Lula e Biden

Imprensa internacional destaca semelhança inédita entre Brasil e Estados Unidos na luta contra a extrema direita

Pela primeira vez Biden deu boas-vindas a um líder com quem divide a experiência de ter sido alvo de um ataque violento, disse ‘The New York Times’

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
Janja, Luiz Inácio Lula da Silva e Joe Biden, antes de se reunirem no Salão Oval da Casa Branca na sexta-feira

São Paulo – Ao comentar a reunião entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Joe Biden nesta sexta-feira (10), o jornal The New York Times observou um aspecto de simbólico ineditismo que marcou o encontro entre o petista e o democrata na Casa Branca. Lula embarcou de volta ao Brasil e deve chegar a Brasília por volta das 20 horas deste sábado (11).

“Quando recebe líderes mundiais, o presidente Biden normalmente troca ideias sobre política comercial ou segurança nacional e talvez fale sobre histórias antigas a respeito de eleições”, disse o NYT. “Mas na sexta-feira, pela primeira vez, ele deu as boas-vindas a um líder com quem poderia comentar sobre ser o alvo de uma insurreição violenta”.

A observação do jornal, um dos mais importantes do mundo, é uma referência ao fato de que a reunião na Casa Branca aconteceu apenas um mês depois “que uma multidão apoiando o derrotado antecessor de Lula saqueou o Congresso, a Suprema Corte e os escritórios presidenciais do país, em um ataque assustadoramente semelhante ao assalto ao Capitólio dos Estados Unidos dois anos antes”.

“As democracias fortes de ambas as nações foram testadas ultimamente, muito testadas, e nossas instituições estão em perigo, disse Biden ao sentar-se com Lula no Salão Oval”, reportou o jornal. Para Biden, porém, “tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, a democracia prevaleceu.” O NYT acrescentou, citando o chefe de governo americano, que ambos os países rejeitam “a violência política e valorizamos muito nossas instituições democráticas”.

Para o NYT, “o sr. Biden e o sr. Lula são políticos experientes com estilos políticos semelhantes, de fala franca e tapa nas costas, e o presidente americano aceitou um convite para visitar o Brasil em um momento indeterminado no futuro”.

Democracia: a agenda dominante

Outros jornais internacionais repercutiram o encontro histórico em Washington. As discussões sobre como fortalecer a democracia, em um momento em que ela tem sido mais atacada do que nunca, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, foram o tema destacado da reunião de Lula e Biden pela imprensa internacional de modo geral.

Em texto intitulado “Unidos pelo horror à extrema direita”, o argentino Página12 também destacou a união e manifestação dos dois presidentes, na Casa Branca, “contra o golpe”, além de falarem sobre o desmatamento na Amazônia e a guerra na Ucrânia.

‘Unidos pelo horror’

“Lula da Silva voltou aos EUA como presidente eleito pela terceira vez e se encontrou na Casa Branca com Joe Biden, com quem teve suas faíscas quando (Biden) era vice-presidente. Mas agora estão unidos pelo horror: após vencerem as eleições, ambos sofreram um assalto em massa a prédios do governo por extremistas de direita”, ressaltou o Página12.

O The Washington Post, principal veículo da capital americana, também destacou a semelhança dos ataques sofridos pelo Brasil de Lula e os EUA de Biden. “O presidente Joe Biden e o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva se reuniram na Casa Branca na sexta-feira e refletiram sobre como suas nações foram testadas em suas respectivas batalhas para preservar a democracia”, disse o Post.

O jornal lembrou que Trump e Bolsonaro – o “Trump dos Trópicos” – “semearam dúvidas sobre a votação, sem apresentar provas, mas suas dúvidas repercutiram entre seus apoiadores mais radicais”.

Visão da Otan

Já alemã Deutsche Welle ressaltou que Jair Bolsonaro isolou o Brasil internacionalmente, mas Lula tenta mudar este quadro. Segundo a DW, “os dois líderes unificaram o discurso em defesa da democracia e conversaram sobre uma nova parceria para proteger o meio ambiente e combater as mudanças climáticas”.

Mas, refletindo a visão europeia predominante diante da guerra, a rede alemã pondera que, no entanto, Lula “terá de lidar com temas como a guerra da Ucrânia e na tensa relação entre os EUA e a China”, questões em que “o Brasil resistiu a ficar do lado do Ocidente”.

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