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Depoimento de ex-funcionária aumenta cerco ao Facebook

“Só o Facebook sabe como personaliza seu feed. Esconde-o atrás de paredes que mantêm os olhos de pesquisadores e reguladores afastados para impedi-los de entender a verdadeira dinâmica do sistema”, afirmou Frances Haugen no Senado dos Estados Unidos

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"No momento, não há ninguém para responsabilizar Mark (Zuckerber) por suas próprias ações", aponta ex-funcionária Frances Haugen

São Paulo – O depoimento da ex-funcionária do Facebook Frances Haugen no Senado dos Estados Unidos, nesta terça-feira (6), foi mais um golpe na já abalada reputação da corporação. Ela é responsável por documentos vazados e publicados pelo Wall Street Journal, mostrando que a empresa teria priorizado o “crescimento em detrimento da segurança” dos usuários.

A audiência ocorreu um dia após um apagão histórico de seis horas que atingiu as principais plataformas da companhia, Facebook, Instagram e Whatsapp. Frances Haugen, de 37 anos, trabalhou por quase dois anos na empresa de Mark Zuckerberg participando de uma equipe responsável pelo monitoramento da contraespionagem. Entre os documentos a que ela teve acesso estão estudos internos evidenciando que o Instagram pode causar danos à saúde mental de adolescentes, principalmente garotas, e a companhia, mesmo ciente disso, nada fez a respeito. Também indicam que houve resistência por parte da corporação em alterar algoritmos para combater a disseminação de notícias falsas.

Os dados do relatório, divulgado internamente em março de 2020, apontam que “32% das meninas adolescentes disseram que quando se sentiam mal com seus corpos, o Instagram as fazia sentir pior”. Em 2019, outro relatório afirmava: “Pioramos os problemas de imagem corporal em uma em cada três adolescentes” e também que “adolescentes culpam o Instagram pelo aumento da taxa de ansiedade e depressão”.

“O Facebook estudou um padrão que eles chamam de uso problemático, mas que podemos simplesmente chamar de vício”, apontou Frances na audiência, ressaltando que entre 5 e 6% dos adolescentes de 14 anos têm a autoconsciência para admitir tal dependência, mas é provável que o problema tenha um alcance muito maior, segundo ela.

A ex-funcionária comparou a atuação da corporação com a indústria do cigarro. “Só o Facebook sabe como personaliza seu feed. Esconde-o atrás de paredes que mantêm os olhos de pesquisadores e reguladores afastados para impedi-los de entender a verdadeira dinâmica do sistema. Quando as empresas de tabaco alegaram que os cigarros filtrados eram mais seguros para os consumidores, os cientistas foram capazes de invalidar independentemente essa mensagem de marketing e confirmar que eles, de fato, representavam uma ameaça maior à saúde humana. Mas hoje não podemos fazer esse tipo de pesquisa independente do Facebook. Temos que confiar que o que o Facebook diz é verdade, mas eles têm mostrado repetidamente que não merecem nossa confiança.”

Centralização do poder de Mark Zuckerberg no Facebook

Frances Haugen também destacou em seu testemunho o papel desempenhado pelo CEO Mark Zuckerberg, na forma de atuação da companhia.

“Mark tem um papel muito único na indústria de tecnologia porque detém mais de 55% de todas as ações com direito a voto no conselho de administração do Facebook. Não há outras grandes empresas em que o poder seja distribuído de forma semelhante, tão controlada unilateralmente. E, no final, a responsabilidade é do Mark. No momento, não há ninguém para responsabilizar Mark por suas próprias ações”, disse.

Em carta direcionada a seus funcionários e divulgada nesta quarta-feira (6), Zuckerberg rebateu parte das acusações. “Não é verdade que priorizamos benefícios sobre segurança e bem-estar”, disse. “Acho que a maioria de nós não reconhece a falsa imagem da empresa sendo pintada.”

“Não conheço nenhuma empresa de tecnologia que se propõe a construir produtos que deixem as pessoas com raiva ou depressão”, afirmou, a despeito de diversas pesquisas independentes mostrarem que o conteúdo que obtém mais visibilidade dos algoritmos do Facebook e outras redes sociais é o mais polarizado e extremo.

Com informações de El Diario

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