tempo todo, mas quando a Dilma passa a frente é um fato novo.

Com essa questão de saúde da Dilma o senhor vai esperar mais tempo?
Vou esperar.

Vai deixar na gaveta?
Vou deixar. Estava com vontade de dar andamento até o final de maio, mas devo esperar.

O seu partido, PMDB, procurou o senhor?
Não. Mas se me procurarem estou à disposição para conversar.

 

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