Acordo social

Câmara aprova projeto do governo que aumenta o salário mínimo. No Chile

Piso terá dois reajustes neste ano e pode aumentar novamente em janeiro, dependendo da inflação. Acordo foi resultado de negociação coletiva

Câmara do Chile
Câmara do Chile
Câmara aprova aumento do salário mínimo, que devera atingir 830 mil trabalhadores chilenos e beneficiar a economia. Segundo o governo, é o maior índice em 25 anos

São Paulo – Enquanto o atual governo brasileiro se notabiliza por interlocução zero com movimentos sociais e por reduzir o poder de compra do salário mínimo, o novo governo do Chile aprovou, pela via da negociação, um aumento do sueldo mínimo local. O projeto, resultado de acordo com a Central Unitaria de Trabajadores (CUT), já passou pela Câmara. A negociação inclui ainda a cesta (canasta) básica chilena. “Ambas (as medidas) fruto de grandes acordos sociais com trabalhadores, empresas, pequenas e médias, e autoridades, e se discutem atualmente no Congresso”, afirmou em rede social o presidente Gabriel Boric.

De acordo com o governo, é o maior reajuste (14,3%) para o piso em 25 anos. O Ministério do Trabalho informa que 830 mil chilenos recebem o salário mínimo.

Reajuste em duas etapas

Assim, o chamado Ingreso Mínimo Mensual (IMM), para trabalhadores acima de 18 e até 65 anos, sobe 50 mil pesos neste ano: para 380 mil a partir de 1º de maio e 400 mil em 1º de agosto. Caso a inflação acumulada em 12 meses até dezembro supere os 7%, o salário mínimo vai a 410 mil em janeiro de 2023. O Estado deverá conceder uma compensação transitória a micro, pequenas e médias empresas (responsáveis por mais da metade do emprego disponível no Chile) para ajudar a absorver o impacto do aumento.

Quatrocentos mil pesos correspondem a aproximadamente US$ 460. O mínimo brasileiro (R$ 1.212) vale hoje em torno de US$ 236. O governo brasileiro acabou com a política de valorização do piso nacional. E o jornal O Globo informou que o mínimo perderá poder de compra pela primeira vez desde a implementação do Plano Real. Além disso, a inflação crescente atinge principalmente preços de produtos básicos e corrói o poder de compra.

Linha da pobreza

“Pela primeira vez, incluímos entre os benefícios trabalhistas um complemento à Asignación Familiar (um subsídio para a população mais vulnerável) pelo custo da cesta básica de alimentos”, afirmou o ministro da Fazenda, Mario Marcel Cullell. “Esta é uma inovação importante, porque nos dá uma forma de mitigar e combater a inflação que não tínhamos no Chile.”

“Consideramos este ponto um avanço significativo, não apenas porque injeta recursos diretamente no bolso das e dos trabalhadores em curto prazo, mas também porque nos aproxima muito mais do esforço que pedimos ao governo de chegar, antes do final de mandato, a um salário mínimo que esteja sobre a linha da pobreza”, afirma a CUT chilena, em nota. “Entendemos que este reajuste do IMM é histórico, já que os valores acordados significam um incremento percentual que não se havia dado os últimos 25 anos.”