FASCISMO GLOBAL

Ascensão de extremistas e invasão ao Capitólio afetam a imagem dos Estados Unidos como democracia

Professor da PUC-SP Reginaldo Nasser destaca que Trump ainda tem muita influência no Partido Republicano e também sobre a sociedade estadunidense, fato tido como “preocupante”

Unicorn Riot/Twitter
Unicorn Riot/Twitter
No crime que completou um ano, 727 americanos foram indiciados pelo governo local por adesão à violência. Menos de 30 já receberam sentenças com penas de prisão relativamente leves

São Paulo – A invasão de extremistas de direita ao Capitólio dos Estados Unidos, incentivada pelo então presidente Donald Trump, completou um ano na última quinta-feira (6). Segundo o professor livre docente de Relações Internacionais da PUC-SP Reginaldo Nasser, o episódio, entre outros fatores como o crescimento do extremismo, derrubou a “máscara da democracia perfeita” do país.

Ontem, o presidente do EUA, Joe Biden, criticou seu antecessor e disse que, pela primeira vez, um presidente tentou impedir a transição política com uma multidão violenta. Em resposta, Donald Trump acusou seu sucessor de tentar dividir a população dos Estados Unidos. A invasão ao Capitólio, em janeiro de 2021, ocorreu quando era realizada a sessão conjunta do Congresso que confirmaria a vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais de 2020. Pelo menos dois manifestantes e três policiais morreram nos dias seguintes ao ataque. Nos meses seguintes, outros quatro agentes de segurança que defenderam o local se suicidaram.

Para o professor, os Estados Unidos se vendem como guardiões da democracia, mas produzem figuras como Trump, que incentivam uma invasão violenta como a ocorrida um ano atrás. “Eles parecem uma democracia, mas se olharmos no século 19, o país convivia com a escravidão e já se vendia como democracia. Além disso, vivem sob profunda desigualdade, promovem ataques a outros países e tem um racismo institucionalizado. Com o episódio do Capitólio, com um ex-presidente instrumentalizando essa ação, cai a máscara da democracia perfeita”, afirmou o especialista internacional, em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual.

Perfil dos extremistas estadunidenses

Durante a homenagem prestada por Biden, diversos parlamentares republicanos presentes ao ato não respeitaram o minuto de silêncio pelos mortos no episódio. Reginaldo Nasser acredita que Trump ainda tem muita influência no Partido Republicano e também sobre a sociedade estadunidense, o que considera como “preocupante”, pois é uma parte considerável da população. De acordo com uma pesquisa do cientista político Robert Pape, da Universidade de Chicago, 21 milhões de americanos compartilham duas convicções: Joe Biden “roubou” a eleição de 2020 e é justificável cometer atos violentos para restaurar a presidência de Donald Trump.

“Olhando as pesquisas, dá para perceber que ele ainda tem muito apoio e o partido está rachado. Para os democratas, isso é bom. Ao mesmo tempo, também é preocupante, porque é uma parte muito extremista que ainda tem apoio. Há milhões de pessoas que entendem que a eleição foi roubada e defendem a violência”, explicou Nasser.

No crime que completou um ano, 727 americanos foram indiciados pelo governo local por adesão à violência. Menos de 30 receberam sentenças com penas de prisão relativamente leves. O estudo revelou que seis em cada sete dos presos não têm afiliação a grupos da chamada franja ideológica, como os neonazistas que marcharam em Charlottesville na Virgínia, em 2017.

“A pesquisa da Universidade de Chicago aponta que essa tendência ocorre desde a eleição de Obama, quando diziam que a nação deles havia ‘sequestrada’ por negros e estrangeiros. Já sobre o atentado ao Capitólio, a maioria não fazia parte de nenhuma organização, mas existe a possibilidade destas pessoas se filiarem e se organizarem ainda mais”, alertou.

Confira a íntegra da entrevista: