Ascensão do mal

Nazifascismo e discursos de ódio tomam espaço nas redes sociais e acendem alerta

Levantamento da Unesco revela que 49% dos conteúdos sobre o Holocausto no Telegram negam ou distorcem fatos. “Negacionismo associado a violência on-line”

Wikicommons
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São Paulo – O nazismo, o fascismo e os discursos de ódio ganharam espaço com o uso maciço das redes sociais. É o que aponta o primeiro relatório sobre distorções e negacionismo a respeito do Holocausto nas plataformas de mídias sociais, publicado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). O documento mostra uma porcentagem notável de desinformação sobre o massacre de judeus durante o período da Alemanha nazista. A rede com maior índice de negacionismo é o Telegram.

De acordo com o estudo, elaborado em parceria com o Congresso Judaico Mundial (WJC), 49% de todas as postagens sobre o tema na rede social negam ou distorcem os fatos. Trata-se da plataforma com maior índice. Contudo, outras redes também têm problemas. O Twitter conta com 19% das postagens enganosas, o TikTok, 17%, o Facebook, 8% e o Instagram, 3%. “Quanto mais eles fazem o nosso mundo tremer, maiores são as rachaduras nas fundações da nossa humanidade”, afirma o secretário-geral da ONU, António Guterres, sobre o tema.

“O relatório mostra de que maneira esse negacionismo está intimamente ligado a outras formas de violência on-line, incluindo aquelas que têm origem no racismo, na misoginia ou na xenofobia. O antissemitismo, o negacionismo e as distorções sobre o Holocausto, assim como outras formas de intolerância e ódio religioso, são um sismógrafo. Hoje, é impossível ignorar essas rachaduras. Este relatório é um alerta urgente que deve nos levar à ação – a buscar a verdade, a memória e a educação – para construirmos juntos um mundo de paz, dignidade e justiça para todos”, diz Guterres.

Alfabetização

O relatório mostra outros números preocupantes. O índice de mensagens de natureza antissemita sobe para 80% nas publicações no idioma alemão e 50% em francês. A estética das mensagens também apresenta inovações, que acendem alertas de entidades de direitos humanos. Muitas delas são passadas através de linguagem de internet, memes e peças humorísticas, o que amplia o alcance. Diante deste problema, a Unesco orienta que governos adotem o desenvolvimento de uma Alfabetização Midiática e Informacional (AMI). Trata-se de um conjunto de estratégias para ensinar a população a reconhecer desinformação, fake news e discursos de ódio.

“A luta contra as distorções e o negacionismo on-line relacionados ao Holocausto deve ser integrada de forma sistemática e abrangente aos planos de ação nacionais contra o antissemitismo e os discursos de ódio”, informa a ONU em nota.

A diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, critica a falta de moderação das redes sociais. “Nós podemos combater esses fenômenos tomando medidas sobre os conteúdos e educando os usuários. A parceria da Unesco com o Facebook e o TikTok, que redireciona os usuários para informações comprovadas, é um exemplo de melhor prática. Contudo, não podemos contar apenas com a participação voluntária das plataformas: também precisamos de princípios e diretrizes comuns”, afirma.

Já o presidente do Congresso Judaico Mundial, Ronald S. Lauder, argumenta que o tema deve ser alvo de ações contundentes de governos democráticos. “Este relatório descreve esse fenômeno preocupante e deixa claro que ele não pode mais ser ignorado. É evidente que, quando as plataformas realizam um esforço conjunto para abordar essa forma específica de discurso de ódio, produzem resultados. Entretanto, é necessário fazer mais para eliminá-lo. À medida que os negadores do Holocausto se tornam mais sofisticados, o mesmo deve acontecer com todos aqueles que trabalham para combater esse mal.”


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