Jornalismo na mira

Reino Unido autoriza extradição de Assange aos EUA; ativista pode passar o resto da vida preso

A ministra do interior do Reino Unido, Priti Patel, aprovou a extradição baseada na sentença do Tribunal Supremo

New Media Days / CC
New Media Days / CC
Todos os grandes meios de comunicação internacionais recorreram às informações reveladas por Assange. Em outras palavras: quem revelou o delito será punido, não o delinquente

Brasil de Fato – A ministra do Interior do Reino Unido, Priti Patel, autorizou nesta sexta-feira (17) a extradição do jornalista Julian Assange para os Estados Unidos. A partir de agora, em solo estadunidense, Assange pode ser condenado a passar o resto de sua vida atrás das grades. Responsável por publicar informações sobre possíveis crimes de guerra dos EUA em suas invasões no Oriente Médio, como o assassinato de civis, o jornalista agora enfrentará o judiciário estadunidense. Assange poderá recorrer.

A decisão contraria pedidos da Anistia Internacional, do Repórteres Sem Fronteiras e do Comissário de Direitos Humanos do Conselho Europeu, Dunja Mijatović.

“A natureza ampla e vaga das alegações contra Assange, e dos crimes listados na acusação, são preocupantes, pois muitos deles dizem respeito a atividades centrais do jornalismo investigativo na Europa e além. Consequentemente, permitir a extradição de Assange sob estas bases teria um efeito desencorajador sobre a liberdade dos meios de comunicação social e poderia, em última análise, dificultar a imprensa no desempenho de sua tarefa de provedora de informação e fiscalizadora pública nas sociedades democráticas”, afirmou Mijatović em carta a Patel.

Por que os Estados Unidos buscam Assange?

Durante o governo de Donald Trump, os Estados Unidos usaram a Lei da Espionagem da Primeira Guerra Mundial para acusar o jornalista de publicar documentos confidenciais do governo. Se condenado, Assange pode receber uma pena de mais de um século atrás das grades. 

Trump e seu governo ficaram especialmente irritados com Assange após o WikiLeaks publicar em um de seus vazamentos, conhecido como Vault 7, informações sobre ferramentas secretas da vigilância dos EUA. Um dos vazamentos é de que a CIA perdeu o controle de ferramentas de espionagem criadas pela inteligência estadunidense.   

De acordo com reportagem investigativa do Yahoo News, após a publicação do Valut 7, o governo dos Estados Unidos discutiu e fez planos para matar ou sequestrar o jornalista

Assange não estava na Embaixada do Equador em Londres?

Assange ficou na Embaixada do Equador no Reino Unido de 2012 até 2019, quando o país latino-americano revogou seu asilo e as autoridades britânicas o prenderam. O jornalista buscou refúgio na instalação diplomática porque alegou que poderia ser extraditado aos Estados Unidos pela Suécia, onde havia um processo de estupro contra o fundador do WikiLeaks.

Em 2019, as autoridades suecas descontinuaram o processo após uma revisão das evidências. Apesar da acusação ter sido descontinuada, Assange continuou refugiado na embaixada porque poderia ser detido por descumprir as regras da condicional que havia permitido sua liberdade em terras britânicas enquanto respondia ao processo da Suécia.

Ainda em 2019, o então presidente do Equador, Lenín Moreno, revogou o asilo de Assange sob a justificativa de que o jornalista teria interferido em assuntos da política doméstica equatoriana. Rafael Correa, antecessor de Lenín Moreno no cargo de presidente do Equador e responsável por conceder asilo a Assange, afirma que o jornalista foi entregue por alinhamento de Moreno com os Estados Unidos e em troca de um acordo do país com o Fundo Monetário Internacional (FMI). 

Sob pedido de uma ordem de extradição dos Estados Unidos, a Polícia Metropolitana de Londres prendeu Assange em 11 de abril de 2019.

Leia também: No Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, entidades pedem soltura de Assange


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