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Após derrotar reforma, protestos na Colômbia miram violência policial

Colombianos seguem nas ruas pelo décimo dia seguido para protestar contra repressão policial que já resultou em 37 mortos e centenas de feridos

Reprodução/Alberto Fernández
Reprodução/Alberto Fernández
Mesmo diante de recuo do presidente Iván Duque, principais cidades colombianas registram protestos há mais de uma semana

São Paulo – Nesta quinta-feira (7), Bogotá viveu mais uma noite de brutal repressão por parte do Esquadrão Móvel Antidistúrbios (Esmad). Com blindados, motos, bombas de gás e tiros, os policiais atacaram uma vigília que estava sendo realizada em homenagens às vítimas da repressão policial contra os manifestantes que estão em protestos nas ruas da Colômbia desde o último dia 28 de abril. Mais cedo, lideres das centrais sindicais, movimentos sociais e estudantes haviam se reunido com senadores para pedir o fim das agressões contra os manifestantes.

De acordo com a plataforma Grita, que monitora episódios de violência policial, a repressão aos protestos resultou no assassinato de 37 pessoas. Em todo o país, mais de 234 manifestantes foram agredidos pelos policiais. Foram registrados 98 casos de disparos com arma de fogo por parte dos agentes policias. As acusações contra as tropas da Esmad também incluem mais de uma dezena de casos de violência sexual.

No encontro com os parlamentares, o diretor de Direitos Humanos da Central Unitária de Trabalhadores (CUT) colombiana, Omar Moreno, responsabilizou o governo do presidente Iván Duque pela espiral de violência deflagrada nas ruas das principais cidades colombianas, como Cali e Medelín, além da própria capital. “Eles perseguem, reprimem, ferem e assassinam não apenas lideranças masculinas e femininas, mas também atiram indiscriminadamente contra a população em geral”, disse.

Reforma derrotada 

As mobilizações começaram no último dia 28. Os colombianos foram às ruas contra o projeto de reforma tributária do governo Duque. A proposta previa o aumento de imposto de renda para trabalhadores que ganham acima de três salários mínimos. Além disso, incluía também o aumento das tarifas públicas de serviços como água, gás e energia elétrica.

Diante dos protestos massivos, Duque foi obrigado a recuar. No último domingo (2), o presidente anunciou a retirada do projeto de reforma tributária. No dia seguinte, o ministro da Fazenda, Alberto Carrasquilla, autor da proposta, pediu demissão. Ainda assim, os manifestantes permaneceram nas ruas. Eles reivindicam agora a dissolução da Esmad, e a responsabilização dos policiais pelos crimes cometidos durante a repressão aos protestos na Colômbia.

Por outro lado, a crise social na Colômbia foi agravada pela pandemia. Desde o ano passado, foram mais de 76 mil mortes em decorrência da covid-19. Enquanto o país vive o recrudescimento do número de casos e mortes desde meados de abril, apenas cerca de 10% dos colombianos foram vacinados. O PIB colombiano caiu 6,8% em 2020. E o desemprego atinge 17% da população ativa.

Apoio internacional

Nesta sexta-feira (7), estão marcados atos em diversas cidades da América Latina e Europa em solidariedade às vítimas da repressão policial na Colômbia. Além disso, a IndustriALL Global Union, juntamente com outros sindicatos globais, enviou carta à Organização dos Estados Americanos (OEA), denunciando a violência ocorrida. “É um momento de muita apreensão, em que é preciso mostrar toda solidariedade ao povo colombiano”, afirmou o secretário-geral da IndustriALL, Valter Sanches, em entrevista ao Jornal Brasil Atual.

Por outro lado, o dirigente destacou o histórico de violência na sociedade colombiana. Nesse sentido, ele comparou a atuação da Esmad às milícias paramilitares que espalhavam o terror ao longo na décadas de 1980 e 1990, em disputa com as guerrilhas rurais no interior do país. “A Colômbia é um dos países que mais mata líderes sociais e sindicalistas. Uma média de 200 ativistas assassinados por ano. É realmente muito preocupante”.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira – Edição: Helder Lima