América Latina

Eleição presidencial no Chile deve levar ultradireita e esquerda ao segundo turno

Entre os sete candidatos, nenhum ultrapassa 30% de intenções de voto: lideram as pesquisas José Kast e Gabriel Boric

Reprodução Instagram
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Com pesquisas apontando empate técnico, eleição no Chile será decidida por eleitores que tiverem mais disposição de ir às urnas. Kast (dir) e Boriq (esq) lideram

São Paulo – O Chile realiza neste domingo (21) a primeira eleição presidencial dos últimos 16 anos que não terá nem o atual presidente, Sebastian Piñera, nem a anterior, Michelle Bachelet, entre os candidatos. São sete os políticos na disputa, mas nenhum ultrapassa os 30% nas intenções de voto. Além disso, as pesquisas para a presidência do Chile apontam apenas o ultradireitista José Antonio Kast (Partido Republicano) e o esquerdista Gabriel Boric (Convergência Social) em condições de ir ao segundo turno, e em situação de empate. Na quarta-feira (17), o instituto Data influye trouxe Boric com 32% e Kast com 27%. Já no dia seguinte, levantamento da Criteria dava 24% para o candidato da esquerad e 23% para o direitista.

Alguns fatores importantes podem desempatar essas intenções. Primeiro, o volume de indecisos, que de acordo com as mais variadas pesquisas oscila entre 25% e 50%, segundo informa a agência AFP. Segundo, quais eleitores estarão mais dispostos a comparecer às urnas e decidir o resultado, uma vez que o voto no Chile é facultativo. E terceiro, a força da juventude que tem sacudido o país na última década em busca de mudanças. Segundo pesquisa da CNN, 77% dos jovens estaria dispostos a comparecer.

Isso faz com que a participação na eleição deste domingo no Chile seja determinante na definição de quem irá ao segundo turno, no dia 19 de dezembro. No plebiscito do ano passado sobre a Constituinte, auge da pandemia, a participação popular ficou em 51%.

Além do novo presidente da República, os chilenos que forem às urnas escolherão também senadores, deputados e conselheiros regionais. Concorrem mais de 4.400 candidatos para 485 cargos eletivos. Como Brasil, o mandato para o Senado é de oito anos e a eleição, dessa forma, só ocorrerá em nove das dezesseis regiões do país.

Privatizações x educação gratuita

Em entrevista do g1, o cientista político Javier Sajuria avalia que vencerá o candidato que tiver a menor rejeição. Ele lembra, ainda, que o novo presidente não estará envolvido diretamente na elaboração da nova Constituição. Mas o plebiscito para aprová-la vai ocorrer durante seu mandato e ele poderá influenciar nessa votação.

Apesar de estar no espectro político do norte-americano Donald Trump, de Jair Bolsonaro e do argentino Javier Milei, Kast não usa o mesmo tom agressivo. O advogado é filho de imigrantes alemães que chegaram ao Chile em 1951. Seu programa de governo propõe reduzir impostos, a presença do Estado nas instituições e privatizar estatais. Pretende eliminar o Ministério da Mulher e da Equidade de Gênero. A exemplo de outros ultradireitistas eleitos, Kast é adepto das fake news que usou para falar contra o aborto.

Sob a aliança que reúne o Partido Comunista e a Frente Ampla, Boric foi dirigente estudantil, eleito deputado pela primeira vez em 2014. Aos 35 anos, considera-se herdeiro das reivindicações dos jovens que em outubro de 2019 manifestaram seu descontentamento com o governo em grandes passeatas e protestos. Quer mudanças estruturais no Chile como para o sistema privado de pensões, com o qual pretende acabar “para torná-lo mais justo”. Seu programa de governo prevê educação gratuita de qualidade. Essa é a principal reivindicação entre os chilenos mais jovens, que são obrigados a se endividar pelo resto da vida para pagar a universidade.

Outros candidatos

A eleição presidencial do Chile conta ainda com o candidato Franco Parisi (Partido da Gente). Também da direita, fez toda sua campanha a partir dos Estados Unidos, onde mora, e tem 10% das intenções de voto. Yasna Provoste (Partido Democrata Cristão) tem 9%. Única candidata mulher, representa os valores da Concertação de centro-esquerda que liderou a transição democrática após a saída de Pinochet, em 1990. Promete reconstruir o Chile “depois do seu pior governo”, como se refere ao atual presidente Sebastián Piñera.

Sebastián Sichel (Independente), ex-ministro de Desenvolvimento Social de Piñera, conta com 8% nas pesquisas. Marco Enriquez-Ominami (Partido Progressista), tem 5%. E Eduardo Artés (União Patriótica), 2%.