Desigualdade abissal

Taxa sobre lucros de bilionários na pandemia garantiria vacinas a todos os adultos do mundo

Recursos seriam suficientes ainda para assegurar uma uma bolsa de US$ 20 mil em dinheiro a todos os trabalhadores desempregados, de acordo com análise divulgada na quinta-feira (12) pela Oxfam Internacional

Arquivo EBC/Reprodução
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Grupo de pouco mais de 2 mil pessoas acumulam mais fortuna que o PIB de países como Espanha e Austrália

São Paulo – Uma taxa de 99% que recairia estritamente apenas sobre os lucros adicionais que os 2.690 bilionários do planeta tiveram em função da pandemia, seria suficiente para vacinar toda a população adulta do mundo e ainda assegurar uma uma bolsa de US$ 20 mil em dinheiro a todos os trabalhadores desempregados, de acordo com uma análise divulgada na quinta-feira (12) pela Oxfam Internacional.

O tributo emergencial conseguiria levantar US$ 5,4 trilhões e ainda deixaria os bilionários US$ 55 bilhões mais ricos do que antes do início da pandemia de covid-19. Hoje, este seleto grupo possui um patrimônio líquido coletivo de US$ 13,5 trilhões – acima dos US$ 8 trilhões de antes da eclosão do novo coronavírus, um ganho de quase 69%. 

A Oxfam aponta que a riqueza de Jeff Bezos, da Amazon, por exemplo, aumentou em US$ 79,4 bilhões durante a pandemia, passando de US$ 113 bilhões em março de 2020 para US$ 192,4 bilhões atualmente. A riqueza dos bilionários cresceu mais nos últimos 17 meses do que nos últimos 15 anos, e 325 novos bilionários se juntaram ao clube no período, o equivalente a quase um novo bilionário por dia.

Até agora, menos de 1% das pessoas em países de baixa renda receberam vacina contra a covid-19, enquanto os lucros obtidos pela chamada Big Pharma fizeram com que os CEOs da Moderna e da BioNTech se tornassem bilionários. A crise empurrou mais de 200 milhões de pessoas e 11 pessoas morrem de fome e desnutrição a cada minuto, superando as óbitos ocasionados diretamente pelo coronavírus.

Mais impostos para bilionários

Organizações da sociedade civil, a ONU, o FMI e o Banco Mundial estão pedindo a implementação de “impostos de solidariedade” únicos e taxações sobre a riqueza de longo prazo direcionados aos super-ricos, com o objetivo de mitigar os impactos econômicos da pandemia e reduzir as desigualdades. Nesse sentido, um dos exemplos citados pela Oxfam é o da Argentina, que adotou um imposto extraordinário aplicado a grandes fortunas que gerou cerca de US$ 2,4 bilhões para pagar a recuperação do país. 

“O bilionário Jeff Bezos poderia pagar pessoalmente por vacinas suficientes para todo o mundo, mas preferiu gastar sua fortuna em uma viagem emocionante ao espaço”, lembra o diretor de Política de Desigualdade Global da Oxfam Internacional Max Lawson. “A covid-19 está transformando a lacuna entre ricos e pobres em um abismo intransponível.”

“A riqueza do bilionário não é conquistada. Os bilionários estão lucrando com a dor e a dificuldade dos trabalhadores. É o dinheiro deles ‘ganho’ com o seu suor – e já é hora de o suor começar a valer a pena. Os governos precisam tributar os ricos para que tenhamos alguma chance de reverter a crise de desigualdade em que estamos”, aponta a coordenadora pan-africana da Fight Inequality Alliance, Njoki Njehu.

Com informações da Oxfam Internacional


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