Esperança

Gustavo Petro fala em ‘acordo nacional’ e promete seguir recomendações da Comissão da Verdade colombiana

Presidente eleito, que tomará posse em agosto, procurou adversários e diz que buscará “o máximo de paz possível”

Reprodução/Montagem RBA
Reprodução/Montagem RBA
Gustavo Petro com o ex-presidente Álvaro Uribe e o adversário Hernández: conversas com a direita em busca de pacificação interna

São Paulo – Eleito há 10 dias por margem apertada, Gustavo Petro, futuro presidente da Colômbia, falou em um “acordo nacional” para tentar pacificar o país. Nesta semana, ele já se reuniu com o ex-presidente Álvaro Uribe e com seu adversário no segundo turno, o empresário Rodolfo Hernández, representante da extrema direita. Já Petro, senador e ex-prefeito de Bogotá, é o primeiro político de esquerda a chegar ao poder. A posse será em 7 de agosto. Petro recebeu quase 11,3 milhões de votos, enquanto Hernández teve pouco menos de 10,6 milhões.

“Vamos com segurança a um acordo nacional. Aqui começou a mudança”, escreveu o presidente eleito, de 62 anos, ao postar uma fotografia cumprimentando o candidato derrotado no último dia 19, no segundo turno. “Aqui haverá um acordo da nação.” Sua assessoria também publicou imagem de reunião com Uribe, nome representativo da direita colombiana. Uma conversa “proveitosa e respeitosa”, de acordo com Petro. “Encontramos as diferenças e os pontos em comum.”

Mais de 700 mil mortos

Outro compromisso público de Gustavo Petro foi receber, ontem (28), o relatório da Comissão da Verdade da Colômbia – a Comision para el Esclarecimiento de la Verdad (CEV). “Recebo as recomendações e as cumprirei”, afirmou, ao receber o documento dos mãos do presidente da comissão, o padre jesuíta Francisco de Roux. É o resultado de mais de 28 mil depoimentos sobre o conflito armado interno no país sul-americano. “Se fizéssemos um minuto de silêncio para cada um das vítimas, o país teria que estar em silêncio durante 17 anos”, afirmou o religioso. O atual presidente, Iván Duque, não participou da cerimônia.

De acordo com o documento, de 1958 a 2016 o conflito (político e também relacionado ao narcotráfico) causou a morte de 700 mil pessoas, na maioria jovens, camponeses e civis – apenas 1,5% morreram em combate. E há ainda 110 mil desaparecidos. “Por isso podemos falar de um genocídio na Colômbia”, disse Petro.

Combate à pobreza

Em entrevista ao jornal espanhol El País, o presidente eleito mostrou estar ciente do desafio. Falou em combate à pobreza e reforma tributária. “As reformas se fazem no primeiro ano ou não fazem”, declarou. Ele afirmou ainda que não poderá errar em seu governo. “Se eu falhar, virão as trevas que arrasarão com tudo. Não posso falhar.” À pergunta seguinte, sobre quais seriam as “trevas”, respondeu:

“Era pouco provável que eu pudesse chegar vivo ao final do processo eleitora. Agora, se o meu governo estabelece as condições de transição, o que segue é um uma nova era. Se fracassamos, o que vem, por lei física, é a reação. E uma reação de que Uribe não é o protagonista. Os ciclos vitais mudam. Há círculos organizando-se em redor do fascismo.”

Por isso, Gustavo Petro considera necessário construir um “clima político diferente” no país. “Há que evitar o confronto sectário e abrir um diálogo civilizado. E também há que buscar a paz. O clima político pode incentivar ou amenizar a violência. Um dos meus propósitos é alcançar o máximo de paz possível na Colômbia.”


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