Estados Unidos

Biden completa 100 dias na presidência dos EUA: veja quais promessas foram cumpridas

Democrata atingiu 54% de aprovação popular nos primeiros dias de gestão, cifra inferior a de antecessores de seu partido

White House/Flickr
White House/Flickr
Socorristas e familiares escreveram uma carta cobrando o presidente para que sigilo fosse levantado

Brasil de Fato – O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, completa nesta quinta-feira (29) 100 dias à frente do cargo, com uma marca de 54% de aprovação popular, segundo pesquisa de opinião do projeto FiveThirtyEight. Até agora, obteve a aprovação de 11 leis e 42 ordens executivas, cumprindo algumas promessas que havia anunciado em campanha, enquanto ainda mantém algumas promessas esquecidas.

Pandemia

Conforme disse que faria durante a campanha eleitoral, o presidente democrata criou uma força-tarefa para conter os contágios da covid-19 e distribuiu 200 milhões de doses de imunizantes em todo o país. Até o momento, 114,8 milhões de estadunidenses foram vacinados, equivalente a 42% da população. Essas cifras foram alcançadas enquanto os Estados Unidos exportaram menos de 10% da sua produção nacional.

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O quadro, se positivo por um lado, provoca críticas por outro. “Os Estados Unidos estão concentrando as vacinas, enquanto deixam no limbo os países do Sul global. E vemos os ataques contra China e Cuba que estão fazendo o impossível para salvar vidas”, afirma Claudia de la Cruz, militante da Assembleia Internacional dos Povos (AIP) nos Estados Unidos.

Equipes de especialistas, chamadas de tanques de pensamento (think tanks), que assessoram a Casa Branca, apontam que os EUA precisam tomar o lugar da China como principal fornecedor de imunizantes, dentro da disputa geopolítica pela posição de maior potência global.

Atualmente, Biden promete enviar 60 milhões de doses da vacina da Astrazeneca para a América Latina. Em março, foram enviadas 2,5 milhões de doses ao México. 

O democrata também anuncia investimentos na contenção da pandemia internamente. De acordo com a Casa Branca, os Centros para Controle e Prevenção de Doenças receberão nos próximos meses US$ 8,7 bilhões em recursos suplementares, o que o governo diz ser o maior aumento em duas décadas.

Apesar do sucesso na contenção da crise sanitária, a diretora da organização The People’s Forum, Claudia de La Cruz, assegura que Biden está longe de ser um presidente popular.

“Biden não ganhou por ser o melhor candidato para o povo dos Estados Unidos ou porque o povo entendia que era uma opção que representava os interesses das maiorias, ganhou porque para muitos era menos doloroso vê-lo ganhar no lugar de Donald Trump, e para outros assegurava os interesses da classe dominante melhor que Bernie Sanders (candidato derrotado nas prévias do Partido Democrata nas últimas eleições)”, analisa.

Estados Unidos bateram recorde de pobreza durante a pandemia, com 8 milhões de pessoas na miséria / Peter Peterson Foundation

Economia

O chefe da Casa Branca anunciou recentemente o Plano Biden, que prevê o desembolso de US$ 4,15 trilhões (aproximadamente R$ 20,7 trilhões), equivalente a 20% do PIB anual dos EUA, para a recuperação econômica do país.

Pelo tamanho do desembolso, o projeto tem sido comparado com o New Deal, do ex-presidente Franklin Delano Roosevelt, posto em prática para socorrer a economia depois da Grande Depressão de 1929.

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O pacote está dividido em duas partes, a primeira inclui US$ 1,9 trilhão (cerca de R$ 9,5 trilhões) para ajudar pequenas empresas e pagar auxílio emergencial aos mais pobres, além de estender o período de seguro-desemprego.

A segunda parte compreende um plano de investimento em infraestrutura, chamado de Plano de Emprego Americano, no valor de US$ 2,25 trilhões distribuídos, nos próximos oito anos, entre infraestrutura geral e residencial. O valor seria financiado com o aumento de 21% para 28% do imposto corporativo. Se conseguir aprovar essas mudanças irá cumprir outra promessa de campanha que era de aumentar os impostos aos empresários.

Esse valor servirá para fornecer internet à população rural, renovar estradas até realizar incentivos à pesquisa e ao desenvolvimento de fontes de energia limpa.

Na última terça-feira (27), Biden assinou um decreto aumentando o salário mínimo para prestadoras de serviço federais de US$ 7 a US$ 15 por hora. 

“Essas ações são mínimas, realmente tocam a superfície da crise econômica, que é muito profunda. Temos mais de 40 milhões de desempregados e mais de 45 milhões de desalojados”, denuncia Claudia de La Cruz.

Com cúpula do clima, Joe Biden busca reposicionar discurso de economia verde no mundo para reativar mercado nacional / Reprodução

Mudança Climática

Na última semana, Biden concluiu outra de suas promessas centrais de campanha que era convocatória de uma Cúpula do Clima. Durante o encontro entre líderes, prometeu reduzir as emissões de gases do efeito estufa em pelo menos 50% até 2030.

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Além disso, revogou decretos de Trump, retornando ao Acordo de Paris e cancelou a construção do oleoduto Keystone.

Para o próximo ano fiscal aumentou em US$ 14 bilhões o orçamento da pasta. A “economia verde” será o carro-chefe da reativação econômica dos Estados Unidos, segundo porta-vozes da gestão Biden.

Migração

Apesar de que no primeiro dia de mandato emitiu um decreto que ampliava o programa de Ação para Chegada de Crianças (DACA – sigla em inglês) – aumentando os prazos para entrega de documentos e permissões de trabalho – o tema migratório é o ponto fraco da gestão, segundo a opinião pública estadunidense.

Biden manteve o limite de entrada de 15 mil refugiados, estabelecido por Trump, apesar de ter prometido que aumentaria para 62,5 mil.

O democrata também se apoiou em regras estabelecidas pelo republicano para aumentar as deportações. Até março, 60% dos 171 mil imigrantes que cruzaram a fronteira sul do país foram deportados e cerca de 4 mil permanecem detidos.

A gestão bateu recorde de crianças e adolescentes desacompanhados detidos nas unidades do sistema migratório. Até março eram 18.890 jovens presos – a maior cifra dos últimos 20 anos.

Em março, Estados Unidos tiveram o dobro de crianças e adolescentes desacompanhados detidos nos postos de imigração / Dlatinos

Em fevereiro, Biden criou uma força-tarefa para ajudar a identificar crianças separadas de seus pais e reunir as famílias. No entanto, até o início de abril, nenhuma família havia sido reunida.

Em relação ao muro fronteiriço entre Estados Unidos e México, o mandatário havia estabelecido um prazo de 60 dias para revisar o projeto. Até o momento, não enviou mais recursos, mas não suspendeu as obras.

Também durante os primeiros dias de gestão propôs um projeto de lei  para legalizar a situação de imigrantes que entraram no país de maneira irregular, que desde então está parado no Congresso.

Os pactos de migração com o México e as nações da América Central terão um orçamento de US$ 861 milhões para o próximo ano.

Organizações sociais questionam que a maior parte da verba é direcionada para aumentar a patrulha nas fronteiras ao invés de atacar os motivos que provocam a imigração: desemprego, pobreza e violência nos países de origem.

O governo mexicano já enviou 10 mil soldados a mais para vigiar sua fronteira, enquanto Honduras mandou 7 mil efetivos e Guatemala deve deslocar mais 1,5 mil homens aos 12 postos de controle fronteiriço.  

Política exterior

Este talvez seja o aspecto em que a administração Biden mais se assemelha à gestão do seu antecessor republicano. Nos primeiros dias de mandato, o Pentágono voltou a bombardear a Síria, revivendo a guerra, que já dura dez anos.

No orçamento do próximo ano fiscal dos EUA, o presidente aumentou em 1,7% as verbas para defesa, chegando a US$ 753 bilhões, sete vezes superior ao valor destinado para financiar a educação.

“Vemos uma reafirmação da agenda imperialista dos EUA. Em geral, os democratas nunca abandonaram essa posição de guerra”, aponta de La Cruz.

Além disso, o democrata não retrocedeu na guerra comercial contra a China, apontando o país asiático como o principal adversário dos EUA. Já nos primeiros meses de gestão, nomeou uma embaixadora da ONU com um histórico “anti-China” e emitu novas sanções acusando suposta violação de direitos humanos no território chinês.  

“Esses ataques à China representaram um aumento dos crimes de ódio contra os imigrantes asiáticos dentro dos Estados Unidos”, afirma Claudia de La Cruz.

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Por outro lado, também aumentou a tensão com a Rússia, acusando o presidente Vladimir Putin de ser um “assassino”, emitindo novas sanções e expulsando dez diplomatas russos de Washington.

Biden também havia prometido reativar as negociações com o Irã sobre o Acordo Nuclear, assinado em 2015 durante a gestão Obama, e abandonado por Trump. Outra promessa que não se cumpriu.

Além disso, há menos de uma semana, Joe Biden anunciou a criação de um Centro de Controle de Influências Malignas, subordinado à Agência Central de Inteligência (CIA), para conter a “influência da Rússia, Irã, Coreia do Norte e China”.

James Story, encarregado de negócios dos Estados Unidos com a Venezuela, e Juan Guaidó / Reprodução

Em relação à América Latina, Washington continua reconhecendo o autoproclamado Juan Guaidó como presidente encarregado da Venezuela e concedeu o Status de Proteção Temporal (TPS – siglas em inglês) a 320 mil venezuelanos residentes nos EUA.

“No caso do conflito na fronteira entre a Colômbia e a Venezuela, Biden não só aproveitará, como seguirá criando as condições para um possível ataque contra a Venezuela, contra Cuba e Bolívia”, defendeu.  

Apesar das expectativas logo após sua eleição, Joe Biden também não reatou a negociações de retomada de relações diplomáticas com Cuba, interrompidas ou até anuladas durante a gestão republicana.


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